Os produtores de folar de Valpaços dispõem de uma plataforma para venda ‘online’ que quer encurtar distâncias com o consumidor, potenciar negócios ao longo de todo o ano e conquistar novos mercados.

As edições de 2020 e 2021 da Feira do Folar deste município do distrito de Vila Real, agendadas para o fim de semana anterior ao da Páscoa, foram canceladas por causa da pandemia de covid-19. Este ano, o certame decorreria de 26 a 28 de março.

O folar é feito com farinha, ovos, azeite, presunto, linguiça e salpicão, é presença obrigatória na mesa dos transmontanos durante a celebração da Páscoa e, o de Valpaços, é um produto com indicação geográfica protegida (IGP) desde 2017.

Sem feira física, encontraram-se novas formas de potenciar os negócios e foi, nesse sentido, que a Câmara de Valpaços lançou a plataforma - www.folarvalpacos.pt - para venda de produtos regionais e que se irá manter ativa ao longo do ano.

“A plataforma é, sem dúvida alguma, uma mais-valia para o nosso concelho”, afirmou à agência Lusa Fábio Ervões, da padaria Panibom, na cidade de Valpaços.

Antigo jogador de futebol profissional, Fábio, de 34 anos, regressou à terra natal depois de uma lesão que o impediu de continuar a jogar, e juntou-se aos pais no trabalho na padaria há cerca de dois anos.

O folar é uma das apostas da família e, segundo defendeu, o “negócio ‘online’ tem tudo para crescer”.

“No ano passado foi um choque, ninguém estava à espera das proporções que este vírus teve (…). Estávamos todos preparados para a feira e quando não aconteceu foi uma tragédia por assim dizer porque, realmente, faz-se um ótimo negócio”, frisou.

O folar é um produto que já é vendido o ano inteiro, mas, segundo Fábio Ervões, nesta altura nota-se um aumento da procura. “São os telefones a tocar, as reservas, as pessoas já se começam a precaver para a Páscoa”, apontou.

O folar é industrial e tradicional, produzido pelas padarias ou em fornos de particulares, que aproveitam para irem fazendo algum rendimento extra.

“Por causa da covid-19 as circunstâncias são diferentes e temos que nós adaptar e vender de uma forma diferente”, afirmou Marisa Frade.

É a única produtora de folar artesanal que está, até ao momento, inscrita na plataforma. “Assim é mais fácil as pessoas terem conhecimento que estamos a fazer, que podem encomendar e que há forma de se fazer chegar a casa dos consumidores. É uma forma diferente como tudo neste ano”, salientou.

Concilia o folar com o trabalho na câmara, mas, para além de ser uma ajuda no orçamento familiar, é também "o gosto” que a faz dedicar-se a este produto. “Adoro o cheiro do forno, adoro amassar”, salientou.

Aprendeu com a mãe uma receita que foi passada de geração em geração e, aqui, a tradição é seguida à risca, desde os produtos, o bater a massa à mão, a levedura até às orações que são feitas enquanto os folares são metidos no forno. “E já quase consigo fazer como ela”, brincou.

Marisa disse que tem saudades da feira, do contacto direto com os clientes, do ambiente de festa e daquela “gente toda à procura e a provar”.

“Eram dias de muito trabalho, sem dormir, sem comer e sem parar. Em média, uma fornada pode demorar quatro horas desde que se amassa até que sai do forno”, frisou.

Em 2020 ainda teve algumas encomendas, mas “mais a nível local”, e este ano acredita que vai ser diferente. “Já nos preparamos de outra forma”, frisou.

Em edições anteriores, a Feira do Folar gerou um volume de negócios de cerca de 1,5 milhões de euros em vendas diretas e impacto no comércio e restauração, atraindo milhares de pessoas ao município, muitos espanhóis.

“É importante para a economia, mas, acima de tudo, para dar visibilidade ao que de melhor tem o concelho. É uma verdadeira montra dos produtos da terra”, afirmou à Lusa o presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida.

E, não sendo possível realizar fisicamente a Feira do Folar por causa da pandemia, o autarca afirmou que foi necessário “encontrar uma alternativa para apoiar os produtores”.

A plataforma foi ativada na segunda-feira e encurta distâncias entre o consumidor e o produtor.

Segundo Amílcar Almeida, pretende-se servir o cliente habitual da feira, mas também conquistar novos mercados e potenciar negócios ao longo de todo o ano.

“Para ajudar”, o município irá suportar os portes de envio, entre os dias 22 de março e 04 de abril, para compras de valor igual ou superior a 50 euros.

Para além do folar, “online” far-se-ão negócios com outros produtos do concelho como o bolo podre, vinhos, azeites, castanha e mel.

O presidente acrescentou que a câmara irá também “assegurar que a plataforma se mantenha disponível” para lá do período da Páscoa.

“É uma forma que nós encontramos de apoiar os nossos produtores, a nossa economia, atendendo ao impacto que esta pandemia está a ter junto das famílias e junto das empresas. É uma plataforma de apoio ao produtor do concelho e que se irá manter”, salientou Amílcar Almeida.



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