Entre vitórias e derrotas, o Distrito de Bragança resistiu
Há dias em que a democracia nos fala com clareza. No passado 18 de maio, onde houve um carrossel de quedas e aparatos ruidosos, houve também sinais de confiança e esperança.
A vitória expressiva da AD- coligação PSD/CDS foi um desses sinais. O povo português reconheceu o bom trabalho deste governo — ainda jovem, ainda em início de ciclo, mas já capaz de mostrar ao país que há um caminho possível com responsabilidade, competência e sentido de futuro. Valorizou-se um projeto sólido de continuidade e de estabilidade.
Mas houve outro sinal, mais discreto, talvez, mas não menos importante. No mapa eleitoral onde o Chega se afirmou em quase todo o território — incluindo distritos tradicionalmente ligados à esquerda - Bragança foi o único distrito do país onde o partido não conseguiu eleger qualquer deputado. Este pequeno ponto do Nordeste traçou, com firmeza e muito orgulho, uma linha de contenção.
E mais: em Alfândega da Fé e Mogadouro, dois concelhos do nosso distrito, o CHEGA perdeu votos — um fenómeno que só se registou em apenas sete municípios do país. Este cenário leva-nos, obrigatoriamente, a fazer uma pergunta: porquê?
Seria ingénuo presumir que o distrito está imune ao desgaste. Como qualquer outra região do interior, o distrito de Bragança tem sido penalizado pelo centralismo, pelo desinvestimento prolongado, pela erosão dos serviços públicos e pelo envelhecimento da sua população. Mas ao contrário de outros territórios que canalizaram essa frustração para o protesto sem critério, aqui prevaleceu o discernimento.
A explicação começa por um fator muitas vezes ignorado na análise nacional: a ligação entre eleitos e eleitores. Em territórios de menor dimensão e com forte identidade comunitária, a política não vive do algoritmo, mas da presença. O vínculo entre representantes e representados ainda é feito de contacto direto, de prestação de contas, de compromisso visível. É precisamente essa proximidade que dificulta o avanço de fenómenos como o CHEGA, cuja força assenta mais na indignação amplificada nas redes do que na presença real nos territórios.
Depois temos de ter em atenção o enquadramento social e económico do distrito. Aqui, a imigração ainda não gerou os focos de tensão social que alimentam o discurso do medo noutros pontos do país. Pelo contrário: é percecionada como necessária ao funcionamento de setores estratégicos como a agricultura e a restauração. Também a questão da segurança não ganha tração, tendo em conta que se trata de uma região com baixos índices de criminalidade.
Finalmente, há um fator cultural mais profundo, que é difícil de traduzir em sondagens. A dureza do território moldou uma mentalidade desconfiada do facilitismo. Aqui, promessas fáceis não convencem. O voto útil, neste contexto, não se fez contra o sistema, mas dentro dele — escolhendo o caminho da estabilidade e não o da rutura.
Num tempo em que o populismo cresce alimentado pelo descontentamento e a esquerda tradicional se desfaz entre erros próprios e desconexão com o país real, o exemplo de Bragança não é apenas uma exceção estatística. É uma hipótese de futuro. Uma prova de que talvez não seja o país inteiro que esteja a mudar de valores. Talvez, em alguns lugares, a política ainda consiga fazer o seu caminho com seriedade.
Aqui, a democracia continua firme, imune aos encantos fáceis do populismo. Aqui, a confiança venceu o medo. Bragança mostrou ao país que é possível resistir.
Oxalá o país saiba ouvir o que Bragança disse no silêncio dos seus votos.