Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Mirandela, e os munícipes de 5ª categoria

 

Mirandela trata os habitantes - das freguesias rurais -, como munícipes de 5ª categoria.

Em julho de 2020, rumei até Torre de Dona Chama para descomprimir do confinamento. Sentia-me, psicologicamente, cansada. Decidi trabalhar a partir de lá, durante três semanas. Fui munida de tudo quanto era necessário para poder trabalhar. A Internet fixa, na rua onde mora o meu pai, era e é uma lentidão. Liguei o portátil ao router, por cabo, para conseguir atingir entre 17 e 19 Mbps, de velocidade de tráfego em download. Vejam bem: onde resido, o normal, nas mesmas condições, ligada por cabo ao router, é de 500 Mbps. Tinha de pedir ao meu pai para não usar a Internet, no seu computador. Sim, apesar de o meu pai ter 84 anos, gosta de ler as notícias, ver o correio eletrónico, pagar serviços, etc., no computador.

Em agosto de 2021, fui passar duas semanas de férias na freguesia de Torre de Dona Chama.

E o que é que mudou entretanto?! Que eu tivesse dado conta… nada.

Tentei fazer reportagens, em direto, de alguns sítios interessantes, e a Internet móvel nem vê-la.

Em Paradela, localidade junto a Mascarenhas, não tinha rede de telemóvel nem Internet, um vazio total, só emergência. Em Avantos, fiz um direto da Igreja com péssima qualidade por ter fraco sinal de Internet. Em Alvites, nem tentei de tão mau que era o sinal. Em Mosteiró, aldeia anexa à freguesia de Torre de Dona Chama, um caos, tanto para sinal de telemóvel, como Internet fixa e móvel. Em Vale Maior, uma desgraça. Em Vale de Gouvinhas, fraco sinal de Internet móvel e de telemóvel. Em Miradezes, não tinha sinal de Internet móvel para fazer uma reportagem em direto. Em São Pedro Velho, péssimo sinal de telemóvel, Internet fixa e móvel. E podia continuar a desfiar localidades onde o peso da ruralidade é brutal.

Tive de me deslocar para o restaurante do Sr. Valente na Bouça, para o bar Sol da Noite em Torre de Dona Chama e para o restaurante Açúde em Mirandela para ler o correio eletrónico, descarregar documentos e fotos, submeter artigos no jornal, etc. Agradeço a estas três entidades, da área da restauração e bebidas, a boa vontade e paciência que tiveram, para eu ter Internet e poder fazer o meu trabalho.

Pergunto-me:

- Como é que os alunos conseguiram ter aulas em casa - e, sobretudo, rendimento escolar -, sem rede de telemóvel, Internet fixa ou móvel, neste tempo de pandemia? E será que todos tiveram direito a equipamento informático?

- O que é que as pessoas, em teletrabalho, fizeram para cumprir com as tarefas? Foram para algum café de uma localidade vizinha; ou para o cimo do monte, tal como eu?

Mirandela não é a cidade. Acordem senhores munícipes!

Infelizmente constatei que a autarquia de Mirandela não atuou eficazmente junto das várias operadoras - rede de telemóvel, Internet fixa e móvel -, para que fosse prestado um serviço de qualidade aos munícipes. Tem de ser a autarquia a defender os munícipes. É seu dever fazê-lo. 

Pude perceber que há pessoas a pagarem serviços que não lhes são prestados dignamente, e a verem aumentados os custos mensais com a aquisição de serviços paralelos, ou seja: têm vários números de telemóvel, um de cada operadora, para usarem de acordo com o que apresentar melhor sinal, na altura de efetuarem uma chamada ou ligação à Internet móvel. Isto é simplesmente inadmissível. Esta situação sobrecarrega as famílias com custos demasiado elevados, e com a agravante de não serem bem servidos.

Assim, não se incentiva a fixação de pessoas no interior de Portugal. Este não é o caminho, caríssimos autarcas.

 

© Teresa do Amparo Ferreira, 24-08-2021

 


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