As populações das aldeias de Monteiros, Vila Pouca de Aguiar, e Veral, Boticas, reclamaram hoje a reposição da centenária ponte de arame que as une e que vai ser retirada devido ao enchimento da barragem do Alto Tâmega.

Residentes de Veral atravessaram esta manhã a ponte sobre o rio Tâmega, tendo alguns vizinhos de Monteiros à espera do outro lado. A chuva não demoveu os populares que marcaram para este domingo um almoço convívio na aldeia de Monteiros.

O encontro serviu também para sensibilizar a Iberdrola e o Governo para a necessidade de encontrar uma “solução viável” para a travessia do rio Tâmega e a manutenção das relações de proximidade entre os habitantes das duas aldeias.

É uma ponte de memórias e histórias de vida. Os residentes trabalham de um lado e do outro, cultivam terrenos de ambos os lados e partilham festas e encontros.

Residente em Monteiros, David de Jesus disse que utiliza muito a ponte pedonal até para ir cultivar os terrenos que tem do lado de Veral.

“Ficar sem a ponte para nós é uma ruína. Sem a ponte o dinheiro que ganho nos terrenos nem chega para o transporte”, salientou, apontando que pela alternativa rodoviária a distância é de 54 quilómetros, 108 quilómetros ir e vir.

Maria Florinda é de Veral e Joaquim Fernando é de Monteiros e casaram há 30 anos, numa união que aconteceu à boleia da ponte.

“A gente gosta muito desta ponte e gostávamos que fizessem outra para se poder transitar de um lado para o outro”, afirmou Maria Florinda, que mantém familiares e amigos do lado de Veral.

O local onde está atualmente a ponte vai ficar submerso por causa da construção da barragem do Alto Tâmega, inserida no Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET), concessionado à espanhola Iberdrola, e a estrutura vai ser retirada e recolocada numa das margens, mas apenas como valor patrimonial. Os residentes querem uma alternativa para o atravessamento.

“Nós queremos que decidam de vez que a ponte vai ser feita”, afirmou Maria Olímpia Mourão, de Monteiros, que destacou as relações “se sempre” entre as duas aldeias, quer fosse de funerais, batizados ou casamentos.

Adriano Gonçalves é de Veral, tem um terreno em Monteiros, que vai também perder para a barragem e, como construtor civil disse que já realizou muitos trabalhos na aldeia vizinha. “Já refiz esta ponte duas vezes, primeiro porque estava danificada e depois porque, em 2005 ardeu”, sublinhou.

Os presidentes das câmaras do distrito de Vila Real juntaram-se à iniciativa.

“Uma coisa é inevitável, é fazer uma nova alternativa, disso não abdicamos e este convívio é isso mesmo, é para demonstrar a afinidade e a ligação que existe entre as duas povoações e para demonstrar a quem ainda não decidiu, mas que já devia ter decidido, que estas duas povoações precisam desta ligação”, afirmou o autarca de Boticas, Frenado Queiroga.

Alberto Machado, presidente de Vila Pouca de Aguiar, afirmou que “não passa pela cabeça de ninguém de bom senso não repor o que estas populações construíram, sem a presença do Governo, e que agora em nome do país vai ficar submersa.

“Estamos a falar de milhões de euros de produção hidroelétrica que estas barragens vão dar ao país e então duas aldeias, que só têm esta ponte de ligação, vão perde-la quando tanto estão a dar ao país”, frisou.

Argumentos como o elevado custo da infraestrutura e os poucos utilizadores têm sido usados contra a construção de uma nova ponte. Nas duas aldeias vivem cerca de 150 habitantes.

“Num Estado de direito, num Estado que se pretende de coesão territorial, nunca o número de pessoas pode ser motivo para não se fazer qualquer infraestrutura”, frisou Alberto Machado.

Os presidentes lamentam o impasse que se tem verificado quer pela Iberdrola, quer pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e alertaram que, em outubro deste ano, a barragem começa a encher.

“A decisão tem de ser muito rápida”, salientou Fernando Queiroga, que salientou que a ponte também serve “de escapatória” em caso de incêndios florestais.

Os dois autarcas estão disponíveis para contribuir financeiramente com meio milhão de euros, em conjunto, para a reposição da ponte pedonal entre Monteiros e Veral.

O projeto para a nova ponte apresentado pelos municípios para a representa um investimento global de cerca de 2,9 milhões de euros.

Se não for construída uma alternativa, os presidentes das câmaras dizem que podem até avançar para tribunal.

A barragem do Alto Tâmega é a última que falta concluir no âmbito do SET, estando já a produzir energia as barragens de Daivões e Gouvães.




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