Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Lusofonia na ilha-montanha

Crónica 213 A Lusofonia na ilha-montanha, outubro 2018

O 30º colóquio da lusofonia teve lugar no Auditório da vila da Madalena do Pico, com sessões extraordinárias na Escola Cardeal Costa Nunes e na Galeria Costa da MiratecArts, de 4 a 7 de outubro, um roteiro cultural da ilha (rota do vinho) e uma degustação de produtos locais. Foram parceiros deste evento a Câmara local, o Governo Regional (Direção Regional do Turismo, da Cultura, das Comunidades) além da MiratecArts.

Dentre os temas salientam-se a
·Homenagem a autores locais.
·Naturais do Pico que se distinguiram em qualquer ramo do saber.
·Madalena do Pico: o concelho, sua história, etnografia, geografia, tradições e cultura.
·Homenagem a Dom Jaime Goulart e ao Padre Áureo da Costa Nunes e Castro

 

Com cinquenta pessoas inscritas (25 eram autores açorianos) e tempo bastante razoável, decorreu o excelente 30º colóquio que registou ainda a presença de alguns locais a assistirem aos trabalhos em muitas sessões. O autor homenageado era a compositora e maestrina ANA PAULA ANDRADE com mais de uma dezena de convidados de Honra, como  Álamo Oliveira, Bruno Rosa (cantautor, Pico), Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, Prémio Nobel da Paz 1996, Eduardo Bettencourt Pinto, escritor, Angola, Açores, Canadá, Francisco Rosas, realizador cinema, Palco de Ilusões, Frederico Cardigos, biólogo, coordenador do Gabinete dos Açores em Bruxelas,  Joaquim Feliciano da Costa, EMPDS Belmonte,  Joel Neto, escritor, Terceira, José Andrade, Chefe de Gabinete da Câmara M de Ponta Delgada, Manuel da Costa Jnr, Diretor Museu dos Baleeiros, Pico, Manoel Tomaz, escritor, Pico, Sérgio Ávila, biólogo, Universidade dos Açores, Pico, Sérgio Rezendes, historiador, IHC – Instituto de História Contemporânea, S Miguel, Terry Costa, diretor artístico, MiratecArts, Pico, Urbano Bettencourt, escritor, Pico, Victor Rui Dores, escritor, Graciosa, além de outros autores açorianos ou açorianizados como Carolina Cordeiro, Chrys Chrystello, Eduíno De Jesus (Decano dos autores açorianos), Helena Chrystello, Katharine Baker (Tradutora), Luciano Pereira, Maria João Ruivo, Norberto Ávila, Pedro Paulo Câmara, Raul Leal Gaião, Rolf Kemmler, E Vilca M Merízio

 

O colóquio teve o seu início dia 4 com uma visita à Escola Cardeal Costa Nunes (encontro de 15 escritores) secundária com a sala cheia de 150 alunos, professores e demais pessoal. O colóquio iniciou-se sendo visionados vídeos da Madalena, AICL e das 9 ilhas dos Açores (que aliás preencheram todos os intervalos das sessões)

Seguiu-se depois a sessão de abertura com a presença do presidente da edilidade e de 9 convidados de honra, além da Diretora Regional da Cultura, Professora Susana Goulart.

Após os discursos oficiais – teve lugar a apresentação do livro Meridiano 28 pelo consagrado autor açoriano Joel Neto, na sessão da tarde houve lugar à Homenagem a Dom Jaime Garcia Goulart e outros missionários açorianos na Igreja da Candelária, visita à Casa do Missionário e Casa de Dom José da Costa Nunes.

Passamos depois a uma demorada visita guiada por Terry Costa à Galeria Costa da MiratecArts.

Dia 5 o Prémio Nobel Dom Carlos Ximenes Belo apresentou com José Andrade da Câmara Municipal de Ponta Delgada (mecenas da edição) o segundo volume de Missionários Açorianos em Timor editado pela AICL. Durante o colóquio houve ainda apresentação de outros livros como a Bibliografia Geral da Açorianidade por Manoel Tomaz e Chrys Chrystello, Um punhado de areia nas mãos por Maria João Ruivo e Eduíno de Jesus e a apresentação do CD de autores açorianos musicados de Ana Paula Andrade.

Dia 5 tivemos dois recitais de Ana Paula Andrade (acompanhada pela soprano Carina Andrade), sendo um deles dedicado a obras do missionário e compositor picaroto Padre Áureo da Costa Nunes de Castro. Neste recital noturno, o conhecido compositor e intérpete local e diretor do Museu dos Baleeiros, Manuel da Costa Jnr, apresentou alguns dos trabalhos do seu recente CD.

Dia 5 visionou-se na íntegra em estreia nos Açores o Docufilme Timor: O Avô Crocodilo de Francisco Rosas e Ricardo Lacerda Dias.

Dia 7 houve uma rota turística e cultural na Rota do Vinho, da Criação Velha ao Lajido e Cabrito, com degustação de produtos locais no Cella Bar na Barca ofertado pela edilidade. Um jovem cantautor local (Bruno da Rosa) apresentou-se ao público, bem como na sessão de encerramento, Laurindo Cardoso e José Fontes da Casa da Música da Candelária com temas de folclore regional.

Não vamos mencionar as 34 apresentações e palestras que decorreram ao longo de quatro dias e algumas das quais mereceram animado debate por parte dos presentes e que constam das Atas do colóquio (https://www.lusofonias.net/arquivos/425/Atas-dos-Coloquios/1059/atas-2018-MADALENA-DO-PICO-2018.pdf).

Apesar da participação local ter sido inferior ao que seria expetável, ainda houve momentos com forte presença local

Resta-nos apresentar algumas das conclusões deste evento

  1. Congratulamo-nos pelo acordo com a Câmara de Ponta Delgada para ali realizarmos o 34º colóquio de 1 a 5 outº 2020 cujo tema principal será EDUCAÇÃO: uma ciência transversal que todos os governos deviam privilegiar, com os Convidados de honra António Dias de Figueiredo catedrático UC (https://www.facebook.com/adfigueiredo); Alexandre Quintanilha (Presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?ID=5930); José António Salcedo (cientista https://www.facebook.com/jose.a.salcedo.988) e ainda o escritor Richard Zimler como escritor não-açoriano convidado. Os autores homenageados pela AICL em 2019 e 2020 serão, respetivamente, Eduíno de Jesus e Onésimo T Almeida
  2. Congratulamo-nos com os reforços dos laços com a autarquia de Belmonte que vai instalar o nosso núcleo da Lusofonia no Museu dos Descobrimentos com abertura prevista para abril 2019 e com o resultado das diligências da AICL que irão permitir a geminação entre a Madalena do Pico e Belmonte, e conta-se com a presença lá do Sr. Presidente da Câmara, José António Soares em abril 2019. Congratulamo-nos, que graças à ação da AICL, Ponta Delgada possa vir a ser incluída na Rede das Judiarias e que esse acordo seja já celebrado no próximo colóquio em abril 2019
  3. Depois de propormos à C M Madalena o regresso dos Colóquios a esta vila ficou o mesmo mutuamente acordado para as datas de 23 a 27 de setº de 2021
  4. Por proposta de Frederico Cardigos do Gabinete dos Açores em Bruxelas, vamos estudar a possibilidade de levar um grupo restrito de autores açorianos a Bruxelas para numa sessão de 1 a 2 dias, para divulgar a literatura de matriz açoriana e alguma da sua obra (livros ou excertos já traduzidos noutras línguas)
  5. Foi feita a proposta da AICL de acolher como sócio Sérgio Rezendes e promovermos a sua deslocação a escolas secundárias para promover o conhecimento da História dos Açores
  6. Vamos prosseguir com o projeto de finalizar o projeto do busto de Dom Carlos Ximenes Belo com um custo entre os 6 e os 8 mil euros cujo molde inicial foi feito pelo artista plástico picoense Rui Goulart (ver em http://coloquios.lusofonias.net/XXX/ximenes%20um%20busto.mp4). Pensamos que uma autarquia ou outra entidade que financie esta obra possa ficar com ela para expor em local apropriado.
  7. Damos publicamente um voto de congratulação à MIRATECARTS por colocar ao longo destes últimos sete anos, o Pico no mapa cultural internacional através das suas atividades diversificadas

Como habitualmente as imagens e sons do 30º colóquio estão no nosso portal www.lusofonias.net  em https://www.lusofonias.net/documentos/aicl-imagens-sons-dos-col%C3%B3quios.html

 

E termino com esta nota elegíaca à bela ilha

Tivesse eu fôlego e ficaria no mítico Pico da Atlântida submersa, cujo magnetismo me fascina ao ponto de desejar, vezes sem conta, mudar de armas e bagagens para este Triângulo Sagrado onde prometo fazer imolações e outros sacrifícios nas aras do destino, seria ótimo pousio final para as minhas cinzas quando chegar a estação de fazer como as cobras e trocar de pele. Despir a bela capa colorida terrena e vestir o cinzento das cinzas que seriam lançadas nesta lendária Atlântida de continentes submersos cujos picos vocês habitam.

Ali, na Gruta das Torres senti-me um salteador da Arca perdida à sombra do Pico que, ora se esconde, ora se revela num jogo constante do gato e do rato, que entusiasma e arrebata. Sinto o sortilégio. O mágico cume tem um íman que atrai a visão e nos desconcentra, sempre insistindo para o contemplarmos nas suas mil e uma facetas alteradas a cada segundo. É esta vila da Madalena, feita de gente que ao longo dos séculos sempre soube arcar com as dificuldades e domar a lava com ferros e marrões, amontoando pedra em “maroiços”, monumentos num rendilhado de jarões, traveses e bocainas. tarefa hercúlea como tantas outras que as gentes do Pico empreenderam ao longo de cinco séculos de colonização da agreste ilha, sem esquecer a luta titânica que nos seus pequenos botes travaram durante um século contra a baleia e ora descobrem novas formas de vida.

Em 2009, em pleno São Miguel Arcanjo, junto à casa do amigo, mentor e escritor Cristóvão de Aguiar deparei com uma camioneta de passageiros, estacionada, aguardando o início de nova semana de trabalho. Ali me ocorreu a ideia peregrina de como seria culturalmente interessante a aventura de “pedir emprestada” a carripana, começar a percorrer as freguesias e gravar as histórias que os passageiros fossem contando. A viagem não teria destino. Duraria tanto quanto as histórias dos seus passageiros. Não se cobrariam bilhetes. Pararia em todos os locais, para que contassem histórias e lendas do local onde paravam. Que livro maravilhoso não daria esse compêndio de histórias apanhadas ao acaso daqueles que tomassem o autocarro dos sonhos. Assim me despedi da ilha e voltei sempre para aqui passar mais tempo.

Termino dizendo que esta é a magia da ilha que se insinua como uma amante insaciada, mulher fatal capaz de marcar os destinos de todos os homens que têm a sorte de a encontrar.

Assim me despedi da ilha e continuo a voltei sempre para aqui passar mais tempo, nesta terra de autores picarotos que tentaremos homenagear ao longo dos próximos dias como Adélia Goulart, Almeida Firmino, Avelino Rosa, Cesaltina Martins, Ermelindo Ávila, Fernando Melo, José Carlos Costa, José Dias De Melo, José Enes, José Martins Garcia, Judite Jorge, Manuel Da Costa Jnr, Manuel Ferreira Duarte, Manuel Tomás, Maria Norberta Amorim, Padre Nunes Da Rosa, Rodrigo Guerra, Rui Goulart Escultor, Rui Goulart Jornalista, Sidónio Bettencourt, Urbano Bettencourt, e no campo eclesiástico Missionários no Oriente como o Cardeal Dom José Da Costa Nunes Dom Jaime Goulart, Dom João Paulino De Azevedo E Castro, Padre Áureo Da Costa Nunes De Castro, Padre Isidoro Da Silva Alves, Padre João Homem Machado, Padre José Carlos Vieira Simplício, Padre José Pereira Da Silva Brum

Chrys Chrystello, Jornalista [MEEA/AJA (Australian Journalists' Association – Membro Honorário Vitalício nº 2977131, 1983-2018) carteira profissional AU3804]

 

 


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