“Vou Libertar” é o título do primeiro trabalho pela nova editora, a Vensil, que deverá sair já no início de 2002 com uma música mais elaborada e ritmos variados. Numa entrevista ao O Emigrante/Mundo Português, Micaela fala de si, da sua música e da relação com as comunidades portuguesas, onde, garante, é tratada como uma rainha. Em Portugal, afirma Micaela, os artistas não são tratados todos da mesma forma. Definindo-se como uma cantora de música ligeira, rejeita o rótulo de “pimba” e afirma: “Se sou “pimba” por cantar em português e por agradar as pessoas, então deixai-me ser “pimba” porque é agradável, é muito bom”...

Conte-nos um pouco de si...
Comecei a minha carreira há 14 anos, mas a nível profissional, a solo, comecei há seis. Gravei os sucessos que as pessoas conhecem e neste momento mudei de editora, porque aquela onde eu estava teve que encerrar actividades. Estou agora com a editora Vensil e estamos a gravar um novo trabalho, espero que pelo menos em Janeiro esteja pronto um single, para que as pessoas comecem a ouvir, e em Março saia o trabalho completo. A nível pessoal, não costumo falar muito. Tenho 22 anos, nasci no Laranjeiro, no Hospital da Marinha, vivo na zona da Aroeira, na margem sul, onde tenho passado a maior parte da minha vida e tenho uma pessoa com quem vivo há três anos.

Fale-nos desse novo trabalho? Já tem nome?
Tem, chama-se “Vou Libertar”. Neste trabalho, pela primeira vez na minha vida, pude escolher os autores e compositores das músicas e variei bastante, quis ir buscar autores diferentes para ter estilos diferentes e não serem sempre as mesmas melodias e os mesmos vícios. Não se limita a um estilo de música concreto, tem uma variedade muito grande. E é um trabalho diferente porque estou muito mais inteirada dele, posso escolher as minhas músicas e dar opiniões. O tema principal é um tema latino, escrito pelo Toy, que tem como título “Vou Libertar”, o que tem muito a ver comigo, tenho muita vida e acabo por me libertar mesmo. Depois tem temas românticos, tem também alguns temas do Tozé Morais, que ainda estão no segredo dos deuses, bem como de outros autores. Posso dizer que é um trabalho muito giro.

E em termos de promoção?
Neste momento estamos a fazer a promoção na comunicação social apenas a nível de revistas e jornais, e em televisão e rádio será mais promovido quando o single estiver cá fora para começarmos então a andar na estrada. Quanto a espectáculos, vão-se fazendo sempre.

Como tem sido a sua relação com as comunidades portuguesas?
Óptima. Este ano estive 13 vezes na Suíça, até pensei comprar lá uma casa(risos). Já fui também à Alemanha, ao Luxemburgo, a França, já percorri quase toda a Europa a fazer espectáculos para as comunidades portuguesas.

E como é que o seu trabalho é recebido nas comunidades? Como é essa relação?
É um público completamente diferente. Aqui em Portugal, quando vamos às festas sabemos à partida que são festas tradicionais, anuais, que as pessoas vivem muito para essas festas, para os Santos, para angariar fundos para a Igreja, essas coisas. Mas lá é o recordar, é o juntar todos os portugueses e recordar as músicas, recordar a Língua em si. Logo aí é diferente, mesmo na maneira como nos tratam. Parece que quando chegamos lá somos uns reis e é engraçadíssimo, eu gosto imenso. É um público extremamente divertido, eu faço grandes amigos. Tanto é que as pessoas que organizam essas festas costumam vir de férias a Portugal e nós encontramo-nos sempre porque criamos laços de amizade muito grandes, são pessoas extremamente simples, com umas saudades enormes de Portugal.

Como descreve a sua música? Hoje em dia fala-se muito em “música pimba”?
Fala-se no que se fala, mas nunca me considerei isso, logo, essas coisas a mim não me afectam, podem chamar o que quiserem. Costumo dizer que se sou “pimba” por cantar em português e por agradar as pessoas, então deixai-me ser “pimba” porque é agradável, é muito bom. Mas não me considero. Considero-me uma cantora de música ligeira, daquela música mais imediata, que as pessoas ouvem e fica à primeira, o refrão e a melodia em si ficam à primeira.

Que importância atribui à imagem?
A imagem é importante, mas ao longo de sete anos de carreira a solo, em que apareço na televisão e em revistas, sempre cuidei muito da minha imagem e sou uma pessoa muito reservada, não gosto de mostrar nada. Excepto num trabalho em que escolheram o visual por mim, não foi por meu mérito, apareço sempre com ‘tailleur’, com vestidos simples, não muito decotados. Sempre tive essa preocupação porque é uma forma de estar, é uma forma de me sentir bem. Mesmo em palco, o que vence na altura é a minha imagem, mas não a imagem visual a nível de roupa, é aquilo que eu transmito às pessoas, é o que eu faço em palco, é o que eu canto. Há pessoas que dizem - “eu pensava que ela vinha mais despida” - porque não vou, e se estão à espera, peço imensa desculpa por desiludir as pessoas, mas é a minha forma de estar e têm que respeitar.

Sempre sonhou em ser cantora?
Naquela fase da escola primária queria ser Educadora de Infância, depois quando entrei para a preparatória comecei a cantar e dançar nas brincadeiras de escola e isso começou a mexer muito comigo. Tinha na altura colegas que pertenciam aos “Onda Chock” (grupo de música juvenil) e foi aí que comecei a integrar-me nesse grupo e as ideias começaram a virar-se muito para a música, para a moda. Tive pelo menos cinco anos integrada na moda, fiz várias sessões fotográficas e várias passagens de modelos, mas a música pesou sempre muito mais nos meus 12, 13 anos.

Entrando mais no campo pessoal, como se descreve?
Sou extremamente bem disposta. Costumo dizer que se a vida nos corre mal as pessoas que nos rodeiam não têm a culpa e mesmo se não estou bem tento transmitir o contrário. É uma forma de estar. Sou uma pessoa com muita vida, detesto estar parada. Gosto muito de estar com os meus amigos, todos os dias procuro estar com a minha casa cheia de gente. Para além disso, sou extremamente meiga, muito frágil, qualquer coisa me magoa, e sou muito teimosa. Há muitas coisas que podia dizer, mas não é fácil ser eu a descrever-me.

Como é que a família vê a sua carreira, a sua exposição pública?
Eu nunca exponho a minha vida pessoal, é como se houvesse uma barreira. Em relação à minha carreira, a minha família apoia completamente. Os meus pais (Manuel Silvestre Figueiredo e a mãe Maria Teresa) andam na estrada comigo há sete anos. Em prol da minha carreira deixaram sete anos das suas vidas para viver somente para mim e é fantástico, são os meus melhores amigos e é a eles que eu devo tudo o que sou hoje. Tenho também uma irmã, já casada com dois filhotes, que é a Telma Sofia.

Como acha que a música portuguesa é tratada em Portugal?
Há muita gente a cantar música portuguesa em vários estilos. Temos artistas que criaram um estatuto na sociedade e que têm uma forma de ser tratados e temos músicos de música ligeira que têm outra forma de ser tratados. Eu posso ver isso porque, por exemplo, nós que cantamos a música popular portuguesa e somos intitulados cantores “pimba”, não frequentamos certos sítios, não vamos a certas revistas, talvez por sermos os artistas da música brejeira, como é chamada, atenção, porque não me considero.

Que mensagem gostaria de deixar para os portugueses que estão lá fora?
Sei que não é fácil estarmos longe de onde nascemos, das nossas raízes, mas tenham força, desejo que tudo vos corra bem. Para todos um Bom Natal, com muitos presentes no sapatinho, mas que um dos presentes seja muita paz e amor para todos vós. E que a entrada para 2002 seja com o pé direito e cheio de força para um ano melhor.



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