Mesmo com o aumento do consumo a nível internacional, os preços de venda no produtor continuam em queda. E há agricultores que preferem deixar as azeitonas nas oliveiras por falta de rentabilidade, apesar de a procura mundial superar a oferta. O INE fala de perdas de mais de 30%

Preço no consumidor desceu mais de 10% desde 2007

Com a fama do azeite como gordura saudável a aumentar no mundo, países onde o seu mercado era pouco mais do que residual começam a importar cada vez mais o ouro verde - nos Estados Unidos o consumo triplicou em menos de 20 anos -, sendo parcialmente responsáveis pela expansão do consumo a que se tem assistido nos últimos anos.

Segundo o Conselho Oleícola Internacional (COI), organização intergovernamental que agrupa os países produtores, o consumo de azeite poderá crescer 97 mil toneladas em 2008/2009, facto que levará mais uma vez a que o consumo supere a produção, mesmo tendo em conta que se prevê um aumento de produção na ordem dos 200 mil toneladas.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) previa no final de Outubro um crescimento de 5% da produção de azeite em Portugal para a campanha que se iniciou a 1 de Dezembro, tendência só acompanhada pela Espanha - de longe o maior produtor mundial - e a Tunísia. No entanto, as condições climatéricas registadas em Novembro poderão ter afectado seriamente previsões ligeiramente optimistas.

Os produtores tunisinos são quem mais poderá lucrar com a safra deste ano, a confirmarem-se as previsões que apontam para um salto de mais de 30% na sua produção, passando das 150 mil toneladas de 2007/2008 para as 200 mil possíveis em 2008/2009.

Se comparado com a Tunísia, Portugal, com as suas 35 a 40 mil toneladas, já é um pequeno produtor, colocado ao lado do gigante espanhol - que deverá atingir 1,2 milhões de toneladas nesta campanha (mais 7,5% do que na anterior) - figura como pigmeu a quem a presença de tal concorrência afecta de sobremaneira.

Recentemente, os produtores de azeite de Trás-os-Montes vieram a público queixar-se da grave crise que afecta o sector porque o preço do quilo da azeitona no produtor em vez de subir, desce, ao contrário das despesas. O lucro minguou tanto, que para alguns nem compensa o esforço. Preferem deixar as azeitonas a apodrecer na oliveira. Em 2007 pagava-se o quilo da azeitona a 40 cêntimos, este ano o preço está em 25 cêntimos.

O INE, na sua primeira estimativa das contas portuguesas da agricultura em 2008, publicada no dia 17, refere que houve um decréscimo de valor da ordem dos 30,4% na produção de azeite nacional.

O preço de mercado do azeite virgem também está em queda. De acordo com os dados do mesmo INE, um litro de azeite virgem pagava-se no final de Setembro a um preço inferior em 10% ao praticado no ano passado. Uma tendência generalizada na UE, dizem os dados do COI: em Espanha desceu 14%, na Itália 22% e na Grécia 30%.

Actualmente, cerca de 95% da superfície oleícola mundial está concentrada na bacia do Mediterrâneo, sendo que Espanha, Itália, França, Grécia e Portugal respondem por 76% da produção mundial. Só a Espanha vale metade do mercado mundial e 70% do da União Europeia.

Os 27 são também os maiores consumidores desta gordura natural, representando cerca de 75% do consumo mundial. Os gregos são os maiores amantes de azeite e azeitonas com 25 kg de consumo anual per capita, ficando-se Portugal pelos sete quilos por pessoa, número que representa um crescimento enorme quando comparado com os 3,3 kg que consumíamos nos anos 90.



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