Três alunos do primeiro ciclo de uma aldeia do concelho de Chaves estão a deslocar-se à antiga escola para ter aulas à distância pelo menos uma vez por semana, devido à falta de acesso à Internet em casa.

“Devido à cobertura de rede não ser suficiente para terem aulas síncronas em condições, estes três miúdos de Paradela de Monforte estão a deslocar-se para o edifício da junta de freguesia, para já uma vez por semana. Conforme a necessidade, poderão ser mais dias, para terem acesso à Internet e às aulas síncronas [em direto, transmitidas por uma plataforma da internet]”, explicou à agência Lusa o coordenador da Escola de Mairos, do Agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins, de Chaves.

Os alunos do primeiro ciclo, dois do segundo ano e um do primeiro, vivem em Paradela de Monforte, concelho de Chaves, distrito de Vila Real, e frequentam habitualmente a Escola de Mairos, a cerca de seis quilómetros, deslocando-se agora à de Paradela de Monforte, que deixou de funcionar definitivamente em 2007.

Com o regresso do ensino à distância devido à pandemia de covid-19, e sem acesso à Internet em casa, a solução foi encontrada pelo agrupamento em parceria com a junta de freguesia de Paradela de Monforte, que cedeu as instalações da antiga escola.

A junta de freguesia imprime e entrega ainda fichas de trabalhos para os alunos realizaram ao longo da semana em casa.

Nuno Machado adiantou que, no total dos 13 alunos da Escola de Mairos, há seis que ou não têm acesso à Internet ou a meios tecnológicos, e espera o regresso o mais rápido possível ao formato de aulas presenciais.

“Estas soluções são as possíveis, mas não as ideais. Obviamente que gostaríamos de estar na escola. É o local essencial para termos uma educação de qualidade, mas como não é possível, esta foi a forma que conseguimos arranjar para que não ficassem excluídos”, vincou o professor.

Alcina Pires, mãe do Miguel, de sete anos, que frequenta o segundo ano de escolaridade, contou à Lusa que a Internet naquela aldeia não funciona bem “por mais que se tente”.

As tentativas desde o primeiro confinamento, em março de 2020, para melhorar a qualidade da cobertura de rede, não tiveram efeito.

“É difícil acompanhar as aulas ‘online’ por está sempre a falhar a Internet. Nós, os pais, tememos que os meninos fiquem atrasados e há coisas que queremos ensinar, mas não conseguimos”, realçou.

A flaviense lembrou ainda que o lugar das crianças é nas escolas, o “sítio onde devem aprender”.

Nídia Cunha, avó do Francisco, de sete anos e também a frequentar o segundo ano, salientou que o problema do acesso ao computador foi resolvido, mas que as falhas na Internet não.

“Nunca conseguimos resolver. Tem sido difícil para ele, pois sente-se melhor na escola e em casa não aprende nada. Por mais que o tente ensinar, há coisas que devem ser dadas por um professor”, confessou.

O Agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins, um dos três do concelho de Chaves, concentra um universo total de dois mil alunos, desde o pré-escolar até ao 12.º ano.

À agência Lusa, o diretor do agrupamento, Joaquim Tomaz, explicou que há cerca de cem alunos “sem as condições ideais para trabalhar”, seja por falta de computador, de acesso à Internet, pouca cobertura de rede ou mesmo por causa das famílias que não controlam a ida às aulas ‘online’ dos filhos.

“Estamos a trabalhar com todos os recursos da escola, quer materiais quer humanos, para resolver todas as situações. Temos que, dia a dia, tentar minimizar e fazer o mais possível”, disse, realçando que este não é um problema exclusivo nas aldeias do concelho e que também na cidade falta acesso a meios para o ensino à distância.

Joaquim Tomaz apontou ainda que há famílias em que já se notam as dificuldades económicas devido à pandemia e que, mesmo tendo computadores, sentem dificuldades para pagar a Internet.

Acrescentou que nas aldeias raianas é mais fácil ter acesso à televisão espanhola do que à portuguesa, o que dificulta o acesso à telescola.

DYMC // AC Lusa

Foto: https://chaves.blogs.sapo.pt/509226.html



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