A suspensão das obras na barragem do Alto Tâmega deixou no desemprego cerca de 90 pessoas da região, algumas das quais esperam regressar depois de retomados os trabalhos e de garantidas “todas as condições de segurança”.

A Iberdrola informou que “foram parcialmente suspensas” as obras do aproveitamento hidroelétrico de Alto Tâmega em março, após ter “identificado condições geológicas no local não previstas durante a fase de estudo”.

Em consequência, segundo números avançados pelo Sindicato da Construção de Portugal, esta suspensão afetou principalmente cerca de 90 trabalhadores deste território.

Eduardo Cunha, 64 anos e residente em Cerva, Ribeira de Pena, era pedreiro na barragem do Alto Tâmega, contratado pelo Agrupamento Complementar de Empresas (ACE), que junta a Mota-Engil, a Acciona e a Edivisa, responsável pela construção deste empreendimento.

Aos jornalistas contou que aproveitou a oportunidade de trabalho que surgiu neste território, onde as alternativas são “escassas” e que desempenhou funções de pedreiro durante 14 meses.

Eduardo Cunha disse que após o problema que foi detetado na obra, os trabalhadores foram mandados para casa a ganhar “75% do ordenado” e, depois, em agosto foi despedido.

“A única resposta que recebemos foi que o ACE já não ia fazer a obra e foi por isso que fomos despedidos”, acrescentou o também pedreiro Orlando Barroso, com 52 anos e natural de Carvalhelhos (Boticas).

A Iberdrola acabou por rescindir o contrato com o consórcio, em setembro, alegando “divergências relacionadas com incumprimentos e atrasos não relacionados com a suspensão de trabalhos”.

Os operários falavam à comunicação social numa conferência de imprensa promovida pelo Sindicato da Construção de Portugal, que se realizou nas proximidades do local onde está a ser construída a barragem, em Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real.

Os dois aproveitaram para recordar as condições de trabalho que vivenciaram na obra.

“A gente num trabalho destes nunca anda seguro porque, numa situação destas, com as inclinações grandes a gente seguro nunca anda”, contou Eduardo Cunha.

No local, ocorreu um movimento da encosta direita acima da futura central hidroelétrica, onde posteriormente se verificou uma derrocada.

Orlando Barroso reforçou a ideia do colega e afirmou que “não havia condições de segurança”.

“Para mim os maiores culpados são os geólogos, porque não estudaram bem os solos, que estavam podres, abriam brechas todos os dias, uma pessoa sentia-se insegura”, salientou.

Orlando Barroso e Eduardo Cunha revelaram ter a esperança de regressar ao trabalho no empreendimento, mas só se virem garantidas todas as condições de segurança no terreno.

A este propósito, o presidente do sindicato, Albano Ribeiro, defendeu que a obra só poderá ser retomada após ser criada uma “comissão composta pela Iberdrola, pelo sindicato, pela associação empresarial do setor, pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), mas com inspetores qualificados, e pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG)”.

A Iberdrola disse hoje, em comunicado, que “atualmente estão a ser realizados trabalhos complementares que permitam cumprir com os prazos previstos na concessão, sempre com as máximas condições de segurança”.

“Desde o primeiro momento, a Iberdrola conta com o apoio de projetistas de reconhecido prestígio para o desenvolvimento das obras”, referiu ainda a energética espanhola.

O aproveitamento hidroelétrico de Alto Tâmega é um dos três que formam o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET). Segundo a elétrica espanhola, as obras nas barragens de Daivões e Gouvães continuam a decorrer com normalidade

O SET é um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, com 1.500 milhões de euros de investimento e a criação de 13.500 empregos diretos e indiretos.

Atualmente, segundo a Iberdrola, trabalham no SET cerca de 1.800 pessoas, das quais perto de 370 são dos municípios da região.



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