Chrys Chrystello

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O advento das ditaduras

O advento das ditaduras

Há muitas teorias a explicarem o surgimento das ditaduras, e o momento atual é mais propício que nunca a esse surgimento, pois será o próprio povo a pedi-las, quando vemos imbecis a passearem neste passado fim de semana na Póvoa de Varzim, no Choupal em Coimbra, na Caparica e em tantos outros sítios, contra a determinação legal de ficar em casa para evitar maior propagação do SARS-CoV2.

Os governos recentes de Portugal nesta última década emprestaram milhões aos bancos para os salvarem (em vez de salvarem os depósitos e os investimentos dos seus clientes, BANIF, BES, etc.) e propõem agora nesta crise que os bancos nos emprestem a juros bonificados o nosso dinheiro, assim, o governo em vez de colocar dinheiro na economia pede que nos endividemos ainda mais.

A saúde em Portugal e noutros países tem sido deliberadamente esquecida nos orçamentos dos últimos anos e agora pedem milagres a médicos e enfermeiros que não dispõem de meios para tratar de todos os doentes. Saíram milhares de enfermeiros e médicos nas últimas décadas e que seriam bem necessários agora mas estão a trabalhar noutros países onde os seus serviços eram melhor remunerados do que cá, onde ainda há pouco mais de metade do país se insurgia contra  a  greve dos profissionais que clamavam por melhores condições e são esses mesmos que hoje pedem aos enfermeiros ajuda.

Já se sabe que os privados da saúde estão a lucrar milhões por dia com o SARS-CoV2 (na vizinha Espanha, que não é exemplo para nada, foram temporariamente “nacionalizadas” as clínicas privadas, cá fazem lucros com a falta de meios dos serviços públicos de saúde). E para mais enviam material aos médicos e enfermeiros improvisarem máscaras e óculos que de nada protegem, mas ficam bem na fotografia a fingir que há meios…

Virão nos próximos meses tempos difíceis com milhares de pessoas sem salário nem emprego nem futuro, numa economia de sobrevivência que não se compadece com solidariedade social.

Como escrevia há dias Joffre Justino:

Em tempos de guerra temos sabido o que são as ‘economias de sobrevivência ‘ e podemos dividi-las considerando os seguintes grupos já existentes : 

  • as economias do vale tudo dominados por grupos armados violentos totalitários onde o Poder tudo domina sem lei nem regra e vimos o que sucedeu nos Balcãs, na Libéria, ou na RD Congo – neles, nas que continuam a ser assim não há economia é o desastre da comunidade humana 
  • As economias do vale tudo na linha neo liberal onde os fracos os velhos não sobrevivem “naturalmente” porque “assim é a livre economia” criticada hoje não só pelos revolucionários esquerdistas mas também por vozes como as do papa Francisco, e a deste Presidente de El Salvador ( enfim uma economia assim nem tanto vale tudo…) – os casos evidentes dos recuos de Trump de Boris Johnson ou de Bolsonaro face ao arrasador poder do adversário COVID-19 que tem atacado sobretudo as classes altas e medias por mais viajadas mundo fora, mostram o seu fracasso e a importância das economias solidárias que investem na saúde na educação na proteção social 
  • As economias estatistas onde uma parcela das elites se considera toda poderosa e com o direito de controlar a informação – o infeliz iniciar do COVID-19 na RPChina felizmente rapidamente colmatada e com forte controlo do crescimento dos casos de infeção 
  • As economias privatistas ou de estatismo mitigado com os modelos de proteção social diminuídos pela imposição dos modelos neoliberais como a Itália, a Alemanha, a França,  a Espanha, Portugal, enfim a UE – quanto pior é o sistema de saúde global mais grave tem sido o impacto do COVID-19

Como solução uns apontam eurobonds, outros sugerem um salário global a todos para manter a economia viva, outros propõem o que se chama dinheiro atirado de helicóptero, noutros casos grande apoios a empresas  e esmolas aos trabalhadores e, finalmente os que propõem um novo Plano Marshall. Não sabemos o que daqui vai sair, além das mortes anunciadas, mas o mundo e a atual economia globalista não devem sobreviver. A economia, tal como a democracia, não pode ser suspensa por meses até a crise acabar e é isso que muitos pensam conseguir. Na Austrália com crescimento económico há 3 décadas, de um dia para o outro vão surgir 2 milhões de desempregados (quase 10% da população) e salvar-se-ão algumas empresas, mas  um enorme custo social da população e da enorme depressão e/ou recessão que virá nestes meses.

Em Portugal e aqui nos Açores em vez de se injetar dinheiro na economia  a fundo perdido é-nos pedido a nós indivíduos e empresas que nos endividemos ainda mais.

Será um  mundo bem diferente e pior o que vai surgir desta pandemia, e nem menciono os mortos, estou a pensar apenas nos vivos e sobreviventes.

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 [Australian Journalists' Association MEAA]

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