Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Aflorando Nuno Nozelos

Crónica 1: Aflorando Nuno Nozelos

Como vos poderei falar profundamente, de Nuno Nozelos, sem o ter conhecido? Não posso. Soaria a falso e de falsidades não gosto. O que vos poderei contar então?

Conheci Dona Celeste Nozelos, no verão de 2020, em Torre de Dona Chama. De imediato me rendi a esta senhora, esposa de Nuno Nozelos. A nossa empatia foi tão forte que passamos a vida a telefonar-nos. O pouco que vos posso contar foi-me passado por esta distinta senhora, ora presencialmente, ora ao telefone. Há no olhar e no tom de voz, quando me fala do marido, aquilo a que posso chamar de Um Grande Amor pelo seu Nuno. Vi tanto de doçura como de carisma e força nesta senhora. Ouço-a com ternura e tento reter o máximo de informação nas nossas conversas.

 O que pretendo?

Chegar ao Homem através do olhar e do coração da esposa. Não tenho ambição de tudo vos contar sobre o homem, poeta, contista, romancista, jornalista, conferencista, Técnico Superior na Área Administrativa da Saúde, pintor e até cantor de fado. Muitas facetas caracterizam a vida e obra de Nuno Nozelos, sendo transversal o vínculo impresso, sempre mantido, à sua terra natal, Fradizela, e à de adoção, Torre de Dona Chama. E, se respostas quereis encontrar, ide ver a exposição em sua homenagem que está patente ao público na Biblioteca Sarmento Pimentel, em Mirandela, a inaugurar no dia em que se assinalam 89 anos do seu nascimento, 15 de novembro de 1931, estando aberta até 31 de dezembro de 2020.

 O Homem

 Ajudou imensos conterrâneos, e outros, que lhe batiam à porta, arranjando-lhes emprego, ou acesso a consultas e atos médicos, contou-me sua esposa, senhora que, aos 84 anos de idade, ainda conserva uma frescura e riso contagiantes. Os conterrâneos a quem arranjava emprego, vede só, acolhia-os em sua casa até terem onde morar. Com as moças que chegavam para trabalhar em Lisboa, tanto o Nuno como Dona Celeste, faziam questão de as ir acompanhando para que não tivessem o azar, ou má sorte, de caírem em vidas pouco dignas. Era um homem sempre disponível para ajudar o próximo.

Casaram-se a 06-05-1959, no Santuário de Nossa Senhora do Amparo, em Mirandela. Durante os 58 anos de casamento, tiveram uma vida matrimonial muito feliz. Dona Celeste, sempre que podia, acompanhava-o para todo o lado. Ainda que há muitos anos não fosse de bom-tom uma senhora entrar em determinados lugares, fazia questão de estar junto do marido e ele adorava a jovialidade dela. No seio familiar era um grande companheiro. Ajudava nas tarefas domésticas só para poder estar mais tempo e mais próximo da esposa que amava imensamente.

Entre amigos primava pelo riso, franco e solto, contando anedotas “algumas picantes, veja só, era um safado!” confidenciou-me Dona Celeste, com um brilhozinho nos olhos. Cantava fado, aliás, fê-lo algumas vezes, na Casa de Trás-os-Montes, em Lisboa.

Adorava pintar, tendo chegado a expor. Por condições do foro alérgico foi obrigado a desistir desta paixão.

Sempre que podia rumava até Torre de Dona Chama, fonte de inspiração e energia vital para a escrita. Amava ardentemente esta terra. Embrenhava-se no povo para saber dos usos e costumes. O facto de ter vivido sempre fora, ora por motivos de fazer os seus estudos, ora pela carreira profissional em terras alfacinhas, deixou-o desprovido de certas miudezas vitais, a quem bem quer contar um conto. Encontrava na simplicidade desta boa gente o que lhe faltava em terras de Lisboa. 

Pedi a esta boa senhora que me definisse o marido em três ou quatro palavras “Não era deste mundo.”.

Muito mais há para contar sobre um Homem com uma vida tão rica. Fica em aberto, a quem interessar, o espaço para escrever uma biografia da vida e obra do Nuno Nozelos.

À Dona Celeste, senhora de inúmeros atributos, que me conquistou desde logo o coração, tenho a agradecer tudo quanto me contou sobre o marido.

Quanto a vós, caros leitores, ide visitar a exposição.

 

© Teresa do Ampro Ferreira, 14-11-2020


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