O português Amaro Antunes (W52-FC Porto), vencedor em 2020, é o novo líder da Volta a Portugal em bicicleta, após a oitava etapa, ganha pelo norte-americano Kyle Murphy (Rally Cycling) em Montalegre.

Depois de já ter vencido a segunda etapa, Murphy chegou isolado ao alto da Serra do Larouco, cumprindo os 160,7 quilómetros desde Bragança em 4:12.06 horas, menos 13 segundos do que o espanhol José Félix Parra (Kern Pharma) e 35 do que o português Henrique Casimiro (Kelly-Simoldes-UDO).

Na geral, Amaro Antunes subiu à liderança, com 14 segundos de avanço sobre o espanhol Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e 18 sobre o português Frederico Figueiredo (Efapel). Amaro Antunes é o quarto líder diferente na Volta deste ano.

Rafael Reis (Efapel), que ontem havia reconquistado a amarela na chegada a Bragança, perdeu muito tempo na tirada de hoje, que ficou marcada pelas três contagens de montanha (uma de 2.ª categoria e as duas últimas de 1.ª) e as elevadas temperaturas enfrentadas pelo pelotão nos mais de 160 quilómetros até Montalegre, com a Serra do Larouco a provocar nova reviravolta nas contas da classificação geral.

No sábado corre-se a última etapa em linha da Volta a Portugal, antes do contrarrelógio final em Viseu, com uma ligação entre Boticas e Mondim de Basto, com a meta a estar instalada no alto da Senhora da Graça, uma contagem de montanha de primeira categoria.

A meta hoje foi na Capital da região de Barroso, o concelho de Montalegre está plantado numa altitude que varia entre os 800 e os 1.525 metros onde encontramos a beleza ímpar da serra do Larouco.

 

Amaro Antunes está de amarelo mas ainda não parece feliz

O campeão em título Amaro Antunes recuperou hoje a ‘sua’ amarela, no regresso da W52-FC Porto ao seu passado recente, numa oitava etapa da Volta a Portugal em que o ciclista norte-americano Kyle Murphy ‘bisou’.

Deveria ter sido uma jornada feliz para o algarvio de 30 anos, mas aquilo que se viu no alto do Larouco foi um Antunes contido, talvez até apreensivo, sem festejos exuberantes e em clima de tensão com o seu colega Joni Brandão, depois de não ter conseguido sentenciar a geral, que lidera com 14 segundos de vantagem sobre Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), e 18 sobre Frederico Figueiredo (Efapel).

“[A amarela] era o objetivo. Foi com esse objetivo que eu e a equipa viemos para a Volta a Portugal. Esta camisola, tenho vindo a dizer, dá uma força extra e, de facto, cheguei lá. Tenho-a em minha posse. A equipa hoje mostrou o verdadeiro ADN do FC Porto, fizemos uma corrida, na minha opinião, perfeita. Estamos na frente, estamos de amarelo e faltam dois dias duros, mas que iremos encarar com foco e muito querer”, declarou, depois de subir ao pódio.

Esperava-se muito da primeira de três etapas decisivas, mas o Larouco ‘pariu um rato’, com as diferenças entre os candidatos à geral a contarem-se em segundos, num dia em que a W52-FC Porto voltou às suas raízes, sem o sucesso de outros tempos.

A fórmula (desinteressante) das três etapas anteriores repetiu-se hoje nos 160,7 quilómetros entre Bragança e o ponto mais alto de Montalegre: uma sucessão de ataques desembocou em nova fuga numerosa, integrada, entre outros, por Henrique Casimiro (Kelly-Simoldes-UDO), o 15.º da geral, e o seu companheiro Luís Gomes, em busca da camisola dos pontos, assim como Bruno Silva (Antarte-Feirense), o líder da classificação da montanha, e aquele que haveria de ‘bisar’ nesta edição, o norte-americano Kyle Murphy.

Sem elementos entre os fugitivos, a W52-FC Porto e a Efapel lançaram, respetivamente, Daniel Mestre e André Cardoso para tentar alcançar a frente da corrida, uma tentativa infrutífera que manteria a fuga restrita aos 18 elementos iniciais, com uma vantagem que nunca superou os cinco minutos.

No início da escalada a Torneiros, uma subida de quase cinco quilómetros de extensão, catalogada como de primeira categoria, a W52-FC Porto assomou em força à dianteira do pelotão, repetindo a tática tão bem sucedida nas edições anteriores.

O ritmo violento imposto pelos ‘dragões’ ‘rebentou’ o pelotão – Rafael Reis (Efapel) perdeu a amarela aí -, mas também os próprios, deixando João Rodrigues e Joni Brandão como escudeiros únicos de Amaro Antunes, a mais de 30 quilómetros para a meta e ainda com o Larouco para escalar.

Com o campeão de 2019 a abdicar, novamente, das suas aspirações individuais em nome da W52-FC Porto – houve até um momento em que gritou a Brandão para trabalhar, quando estava a atravessar maiores dificuldades -, o grupo de candidatos chegou ao início da subida em versão reduzida, integrando ainda Figueiredo, Mauricio Moreira e António Carvalho, os inevitáveis Efapel, mas também Marque e o líder da juventude, Abner González.

No sopé do Larouco, os últimos resistentes da fuga dispunham de uma margem superior a dois minutos, suficiente para o valoroso Murphy, que atacou a quatro quilómetros do alto, cortar a meta isolado, com o tempo de 04:12.06 horas, 13 segundos antes do espanhol José Parra (Kern Pharma). Casimiro foi terceiro, a 25 segundos, mas ‘recebeu’ como prémio de consolação a entrada no ‘top 5’ – está a 57 segundos da amarela.

Mas a vitória de Murphy, que até esta Volta não sabia o que era ganhar e, agora, tem dois triunfos no palmarés, foi ainda assim um mero pormenor num enredo muito mais interessante: o Larouco desvendou o que já se sabia e, hoje, ficou provado que, apesar das promessas do início da temporada, Brandão só trabalha para Brandão.

O ‘portista’ até puxou no grupo, depois de acelerar a dois quilómetros da meta com Antunes na roda para fazer descolar António Carvalho, cada vez menos líder da Efapel – é nono a 02.15 minutos – e González, com o seu ritmo a deixar Marque em dificuldades (perdeu 19 segundos para o novo camisola), mas acabou mesmo por atacar, para roubar dois segundos ao seu colega na meta e colocar-se na sexta posição da geral, a 58.

A atitude de Brandão, que passou longos quilómetros no último lugar do grupo dos favoritos enquanto Rodrigues deixava ‘a pele’ na estrada pelo seu ‘vizinho’ algarvio, desagradou a Antunes, que, num primeiro momento, evitou um abraço do seu companheiro, que lhe ia dizendo ‘o que interessa, estamos à frente ou não?’, antes de, ciente da presença de jornalistas, aceitar, finalmente, o cumprimento.

Sim, Antunes está de amarelo, mas, depois de uma oitava etapa em que a sua equipa se desgastou mais do que qualquer outra, tem apenas 14 segundos de vantagem sobre Marque, um dos maiores especialistas da luta contra o cronómetro no pelotão nacional, e 50 sobre Mauricio Moreira (Efapel), o quarto classificado que hoje voltou a atacar nos derradeiros metros para recuperar mais seis segundos em relação ao líder da geral.

A dois dias do final da 82.ª edição, e com a nona etapa a ligar Boticas e ao alto da Senhora de Graça (Mondim de Basto), no total de 145,5 quilómetros, o pódio parece entregue aos seis primeiros da geral.

 

8.ª etapa - Declarações

Kyle Murphy (vencedor da etapa): “Adoro isto [Portugal]. Tenho muito boas memórias.

Hoje foi muito difícil entrar na fuga, porque havia muitos corredores com objetivos na geral. Foi um dia mais relaxado para mim, tentei poupar energia, para, depois, tentar lutar pela etapa. No final, foi muito ‘apertado’, o FC Porto estava a puxar muito lá atrás. Fico contente por não ter feito parte disso.

Com o vento de costas na subida, dei o meu máximo e consegui manter-me na frente. Estou muito feliz”.

 

Amaro Antunes (líder da geral individual): “[Tensão com Joni Brandão] Isso não foi verdade. Passámos a meta e falámos da situação de corrida, nada mais.

[A amarela] era o objetivo. Foi com esse objetivo que eu e a equipa viemos para a Volta a Portugal. Esta camisola, tenho vindo a dizer, dá uma força extra e, de facto, cheguei lá. Tenho-a em minha posse. A equipa hoje mostrou o verdadeiro ADN do FC Porto, fizemos uma corrida, na minha opinião, perfeita. Estamos na frente, estamos de amarelo e faltam dois dias duros, mas que iremos encarar com bastante foco e muito querer.

É normal [críticas], são situações que acontecem. Esta equipa habituou os adeptos a estar sempre na frente. Este ano, a corrida tem sido algo descontrolada no sentido do camisola amarela, porque da nossa parte temos as coisas bem definidas. Ainda ontem [quinta-feira] saímos com uma estratégia e, se calhar, em Viseu vamos dizer porque fizemos aquilo. Ou seja, as coisas vão acontecendo.

Esta Volta tem sido algo desgastante para todos, mas penso que a nossa estratégia está a começar a dar os frutos.

O objetivo só termina em Viseu e esperamos que em Viseu possamos erguer os braços com esta camisola.

Se analisarmos as coisas, o contrarrelógio no final da Volta muda muito [na geral]. Se formos ver o ano passado, o tempo foi idêntico, o [Alejandro] Marque não me ganhou tempo. Inclusive, em 2017, [no contrarrelógio de Viseu] os tempos também foram muito parecidos”.

 

Alejandro Marque (segundo classificado da geral individual): “Está tudo muito interessante. Vai ser uma última etapa de montanha interessantíssima. Hoje, viram-se muitas movimentações, foi uma corrida muito atacada. Nós, fizemos aquilo que tínhamos de fazer.

Perdi uns segundinhos, mas estou numa posição muito boa. Amanhã [sábado] tenho de agarrar-me com unhas e dentes e perder o mínimo de segundos possível, para chegar ao contrarrelógio com as melhores opções.

Efetivamente, sim [a ideia é perder o mínimo tempo na montanha]. Aí [no contrarrelógio] é um terreno que me favorece mais a mim. Está a ser uma Volta muito dura e estou a defender-me muito bem. Foi pena termos aqueles azares naquele dia [queda de Gustavo Veloso], porque tínhamos o Gustavo em segundo lugar e agora estaríamos a falar de outra maneira. Mas é o que há, é assim o ciclismo.

Ainda não fiz os cálculos mentais [de quanto pode perder na Senhora da Graça], mas vi pela internet os tempos que fizemos no último contrarrelógio em Viseu, e a verdade é que tirei 50 e pouco segundos ao Amaro nesse ‘crono’. Mas nem todos os anos são iguais, depende das forças com que chegues ao último dia”.

 

António Carvalho (nono classificado da geral individual): “Irei ser o líder na mesma, como fui até aqui. Ser líder não significa que os meus colegas tenham de trabalhar para mim, ser líder é e será dentro da corrida tomar as melhores decisões, sempre em prol da equipa.

A Volta ainda não acabou. Está prometido [que vai atacar na Senhora da Graça]”.



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