Opositores à mina de lítio prevista para Montalegre manifestaram-se hoje usando lápides e cruzes para mostrar que a exploração mineira poderá significar a “destruição do concelho”, da agricultura, da água e do Património Agrícola Mundial.

Entre os manifestantes, que percorreram as ruas da vila do Norte do distrito de Vila Real, seguia uma carrinha e ainda carretas com lápides e cruzes que representavam as 25 freguesias do município de Montalegre e um “cemitério pós-minas”.

"É o que poderá vir a acontecer se permitirmos que haja minas no nosso concelho”, explicou Armando Pinto, da Associação Montalegre Com Vida.

A região do Barroso é Património Agrícola Mundial e Reserva da Biosfera, distinções que o responsável considera que “são incompatíveis” com a mina de lítio a céu-aberto que a Lusorecursos Portugal Lithium quer explorar na zona de Morgade.

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da mina do Romano está em fase de análise pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

“Nós pertencemos a uma zona protegida e uma zona protegida não é compatível com minas. Esta região tem um selo que só há oito em todo o mundo e deve ser preservado. Montalegre perderá o selo de Património Agrícola Mundial caso este tipo de explorações aconteça na nossa região”, salientou Armando Pinto, numa mensagem também dirigida à ministra da Agricultura que, ao mesmo tempo que decorria a manifestação, visitava a Feira do Fumeiro.

O protesto foi convocado para hoje, dia em que decorre a Feira do Fumeiro que é um evento "âncora" e atrai milhares de visitantes a este concelho do Norte do distrito de Vila Real.

Para os manifestantes é um “contrassenso” estar promover a agricultura e os produtos endógenos “de qualidade” produzidos no concelho quando, ao mesmo tempo, se quer avançar com uma mina.

“A qualidade da nossa batata vai ser diferente, a qualidade do fumeiro e dos nossos porcos vai ser diferente, tudo vai ser mais ruim”, referiu Maria Branco, de Montalegre e que hoje fez questão de participar no protesto contra a mina.

Ana Andrade, de Rebordelo, é neta de mineiro, pintou os olhos de negro para representar a cor do carvão das minas e disse que se veio manifestar “por tudo”.

“Por causa dos terrenos que eu não quero ceder, por causa de destruírem tudo, porque o minério vai contaminar a águas, não vai poder haver agricultura. Isto vai ficar um deserto totalmente e a população tem que sair daqui para ir para outro lado”, referiu.

José António também repete a mesma queixa. “Querem-nos tirar tudo, queremo-nos tirar a água, tudo o que temos e que é bom”, afirmou este agricultor e produtor de gado bovino, de Morgade.

Maria Loureiro vive perto de uma futura exploração mineira, mas em Covas do Barroso (Boticas), e fez questão de se juntar ao protesto dos vizinhos de Montalegre.

“Vamos ser afetados a 100% em água, em ar, em poluição, e barulho, nos terrenos, porque vivo da agricultura e tenho muitos terrenos envolvidos na água que eles nos querem afetar”, afirmou, salientando que as “minas vão destruir o modo de vida” destes territórios.

Armando Pinto destacou ainda o consumo de água previsto para a mina, ou seja, “10 mil metros cúbicos por dia”. “É 10 vezes mais aquilo que consome o concelho de Montalegre na sua totalidade de, é algo brutal que nós não podemos deixar passar”, salientou, destacando ainda as “inúmeras lacunas gravíssimas” detetadas no EIA.

O responsável lembrou o ano de seca, em 2022, e apontou para a albufeira da barragem do Alto Rabagão (Pisões) que, no ano passado, desceu a níveis históricos e, neste momento e apesar da “quantidade de chuva que já caiu”, praticamente ainda “nem sequer está a meio” da sua capacidade.

A consulta pública do EIA da minha do Romano terminou em maio com 511 participações submetidas no portal “Participa”.

Esta foi uma das maiores participações registadas naquele portal ‘online’, relativamente a projetos mineiros.

O EIA da mina de lítio para Montalegre prevê uma exploração mista, a céu aberto e subterrânea, bem como a construção de refinaria para transformação do minério.



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