Chrys Chrystello

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Sem leitores não há intelectuais

Crónica 215 sem leitores não há intelectuais 16.10.2018

Jürgen Habermas: “Não pode haver intelectuais se não há leitores” (Para a figura do intelectual, tal como a conhecemos no paradigma francês, de Zola até Sartre e Bourdieu, foi determinante uma esfera pública cujas frágeis estruturas estão experimentando agora um processo acelerado de deterioração. A pergunta nostálgica de por que já não há mais intelectuais está mal formulada. Eles não podem existir se já não há mais leitores aos quais continuar alcançando com seus argumentos.)

Ora até ler isto pensava poder pertencer a essa elite capaz de poder mobilizar massas e ter uma voz que fosse ouvida e seguida por aqueles que acreditam que o mundo ainda pode ser emendado, remendado, reparado, consertado, corrigido retificado, mas agora começo a duvidar.

A repetição cíclica da História, corrupção endémica, a injustiça, autonomias e nacionalismos, a imigração, a erosão europeia e a crise da filosofia junto com a degradação global da educação foram sempre temas que me fascinaram e aos quais dediquei páginas sem fim ao longo de décadas….nenhuma delas chegou a ter força de lei ou teoria que vingasse, por mais inteligentes, lógicos e racionais que pudessem ser. E a razão disse-a Habermas, sem leitores não há intelectuais.

 

E, se em vida, nada consegui quanto á propagação e difusão dessas ideias, não será, depois de morto e desconhecido que elas se reproduzirão, ao contrário desse outro autor que foi Fernando Pessoa... e ainda há poucos dias alguém dizia o que sempre tenho dito, se nem os meus filhos leram, alguma vez, alguma ora minha, como posso esperar ter leitores?

 

Cito Habermas, de novo: “a figura histórica do intelectual ganhou importância junto com a esfera pública liberal em sua configuração clássica. No entanto, esta vive de certos pressupostos culturais e sociais inverosímeis, principalmente da existência de um jornalismo desperto, com meios de referência e uma imprensa de massa capaz de despertar o interesse da grande maioria da população para temas relevantes na formação da opinião pública. E também da existência de uma população leitora que se interessa por política e tem um bom nível educacional, acostumada ao processo conflitivo de formação de opinião, que reserva um tempo para ler a imprensa independente de qualidade. Hoje em dia, essa infraestrutura não está mais intacta.”

Está assim explicado o grande dilema da minha existência sem leitores, terei agora de ponderar se continuo a escrever para o vazio, dada a falta de valor mercantil da minha escrita para os analfabetos que já não leem.

Claro que posso sempre voltar às origens e escrever poesia pois os canalhas, os poderosos, e os donos disto tudo, se há uma coisa que não toleram é a poesia!!!

          

fórmula para sucesso literário e intelectual e capa do meu 1º livro de poesia (1972)


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