A ligação aos netos nascidos no Grão-Ducado e o acesso a cuidados de saúde podem levar a maioria dos emigrantes portugueses da primeira geração a decidir não voltar a Portugal após a reforma, aponta um estudo da Universidade do Luxemburgo.

O objetivo do estudo 'Planos futuros e regulação do bem-estar de imigrantes portugueses idosos no Luxemburgo' era saber se a primeira geração de emigrantes prefere ficar no país ou regressar a Portugal e que fatores influenciam a decisão.

A pergunta foi feita a 109 imigrantes com idade média de 55 anos, 65% dos quais ainda a trabalhar.

A maioria dos inquiridos (43%) quer ficar no Luxemburgo, contra apenas 21,5% que pretende regressar a Portugal, havendo ainda 25% que disse preferir viver entre os dois países após a reforma.

No entanto, quando chegaram ao Luxemburgo, a esmagadora maioria dos inquiridos (73%) pensava regressar a Portugal.

O estudo procurou saber o que os fez mudar de ideias.

À cabeça das razões para ficar no Grão-Ducado estão os netos, aponta o estudo.

"Enquanto os participantes não diferiam em relação ao número de filhos, foi encontrado um efeito significativo quanto ao estatuto de avós", pode ler-se no documento.

Mais de metade do grupo que prefere ficar no Grão-Ducado (55%) tem netos a viver no país, tal como 48% dos que optam por dividir o tempo entre os dois países.

Em contrapartida, só 13% dos que querem voltar a Portugal são avós.

Outra das razões a pesar na balança é o acesso a cuidados de saúde.

"De maneira geral, têm mais confiança no sistema de saúde do Luxemburgo: é o que eles conhecem, e mesmo os que decidem partilhar o tempo entre os dois países acabam por vir cá para as consultas com os médicos", explicou a psicóloga Stéphanie Barros Coimbra, uma das investigadoras que assina o estudo.

O inquérito também indica que aqueles que sentiram mais dificuldades de integração no país (aquilo a que no estudo se chama 'stress de aculturação') têm mais tendência para querer regressar a Portugal.

Sem surpresa, o tempo passado no Luxemburgo também pesa na decisão: o grupo que pretende regressar a Portugal viveu em média 25 anos no país, contra 32 anos no caso dos que querem ficar no Grão-Ducado ou viver entre os dois países.

"Quanto mais tempo uma pessoa passa no país, mais se sente ligada ao Luxemburgo e provavelmente menos vontade tem de regressar, pelo menos de forma definitiva", explicou a investigadora.

Para Stéphanie Barros Coimbra, as conclusões são importantes para as políticas dirigidas aos emigrantes portugueses na terceira idade.

"O que o nosso estudo mostra é que grande parte dos emigrantes portugueses querem ficar no Luxemburgo, e daqui a uns anos vai ser preciso adotar medidas para melhorar o quotidiano desta população e facilitar os cuidados nos lares de idosos, por causa, por exemplo, das barreiras linguísticas", defendeu a investigadora.

Outro estudo da Universidade do Luxemburgo, divulgado pela Lusa em 16 de julho, alertava para o isolamento social dos emigrantes portugueses nos lares do país, devido a dificuldades com o luxemburguês, o idioma usado na maioria das instituições da terceira idade.

A situação pode contribuir para doenças como a depressão e a demência, apontava a revista "Biografias e redes de apoio social (trans)nacionais de migrantes idosos no Luxemburgo", que reúne uma série de estudos das investigadoras Ute Karl e Anne Carolina Ramos.



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