Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Confusões políticas - rir para não chorar

Estamos em pleno outono, pedindo lareira, castanhas assadas e convívio com a família. As histórias de ir às lágrimas...vão saindo ao ritmo das castanhas. A política vai metendo a sua colherada. Num desses serões, foi abordado o tema do despovoamento no interior transmontano.

Para começo, devo esclarecer que tenho visto políticos a confundir desertificação com despovoamento.

O vocábulo desertificação refere-se à transformação de solo arável e fértil em deserto, cujas consequências são a perda de vegetação, animais e população.

Quanto ao substantivo despovoamento refere-se à redução progressiva de população, em determinada zona geográfica, gerada pelos movimentos migratórios e pela baixa taxa de natalidade que não compensa os óbitos.

Pois bem, em Trás-os-Montes, ainda não vi nenhuma zona que possa ser apelidada de deserto — embora por vezes os efeitos climáticos adversos e os fogos postos tenham feito das suas. Temos tido algumas cheias e temporadas de seca. De momento, estamos em época de chuva intensa.

Como dizem na minha terra “Saibamos guardar da risa para a chora.”, isto é, saibamos guardar a água, construindo represas e outras formas de retenção, para quando é mais precisa.

Quanto ao despovoamento, censos após censos, temos visto perdas significativas da população nas aldeias, mas não tem relação direta com os efeitos climáticos, devido às más políticas.

Os estudantes precisam de usar os meios tecnológicos para os estudos e, por conseguinte, não têm Internet de qualidade — e há tantas aldeias que não a têm de todo, nem rede para falar ao telemóvel; os pais dos jovens precisam de: empregos, infraestruturas básicas (há aldeias sem saneamento e com distribuição de água de forma precária), escolas, médico, farmácia, supermercado, rede de transportes, estradas condignas, acesso à cultura e ao desporto, etc.; e os mais idosos precisam sobretudo dos filhos por perto, para fugirem ao isolamento e à solidão, e de cuidados que não têm.

Se não houver políticas efetivas, que incentivem à fixação da população, qualquer dia temos aldeias despovoadas — nem vivalma por lá haverá —, embora a natureza se faça presente. Pensem nisso, senhores autarcas, e corrijam o vosso vocabulário, para não induzirem em erro quem vos ouve.


Clique para ver:  Vídeo de um político a confundir desertificação com despovoamento.

Sessão Ordinária da Assembleia Municipal de Mirandela de 27/10/2023 - Tarde


© 𝑻𝒆𝒓𝒆𝒔𝒂 𝒅𝒐 𝑨𝒎𝒑𝒂𝒓𝒐 𝑭𝒆𝒓𝒓𝒆𝒊𝒓𝒂, 04-11-2023

      𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒍 𝒅𝒆 𝑻𝒐𝒓𝒓𝒆 𝒅𝒆 𝑫𝒐𝒏𝒂 𝑪𝒉𝒂𝒎𝒂,
      𝑴𝒊𝒓𝒂𝒏𝒅𝒆𝒍𝒂, 𝑩𝒓𝒂𝒈𝒂𝒏ç𝒂, 𝑷𝒐𝒓𝒕𝒖𝒈𝒂𝒍.


Partilhar:

+ Crónicas