O município de Mirandela inaugurou as obras de requalificação da antiga estação ferroviária com o desejo de que venha a servir de alavanca para o início do plano de mobilidade do Tua, disse hoje à Lusa a presidente da câmara.

“Provou-se que aquilo que depende dos municípios foi conseguido. Aquilo que depende do Governo não se conseguiu. Pode ser que esta obra sirva de alavanca para um olhar atento para um projeto tão importante para a nossa região, quer do ponto de vista turístico quer de mobilidade para as populações, que, por depender do Governo central, ainda não saiu do papel”, afirmou Júlia Rodrigues.


A presidente da câmara do concelho do distrito de Bragança considerou que a maior contrapartida pela construção da Barragem de Foz-Tua era o Sistema de Mobilidade do Tua e que assim não está a ser cumprida a Declaração de Impacte Ambiental, o que transfere para o Governo uma responsabilidade acrescida pelo que disse ser uma falta de vontade política, sendo nestas decisões que “se vê a diferença entre o que se diz e o que se faz”.

“Falta vontade política e, acima de tudo, (…) queremos que haja justiça territorial (…). Está tão no discurso político nos dias de hoje mas que não existe na realidade. (…) Julgo que este processo é uma vergonha. Deve envergonhar o país. Lamentamos todos muito, mas não vimos até agora nenhum sinal dos Governos neste sentido. Esperamos que haja uma diferença de atitude em relação ao passado”, reforçou a líder da autarquia.

A barragem de Foz-Tua, antes da Energias de Portugal, entrou em funcionamento em 2017 e submergiu parte da desativada Linha do Tua. Desde 2020 que está concessionada ao consórcio francês Engie.

O Sistema de Mobilidade do Tua deveria ter entrado em funcionamento em março de 2017, segundo o que se pode ler na página da internet da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua. Previa um investimento de 10 milhões de euros e faria a ligação entre Mirandela e a estação de Foz-Tua.

Segundo a informação do site da Agência, a mobilidade seria constituída por “uma componente turística e por uma componente de mobilidade quotidiana que permite assegurar, de forma integrada, a efetiva mobilidade entre a Estação Ferroviária do Tua e Mirandela-Carvalhais”.

No que ao turismo diz respeito, estava contemplada a criação de um circuito ferroviário entre a Brunheda e Mirandela, que incluía a manutenção e melhoramento das respetivas infraestruturas, além de um circuito fluvial e um circuito rodoviário, através de um autocarro turístico entre o cais da barragem e a estação ferroviária do Tua.

A intervenção na estação ferroviária de Mirandela, hoje inaugurada, custou 2,5 milhões, comparticipada a 85% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

O edifício, que fazia parte da desativada Linha do Tua, foi inaugurado em 1887. O rés-do-chão estava praticamente sem utilidade desde que os comboios pararam, em 1991, com a interrupção da ligação à capital de distrito. A parte superior, usada como moradia para funcionários da linha e das suas famílias, estava desocupada desde a década de 80 do século XX.

O município de Mirandela celebrou com a Infraestruturas de Portugal um contrato de comodato por 50 anos.

“O que se pretendia era devolver aos mirandelenses e a quem nos visita este espaço”, explicou Júlia Rodrigues, avançando que a recuperação da envolvente da estação ferroviária vai continuar, estando prevista para um dos armazéns contíguos a instalação de um centro interpretativo da alheira, enchido que se tornou o ex-líbris do concelho e que era expedido por comboio.

A renovada estação ferroviária tem ainda espaços dedicados à cultura e às artes. De hoje e até dia 29 recebe a quinta edição do Festival Literário de Arte e Letras de Mirandela - PalavrArte. Também hoje é inaugurada a exposição “Com a Casa às Costas”, com obras da Coleção de Serralves e do Fundo Documental da Estação de Mirandela.

Fotos: CMM




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