Calado ou a tocar. O relógio da igreja de Vilar de Pedizes está a dividir a população. Já há queixas na GNR e um abaixo-assinado. O padre Fontes defende o \"silêncio da noite\". A polémica está acesa e para durar.

E terá rebentado quando, há 15 dias, o pároco tocou no assunto na igreja e defendeu que o relógio parasse durante a noite. A maioria dos paroquianos não gostou e os ânimos exaltaram-se. Ontem, à saída da missa, mantinha-se o clima de animosidade.

\"O relógio já está aqui há muitos anos. E não estorva a ninguém, dá jeito para os ceguinhos e para quem anda no monte. Quem não está bem que se mude\", dizia Dorinda André, de 75 anos.

Manuel Botelho Pinto, de 74 anos, é da mesma opinião. \"Há muitas pessoas idosas que tomam medicamentos à noite e que se regulam pelas horas do relógio\", revelava. \"Se nos tiram o relógio há problemas em Vilar\", augurava outro morador, aproximando-se.

O pároco local, António Fontes, que acabara de rezar a missa, explode. \"Oh, senhor, ninguém vai tirar o relógio. Estamos a falar de o parar à noite. Há que respeitar o silêncio da noite\", defendia, Fontes.

\"Há tanta coisa que faz barulho...o relógio já está aqui há tanto tempo e, então, só incomoda este ano?\", questionavam algumas mulheres.

Fontes voltou à carga: \"Não incomoda quem está habituado, quem vem de fora incomoda. Ainda ontem hóspedes que tinha aqui se me queixaram que não dormiam. Ando eu a chamar gente para aqui e vós a espantar os turistas\".

Irritado, o pároco meteu-se no carro e arrancou. Apesar de muitos não darem a cara, \"para não se chatearem\", Fontes não está sozinho na luta. Os que estão ao lado do pároco queixam-se, sobretudo, que o toque lhes perturba o sono.

\"As vezes, amigos que vêm cá passar o fim-de-semana a casa do meu filho até lhe dizem que não percebem como é que eles aguentam o barulho\", contou outro morador. Aliás, alguns defensores do silêncio já foram queixar-se à GNR do barulho provocado pelo toque.

A maioria da comissão fabriqueira da Igreja, que regula o som, é a favor que o toque seja ininterrupto. \"Isto é o guia dos lavradores e das pessoas que não sabem ver as horas\", defendem, exibindo um abaixo-assinado com cerca de 200 assinaturas de pessoas que concordam que o relógio continue a tocar 24 horas por dia. Mas a comissão fabriqueira não se ficou pelo abaixo-assinado. Para evitar que alguém mexa no sistema que regula o som do relógio ligado a um amplificador, partiram a peça que permitia o ajuste.

\"Assim ninguém mexe. Está no dois (numa escala de 1 a 10) e à noite está regulado para tocar ainda mais baixo\", garantem.

A Junta de Freguesia ter-se-á posto à margem da polémica. \"Já pedimos ao presidente da Junta que fizesse um referendo, mas ele disse que isso era um assunto da comissão fabriqueira\", revelou Fernando Barreira, um dos que zela pelo templo.



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