Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Podia falar mas ninguém ia ouvir ou entender…

Crónica 251 podia falar mas ninguém ia ouvir ou entender… 2 maio 2019

 

Podia falar da tentativa de golpe de estado na Venezuela mas não vale a pena, temos ditadores de um lado e de outro e os apoiantes de cada lado não primam nem pela decência nem pela democracia.

Podia falar das campas de militares abandonadas em África que o Estado Português não traslada para Portugal por, alegadamente não ter dinheiro (acaba de perdoar mais de cem milhões de euros a um dos mais ricos portugueses, João Pereira Coutinho que vendeu a SIVA à Porsche por um euro ), comprovando o que ando a escrever desde os anos 1960, em África e noutros locais para onde fomos mandados fardados pelo exército colonial éramos mera carne para canhão.

Podia falar dos biliões já gastos pelo mesmo Estado a salvar bancos falidos sem compensar os pobres clientes desses bancos que ali tinham as suas poupanças.

Podia falar da anedota da semana, uma zebra às cores que uma delegação do CDS em Arroios (Lisboa) queria implementar contra a homofobia, talvez se se pintassem às cores LBGT tivessem mais sucesso eleitoral…

Podia falar do silêncio mundial sobre as catástrofes em Moçambique mas fica longe (e quase ninguém sabe bem onde é).

Podia falar da dívida pública portuguesa ter ultrapassado os 250 mil milhões em março (mas também ninguém quem é ou onde fica).

Podia falar do preço dos combustíveis nas ilhas Canárias: gasóleo 0,86 cêntimos e Gasolina 98 a 0,91€, enquanto nos Açores custam respetivamente, 1,262€ e 1,556€.

Podia falar do salário mínimo cá (€630.00) e lá (600.00€) ou mesmo no Luxemburgo (2071,70€ em janeiro 2019).

Podia falar daquele hotel que querem construir com mais de 500 quartos em Vila Franca do Campo (Água d’Alto) (ou do outro prestes a concluir na Ribeira Grande com mais de 300 quartos) mas sei que me virão dizer que vai criar muito emprego (de pessoas  que não existem pois não estão qualificadas para lá trabalhar), podem dizer que a praia está sempre sempre sempre deserta e o hotel nem se vê da estrada Regional (disse-o o senhor Presidente da Câmara local), ou que maqueta não fazia jus á beleza do mono (uma caixa de fósforos comprida (e ninguém sabe já o que são fósforos), podem dizer que é de um empresário madeirense de sucesso (mas quem é que no seu juízo quer a funchalização dos Açores???), que os custos são suportados a 85% pela Europa (como se a EU percebesse do balanço ecológico e sustentável deste arquipélago)

Podia falar de tempos antigos que, FELIZMENTE não voltam mais, embora surjam mais e mais saudosistas que decerto nunca viveram nesta triste realidade…

 

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Podia falar disto tudo ou mais… mas hoje ninguém fala, de olhos postos nos smartphones ou quejandos, perdeu-se o gosto por falar, o vocabulário reduzido a grunhidos ininteligíveis…

Para o Diário dos Açores e Diário de Trás-os-Montes

Chrys Chrystello, Jornalista

[MEEA/AJA (Australian Journalists' Association – Membro Honorário Vitalício nº 297713,) carteira profissional AU3804]

 

 


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