Pouco ou nada me agrada celebrar, no dia da sua morte, quem já partiu. Prefiro celebrar o dia em que nasceu, pois sem nascimento não teríamos o prazer de desfrutar da sua vida tal como se apresentou. A morte é destino ao qual ninguém escapa, exceto os artistas - esses serão lembrados além da morte. O poeta é um artista - dos mais altos, meus caros -, que pinta com palavras as mais belas poesias.
Hoje, quero celebrar o nascimento de Nuno Nozelos (Fradizela 15-11-1931; Torre de Dona Chama 18-07-2017) natural do município de Mirandela.
Já tive oportunidade de escrever sobre ele, de o homenagear num programa em direto, mas nunca é demais lembrar quem foi grande na poesia e no conto.
Quero partilhar convosco um poema, seu, para que conheçais o homem que sempre foi.
PRETENSO AUTO-RETRATO
Meu semblante revela o ar agreste do exil torrão em que aportei à vida - uma lura ignorada do Nordeste, de que, um dia, parti, de alma dorida.
Trouxe comigo, entanto, o eco dos montes, a força inabalável dos fraguedos, o espelhar dos rios e das fontes e da natura-mãe os seus segredos.
Conservo a raça de aldeão nortenho, sem negar a matriz de que provenho e o duro caminhar por via recta.
E, apesar de moldado em barro bruto, eu ostento um carácter impoluto, que trai minha lhaneza de poeta.