A preocupação com a alimentação de doentes em hemodiálise deu origem a uma alheira de Mirandela com proteína à base de clara de ovo que ambiciona conquistar também os atletas de alta competição, divulgaram hoje os responsáveis.

O novo enchido tem a mesma aparência e paladar idêntico da alheira tradicional, a particularidade é que a clara de ovo adiciona a proteína saudável sem gorduras e a carne de porco é substituída por carne de aves.

Esta é a segunda alheira com preocupações de nutrição que resulta do projeto da clínica de hemodiálise Tecsam, de Mirandela, em parceria com a Faculdade de Ciências de Nutrição do Porto, para desenvolver um produto aliado à tradição mais saudável, mas que está proibido aos doentes renais que não estão em tratamento de hemodiálise.

O alerta foi deixado por Flora Correia, a nutricionista que fez os cálculos teóricos para a conceção “de uma alheira que tivesse mais proteína, que tivesse menos gordura saturada, aquela gordura que é mais prejudicial e que tem uma influência grande nas doenças cardiovasculares e menos sal”, como explicou hoje, na apresentação pública do produto, em Mirandela.

Com a clara de ovo conseguiram “uma alheira com um sabor muito idêntico à alheira tradicional ou quase igual, quem não souber não dá conta que é diferente”, garante, e com “a particularidade de ser mais rica em proteína”.

“Cento e cinquenta gramas desta alheira tem mais proteína do que a alheira tradicional e uma melhor proteína do que os mesmos 150 gramas de carne de porco ou de vaca. Com um custo acessível e com vantagens para o estado clínico dos doentes”, afirmou.

A nutricionista alertou, no entanto que um doente renal que não esteja a fazer o tratamento de hemodiálise “não deve ingerir alimentos ricos em proteína, é um perigo”, pelo que também não deve ingerir esta alheira.

O enchido foi pensado para os doentes em diálise depois de na clínica parceria do projeto se ter constatado que “40% têm má nutrição”.

“Normalmente, muitos deles por falta de dentes, por prótese desajustadas têm dificuldade em ingerir a carne e a alheira, para além de ser tradicional, é de fácil consumo”, explicou.

A equipa quer ainda melhorar este produto, nomeadamente reduzir a presença de fósforo que é prejudicial aos ossos nestes doentes, quando em demasia.

Esta é a segunda alheira pensada para os doentes em hemodiálise e que apresenta “uma melhoria substancial” em relação à primeira, apresentada em 2015 pela mesma equipa, e que “era praticamente uma alheira tradicional enriquecida em proteínas à base de carnes”, como explicou Nunes Azevedo da clínica de hemodiálise.

Segundo disse, a aposta no conhecido enchido justifica-se por “a alheira ser muito apaladada e uma forma de estimular os doentes a consumir proteínas”.

Tanto esta, como a anterior, são servidas aos doentes da clínica de Mirandela e o responsável acredita que desta vez a inovação terá mais êxito porque conta com a parceria de uma das maiores empresas produtora da alheira de Mirandela, a Eurofumeiro.

O gerente, Rui Cepeda, garantiu que acolheu o projeto desde o início porque, embora “acarrete investimento, “é um nicho de mercado e uma mais-valia” por se tratar de “um produto diferenciado e com outros aproveitamentos”.

O empresário está a pensar também nos atletas de alta competição que podem ter neste produto uma fonte de proteína sem gorduras menos saudáveis.

O preço, segundo disse, “é mais ou menos o de um produto de qualidade, está dentro do que é a alheira” certificada.

O projeto tem um novo desafio que vai lançar aos chefes de cozinha transmontanos para elaborarem receitas de alheira para um livro com a preocupação de não adicionar alimentos prejudiciais à saúde.



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