Mariel Delucchi Pereira reside na Holanda e no ano passado esteve de férias em Portugal. Aproveitou então para conhecer a terra e a casa onde nasceu o seu avÎ, o artista Raul Maria Pereira. Logo ao chegar a Donelo, Covas do Douro, no concelho de Sabrosa, ficou \"impressionada\", pois deparou com uma avenida dedicada ao seu avÎ. Depois, ficou \"surpresa\" perante os quadros do seu antepassado guardados no Seminário Maior do Porto. Mas a sua \"admiração\" deve-se também ao \"pouco conhecimento\" dos portugueses sobre a vida e obra de Raul Maria Pereira.

Mariel sempre viveu fascinada pelo avÎ, apesar de nunca o ter conhecido. Recorda-se dele através das histórias contadas pelas tias, dos quadros que persistem até hoje no Peru e das obras arquitectónicas que Raul Maria Pereira deixou naquele país da América Latina.

\"No Peru, o meu avÎ é uma espécie de mito\", afirma Mariel. O actual edifício do Ministério da Defesa, em Quito, inicialmente Palácio da Exposição, foi desenhado pelo artista transmontano. O Palácio Municipal de Latacunga, a Biblioteca e o Museu Municipal de Guayaquil são outras obras arquitectónicas da sua responsabilidade.

Sendo o mérito de Raul Maria Pereira \"sobejamente reconhecido\" no Peru, a sua neta gostaria que ele fosse igualmente reconhecido em Portugal, especialmente em Trás-os-Montes. \"A paixão do meu avÎ pelo seu país era enorme. Mas infelizmente morreu antes de poder concretizar o seu maior sonho: voltar à sua terra natal\", conta Mariel.

Não havendo em Portugal qualquer estudo ou investigação sobre os trabalhos do artista, Mariel Pereira está a efectuar diligências, juntamente com Susana Mota, do Seminário Maior do Porto, no sentido de levar a cabo, já no próximo ano, uma exposição itinerante para o homenagear. Contudo, \"é necessário algum apoio\", já que, até agora, as despesas têm estado todas a cargo de Mariel Pereira. Por isso, as organizadoras do evento estão a contactar diversas autarquias transmontanas, de modo a saberem se estão interessadas em apoiar e receber esta exposição itinerante. Sabrosa e Vila Real já deram o sim. \"Trata-se de uma grande oportunidade, que jamais se irá repetir\", afirma Mariel Pereira, avançando que espera iniciar a exposição já no próximo ano.

\"Ele merece uma homenagem\", defende a neta do artista transmontano, porque, segundo ela, Raul Maria Pereira \"representou sempre o seu país, não só como artista e arquitecto, mas também como cÎnsul no Peru\".

Vida e obra

Raul Maria Pereira nasceu a 18 de Junho de 1877 em Donelo, Covas do Douro, no concelho de Sabrosa. Filho de uma família de lavradores de parcos recursos, matriculou-se com apenas 13 anos na Academia de Belas Artes do Porto, concluindo o curso académico em 1901. Nessa altura, depois de não ter conseguido uma bolsa de pintura para estudar em Paris, trabalhou na \"Fotografia União\", onde teve a oportunidade de realizar um retrato do Conde de Paço Vieira, através do qual conheceu o Visconde de São João da Pesqueira. Será este quem lhe dará a oportunidade de completar os estudos no estrangeiro, ao enviá-lo para Itália.

No ano de 1903, Raul Maria Pereira frequentou os cursos da Academia de Roma. Durante quatro anos viajou até Florença, Veneza, Atenas, Constantinopla, Budapeste, Viena, Munique e Paris, a fim de conhecer os mais importantes centros artísticos e admirar os trabalhos de grandes mestres da pintura. Deste período ficaram obras que na sua maioria são paisagens, retratos e cópias de grandes mestres como Morone, Tiziano, Van Dyck e Velasquez.

Em 1907, o artista apresentou três pinturas suas na Exposição de Roma. Aí, o seu quadro \"Donna Veneziani\" foi comprado pelo governo italiano. Ainda no mesmo ano, foi convidado a leccionar pintura na Escola de Belas Artes de Quito, no Equador. Mas antes de seguir para esse país, passou por Portugal, onde aproveitou para pintar vários quadros da família dos Viscondes da Pesqueira. Foi galardoado com a Ordem de Cristo.

Em 1908 Raul Maria Pereira viajou para o Equador, onde, a par do seu trabalho como professor de pintura, inicia uma carreira na arquitectura. O Governo daquele país encarregou-o dos planos de construção do Palácio da Exposição, em Quito, hoje ocupado pelo Ministério da Defesa do Equador.

Três anos mais tarde, o artista foi nomeado cÎnsul dos Estados Unidos, do Brasil e de Portugal no Equador, e em 1922 foi nomeado cÎnsul de Portugal no Peru.

Em 1932, um grupo de amigos seus organizou uma exposição em sua honra, em Lima, com vários trabalhos do artista. A fim de rea-ver alguns trabalhos seus \"perdidos\" pelos vários cantos do mundo, Raul Maria Pereira organizou uma viagem na qual pretendia visitar Portugal e \"matar saudades do país que tanto amava\", como sublinhou Mariel Pereira. No entanto, não voltou ao país que o viu nascer, pois a 16 de Janeiro de 1933 morreu no Hospital da \"Maison de Santé\" de Lima, vítima de uma infecção dentária.

Em breve, Mariel Pereira dará a conhecer os trabalhos do avÎ aos habitantes da terra que o viu nascer. No entanto, e de forma a completar a investigação que está a realizar, Mariel gostaria que qualquer pessoa que no passado tenha tido contacto com o artista ou com alguma das suas obras a contacte através do seu endereço electrónico ([email protected]).



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