Os empresários de Miranda do Douro pediram hoje ao primeiro-ministro para reabrir de "imediato" a fronteira que liga aquele concelho a Espanha, afirmando que "há graves prejuízos" para a economia local em setores como o comércio e restauração.

A Associação Comercial e Industrial de Miranda Douro (ACIMD,) através de uma carta enviada a António Costa à qual a Lusa teve acesso, garante que "a pandemia tem trazido consequências devastadoras para toda a economia do país, afetando de uma forma mais severa as microempresas de comércio a retalho e a restauração, principalmente no interior raiano.

"Sendo certo que a pandemia afeta todas as empresas, existem umas que são mais afetadas do que outras, e refiro-me aos territórios fronteiriços, que são afetados ainda com mais intensidade, pois o encerramento da fronteira funciona como se nos fechassem a porta de casa, passando a poder entrar e sair apenas pela porta das traseiras", disse o presidente da AICMD, César João.

Segundo o empresário, o concelho fronteiriço de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, tem cerca de duas dezenas de restaurantes que vivem quase em exclusivo dos clientes espanhóis e mais de metade não aproveitou a possibilidade que lhe foi concedida de abrir a 19 de março por manifesta falta de clientes.

"Se a isto juntarmos o facto de tratar-se de territórios de baixa densidade que vivem quase exclusivamente do comércio transfronteiriço, temos os ingredientes suficientes e necessários para que um território definhe por completo. Situação idêntica vive-se no comércio a retalho, em que cerca de metade das lojas também não abriram e não vão abrir até que a fronteira reabra”, vincou o dirigente.

Para César João, até aqui "os empresários destes territórios têm sido autênticos heróis, aguentando com muito sacrifício pessoal e financeiro os postos de trabalho e as empresas, na esperança de que a fronteira iria reabrir no final deste mês de abril".

"Foi com profunda mágoa e até indignação que os empresários destes territórios ouviram o senhor primeiro-ministro afirmar que afasta a reabertura para breve das fronteiras terrestres com Espanha", concretizam o dirigente, na missiva enviada ao chefe do Governo.

Para o presidente da ACIMD, o sentimento dos mirandeses ao ver a fronteira com Espanha fechada assemelha-se ao que os seus compatriotas de Lisboa sentiriam se a ponte 25 de Abril apenas funcionasse duas horas de manhã e outras duas à tarde.

"Acresce que os mirandeses também não entendem a razão do seu encerramento, sendo muito duvidosa a eficácia em termos sanitários, pois trata-se de territórios de muito baixa densidade e em caso algum se verifica a concentração de pessoas como as dos grandes centros como Lisboa, e em Lisboa não fechou a ponte 25 de Abril, logo os mirandeses não entendem esta discriminação negativa" lê-se na missiva.

Para os comerciantes e empresários de Miranda do Douro, a incompreensão e a indignação aumentaram quando a secretária de Estado das comunidades anunciou que foram assinados acordos para o restabelecimento de voos entre Portugal e Angola, e questionam em tom irónico "se o vírus não viaja de avião".

"Sendo os mirandeses gente séria, honrada e respeitadora da Lei e da ordem pública, parece-me que o direito à indignação e até à resistência começam a fazer sentido, razão pela qual fazemos mais uma vez o apelo para que na próxima reunião com o Estado Espanhol não sejam criados entraves a abertura das fronteiras", refere aquele organismo representativo do comércio e indústria deste concelho do Planalto Mirandês.

Os comerciantes do concelho de Miranda do Douro apelam igualmente ao bom senso de António Costa "para que trate as gentes da fronteira de igual forma que trata as gentes do litoral, eliminando a barreira que tira o sustento".

Fotografia: AP



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