O Interior ganhou gente e novos postos de trabalho com as medidas do Governo para contrariar o despovoamento, mas alguns dos que recorreram aos apoios queixam-se de que o dinheiro tarda em chegar.

A Lusa acompanhou, em Mirandela, no distrito de Bragança, uma visita da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, a várias empresas com exemplos da aplicação das diferentes medidas que contribuíram para a criação de mais de 24 mil postos de trabalho, deram apoios a investimentos superiores a 5.000 milhões de euros e proporcionaram a mobilidade para o interior de 1.555 pessoas.

Nestas empresas de Mirandela foram criados, pelo menos 18 postos de trabalho com apoios aprovados pelo Governo, mas duas delas estão há meses a suportar as despesas com os novos trabalhadores sem ainda terem recebido qualquer verba do apoio aprovado.

Depois de trabalhar no Porto no setor têxtil há mais de 30 anos, Pedro Serôdio resolveu abrir, em plena pandemia, uma fábrica de roupa para bebé e criança, na terra natal, em Mirandela, e contratou 12 pessoas.

Está a laborar desde janeiro com financiamento aprovado para dois postos de trabalho e disse à Lusa que “ainda não recebeu nada”.

“Eu compreendo que tenha que haver controlo, mas é demasiado tempo para se concretizarem esses apoios. Estamos aqui com 12 pessoas há um ano, a formar à nossa custa e que sai muito caro. Se não houvesse um suporte financeiro de retaguarda, esta empresa já tinha fechado”, contou.

O empresário investiu 60 mil euros na criação da fábrica Serôdio e Serôdio que, segundo disse, já gera “à volta de 130 mil euros anuais”.

Situação idêntica relatou José Ramos, que contratou duas jornalistas para o Canal N com a aprovação do apoio aos postos de trabalho e, desde abril, que estão a trabalhar com contrato por tempo indeterminado, e a empresa ainda não recebeu nada.

“O que grande parte das empresas pensava que podia ser uma ajuda pode levar algumas a entrar aqui numa situação de rutura porque estavam a contar que esse dinheiro fosse rapidamente distribuído e não está a ser entregue às empresas”, considerou.

Confrontada com as queixas, a ministra Ana Abrunhosa afirmou que não tem “esse feedback do resto do território”.

A governante prometeu que vai acompanhar esta situação, junto das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento regional (CCDR), já que são estas entidades as responsáveis pela análise e pagamentos.

A ministra realçou que a execução destes programas, lançados há menos de dois anos, “foi extraordinária e a execução também está a ser”.

A região centro do país tem sido a mais procurada por aqueles que tomaram a decisão de sair do litoral para o interior, ou regressar do estrangeiro, com um apoio financeiro para se instalarem, segundo a ministra.

Pedro Rodrigues não recorreu a este apoio, mas é um dos recém-chegados ao interior para trabalhar na multinacional de redes elétricas Enline, em Mirandela.

Aos 42 anos, o engenheiro informático, que trabalhava em Lisboa, rumou a Trás-os-Montes porque encontrou “uma empresa que é atrativa” para ele na região onde tem origens e onde acredita que os dois filhos terão “melhores condições para usufruírem de uma infância mais plena”.

“Fica-se a perder em relação à cidade em alguns aspetos culturais e de algum dinamismo, mas por outro lado tem-se outras coisas para mim de valor superior, que é o caso de os filhos terem um cuidado mais próximo de familiares, terem uma infinidade de espaços para brincar de maneira mais saudável”, considerou.

Este engenheiro informático ocupou um dos lugares de quadros superiores que o responsável pela empresa, Manuel Lemos, partilhou com a Lusa, em setembro, que não conseguia preencher por falta de candidatos.

Depois da notícia, recebeu “mais de 300 currículos “, conseguiu preencher quase todos os lugares que tinha disponíveis e tem a trabalhar agora em Mirandela “engenheiros de Lisboa, de Braga, do Brasil” e está à espera que “cheguem mais profissionais, a partir do início do janeiro”.

A empresa, que gere redes elétricas remotamente nos cinco continentes do mundo, concorreu a vários dos programas de apoio ao interior, desde os que se destinam a recursos humanos altamente qualificados aos de apoio à investigação num um consórcio que tem com o politécnico de Bragança para desenvolver novo software.

Ainda não havia qualquer apoio quando a engenheira alimentar Isabel Reinas decidiu, há 12 anos deixar o Porto por uma vaga na Tecpan de Mirandela. Hoje é diretora de produção e foi responsável por um dos projetos para os quais a empresa recebeu 450 mil euros.

José Baltazar criou há 27 anos a marca que desenvolve tecnologia para a indústria da panificação, desde a pré-misturas de farinhas para o pasteleiro e para o padeiro aos produtos para terminar, nomeadamente rechear e enfeitar, os bolos.

Além de Mirandela e de uma empresa de distribuição, a Tecpan tem também unidades no Brasil e Angola.

O empresário contou à Lusa que o último apoio a que concorreu destinou-se à criação de uma nova unidade e maquinaria para o transporte pneumático, o que permitiu que os trabalhadores deixassem de “andar com os sacos às costas para carregar num botão e terem a quantidade que necessitam para determinada fórmula no misturador”.

José Baltazar diz que começou este negócio “com um posto de trabalho a tempo parcial e agora tem 70”. Destes, 32 estão em Mirandela, quase um terço são licenciados e precisa de mais um posto de trabalho qualificado na manutenção.



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