A falta de pediatras em Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança, leva os pais "a rezar" para que, no período noturno, não existam situações de urgência pediátrica, que podem obrigar a deslocações de mais de 100 quilómetros.

Em declarações à agência Lusa, a presidente de Associação de Pais e Encarregados do Agrupamento de Escolas de Freixo de Espada à Cinta (APEEAEFEC), Manuela Pedroso, disse que é preciso "rezar" para que não haja acidentes ou problemas de saúde com as crianças e adolescentes, durante o período da noite, porque não há serviço de pediatria e o centro de saúde está fechado.

"Temos de rezar que nada aconteça aos nossos filhos durante o período da noite. Para além de não haver pediatria, também o centro de saúde está encerrado, e as crianças têm de ser transportadas de ambulância para as unidades de saúde que ficam distantes de Freixo de Espada à Cinta como é o caso de Mogadouro, Bragança, ou até para o Porto, dependendo da gravidade da situação", concretizou a responsável.

Manuela Pedroso defende que Freixo de Espada à Cinta deveria ter as mesmas oportunidades que outros concelhos de país têm, solicitando a presença de um médico pediatra na unidade de saúde da vila.

"Apesar de termos bons médicos de medicina geral no centro de saúde, um pediatra está sempre melhor preparado para atender uma criança ou um adolescente do que os outros profissionais de saúde, porque tem uma formação específica. Nós, se quisermos que os nossos filhos sejam visto por um pediatra, temos de nos deslocar. Eu vou a Moncorvo a uma particular", indicou a também mãe.

A responsável afiançou que é preciso que as crianças façam duas ou três consultas de pediatria por ano, acrescentando que, se houvesse esta especialidade na vila onde reside, era mais fácil para todos e ficava mais barato, não havendo a necessidade de longas deslocações.

"Era ouro sobre azul e acho que eram estas oportunidades que deveriamos ter e não as temos. Para fazer consultas de rotina bastava que um pediatra se deslocasse a Freixo de Espada à Cinta uma vez por mês. Não estamos a falar de urgências, de rotinas. Nós não temos pediatra e nem nunca tivemos", enfatizou a presidente da APEEAEFEC.

Contudo, foram ainda relatados casos em que são os próprios pais nas suas viaturas que transportam os filhos para os hospitais de Bragança, Vila Real ou Porto para uma consulta de pediatria.

Segundo dados do Censos de 2011, o concelho de Freixo de Espada à Cinta tinha à data 3.798 residentes, sendo que 501 eram menores de 18 anos.

Por seu lado, o comandante dos Bombeiros de Freixo de Espada à Cinta, Vitor Rentes, refere que, em caso de urgência pediátrica, há um longo caminho a percorrer até chegar um hospital de referência.

"Se houver uma urgência pediátrica durante o período diurno, ou seja até às 22:00, o médico vai pedir transferência da criança, normalmente para o hospital de Mirandela, que fica a cerca de 100 quilómetros de Freixo, o que equivale a cerca de hora e meia de viagem. Ou então para Bragança, que são 130 quilómetros de distância e quase duas horas de viagem", concretizou o operacional.

Já no caso noturno, depois das 22:00, os pais ligam para o número de emergência nacional, o 112. Aqui, os bombeiros ficam dependentes da triagem do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) que pode encaminhar o doente de ambulância, ou outro meio, para as unidades de saúde onde haja urgência pediátrica.

"Há casos em que podemos ter de andar cerca de 150 quilómetros, se nos mandarem para o Hospital de Vila Real. Em qualquer situação, são sempre muitos quilómetros a percorrer ", vincou o responsável.

Vítor Rentes afiançou que numa situação destas, uma ambulância pode ficar mais de meio-dia com um só serviço.

Foto: António Pereira



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