Famílias dedicam-se ao fabrico de biscoitos tradicionais. A vítima tinha baixado o preço. O cunhado e concorrente não gostou.

«Estava em casa a tratar do meu bebé quando, perto das 11.00, ouvi um estrondo, que me pareceu um tiro. Fui à janela e a primeira coisa que vejo é o meu vizinho Manuel Morais deitado à entrada da sua casa rodeado de sangue, e, o cunhado, António Manuel, a fugir com o capacete da mota na mão ao mesmo tempo que a mulher dele lhe gritava «ah! homem, que desgraçaste a tua vida!».»

Foi assim que Cláudia descreveu ao DN o episódio que ontem era motivo de todas as conversas em Ventuzelas, Mesão Frio. António Manuel, de 58 anos, disparou à queima-roupa sobre o seu cunhado, Manuel Morais, reformado da Guarda Nacional Republicana, de 53 anos. Atingiu-o no coração, e Manuel acabou por não resistir. A arma utilizada foi uma 6.35 que até agora ainda não foi recuperada pela Polícia Judiciária, que investiga o caso.

O DN apurou que o móbil do crime estará relacionado com o fabrico e comercialização do biscoito da Teixeira, um doce característico do concelho de Mesão Frio, muito apreciado em Trás-os-Montes e Alto Douro, onde é presença imprescindível em feiras e romarias (ver caixa).

Há muito que as duas famílias se dedicavam à confecção e venda do biscoito da Teixeira, mas, nos últimos tempos e face à menor procura do produto, Manuel Morais, que vendia nas feiras com a mulher e a filha, baixou o preço do doce, o que causou insatisfação por parte do cunhado, António Manuel. Este acusava-o de concorrência desleal e de lhe estar a estragar o negócio.

A produção do doce da Teixeira é um negócio rentável, que ocupa muitas centenas de habitantes do concelho de Mesão Frio e Baião, onde se fabricam cerca de três mil quilos por mês. O preço médio por quilo desta iguaria tão apreciada na zona é de quatro euros.

Após discussão, o presumível homicida resolveu, juntamente com a sua mulher, irmã de Manuel Morais, pedir satisfações a este pelo prejuízo que lhe estaria a causar. Segundo testemunhos, a discussão foi curta e culminou com um tiro no coração disparado à queima-roupa.

Após o tiro, o corpo do reformado da GNR ainda apresentava sinais de vida e só após a assistência por parte dos Bombeiros de Mesão Frio foi declarado o óbito.

Após ter atingido o cunhado, António Manuel fugiu do local, na sua motorizada, tendo-se apresentado no posto da GNR de Paredes a cerca de 70 quilómetros do local do crime.

A mulher e filha de António Manuel não se encontravam em casa no momento da discussão e posterior crime. Foram avisadas pelos bombeiros, na estrada, quando estes se dirigiam para o local. Abaladas, acabaram por receber assistência na estrada, depois de saber do sucedido. O DN tentou, sem sucesso, falar com os familiares, mas estes não se mostraram disponíveis.

O corpo da vítima foi transportado para o Gabinete de Medicina Legal do Hospital de Vila Real onde será autopsiado amanhã. O presumível homicida será presente pela Polícia Judiciária de Vila Real no Tribunal Judicial de Mesão Frio para aplicação de medidas de coacção.



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