No distrito de Vila Real, os agricultores fizeram esta tarde duas marchas lentas na aldeia fronteiriça de Vila Verde da Raia, Chaves, e em Salto, Montalegre, para alertar para o baixo rendimento e as dificuldades crescentes nesta atividade.

A meio da tarde, 15 tratores saíram do centro de Vila Verde da Raia e percorreram a estrada municipal 103-5 até à antiga fronteira, cerca de cinco quilómetros, onde fizeram inversão de marcha para a aldeia.

Presos nas máquinas agrícolas traziam cartazes onde se podia ler: “Senhora ministra, o país come o que nós produzimos”, “Agricultores contra a incompetência de quem nos governa”, “Agricultores explorados e arruinados" e “O agricultor luta pela sobrevivência”.

Já em Salto, segundo fonte da GNR, foram cerca de 30 tratores e outros veículos que percorreram em marcha lenta a estrada regional 311 até ao limite do concelho e do distrito de Vila Real com Braga.

“Estamos todos falidos e, agora, com a idade que temos, o que vamos fazer? A agricultura está de rastos, está tudo caríssimo e nós não ganhamos para a despesa, estamos a produzir a baixo custo. Temos mais custos do que receita”, afirmou à agência Lusa Manuel Fernandes, agricultor de 62 anos, residente em Vila Verde da Raia e porta-voz da iniciativa realizada esta tarde.

O produtor de cereais lançou duras críticas ao Governo português e também à União Europeia e, relativamente aos subsídios, salientou que ainda não recebeu o correspondente a 2023.

“Ainda não pagaram nada. Isso é outro problema, mas também não é disso que a gente sobrevive, é uma gota de água”, salientou, apontando para os custos de produção como os combustíveis ou a eletricidade que estão “uma loucura”.

Com a empresa criada em 1990, Manuel Fernandes disse que conseguiu formar as filhas, mas garantiu que hoje “não se consegue viver”.

“Em vez de andarmos para a frente, andamos para trás”, frisou.

Joaquim Rodrigues, produtor de leite de Chaves com 43 anos, juntou-se ao protesto porque o “panorama agrícola atual está muito mau” para os agricultores.

“Estamos a produzir quase abaixo de custo, muita dificuldade em suportar os custos. É uma atividade muito desgastante e que quase não é rentável”, salientou.

Relativamente aos apoios do Estado, Joaquim Rodrigues disse que recebeu “cerca de 10%” daquilo que habitualmente recebia e salientou que, assim, se torna inviável a exploração.

"É complicado. Investimos numa atividade e chegamos a meio da idade ativa de trabalho e temos que desistir porque não conseguimos subsistir com estas dificuldades”, afirmou, referindo que produz cerca de meio milhão de litros de leite por ano.

André Grilo, 36 anos, produtor de cereais, essencialmente milho de Santo Estêvão, disse estar frustrado com o corte nos subsídios na ordem dos 25 a 35%.

“A juntar aos aumentos de produção, estamos completamente lixados. É cada vez mais difícil ser agricultor, porque o pouco dinheiro que se ganha, gasta-se nos custos de produção. Está a ser muito complicado sobreviver da agricultora, nem sabemos o que devemos fazer: abandonar ou continuar a lutar”, sublinhou André Grilo.

Os agricultores estão hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul do país, reclamando a valorização do setor e condições justas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.

O protesto, uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).

O pacote abrange entre outras, medidas à produção, no valor de 200 milhões de euros, assegurando a cobertura das quebras de produção e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.




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