O incêndio que começou domingo em Murça, no distrito de Vila Real, entrou hoje numa fase de “consolidação”, mas o dispositivo de combate não será diminuído, garantiu o Comandante Regional do Norte da Proteção Civil, Rodrigues Alves.

Em declarações aos jornalistas, cerca das 13:00, o responsável disse que “os trabalhos de consolidação” estão a decorrer nos concelhos de Murça, Vila Pouca de Aguiar e Carrazedo de Montenegro [concelho de Valpaços]”, mas admitiu “preocupação” devido à acumulação térmica e ao vento, que poderá soprar com intensidade durante o resto do dia.

“Com isto não quer dizer que os trabalhos não continuem. O dispositivo não vai ser diminuído. Ficarão no terreno todos os meios para que se alguma situação nos surpreenda, seja debelada o mais rápido possível”, referiu o tenente-coronel Rodrigues Alves.

De acordo com o responsável, no local, pelas 13:00, estavam 733 operacionais apoiados por 254 veículos, 10 meios aéreos e 10 máquinas de rasto.

Rodrigues Alves frisou que “praticamente todas” as máquinas de rasto “estão empenhadas em trabalhos de consolidação”.

“Neste momento não temos frentes ativas. Temos tudo em trabalhos de consolidação. Neste momento não temos nenhuma situação que nos crie cuidado”, acrescentou.

Quanto à evacuação de aldeias, o Comandante Regional do Norte da Proteção Civil começou por salvaguardar que “todo o trabalho é feito com antecedência para salvaguardar vias humanas”, apontou que “algumas pessoas já foram restituídas aos seus lares”, mas remeteu pormenores para o Serviço Municipal de Proteção Civil.

“Tudo indica que o dia de hoje poderá ser mais calmo, mas com o vento que se está a levantar pode acontecer o que aconteceu no dia de ontem [segunda-feira]”, completou.

O incêndio, que teve início no domingo à tarde em Cortinhas, em Murça, alastrou-se por praticamente por toda a zona norte do município, entrando ainda nos concelhos de Vila Pouca de Aguiar e de Valpaços.

Por precaução, muitos populares, principalmente os mais idosos, foram retirados de várias aldeias, nomeadamente de Valongo de Milhais e de Ribeirinha.

O Governo decide hoje se prolonga a situação de alerta devido ao risco de incêndio rural, que termina às 23:59, ou se volta a ativar a contingência, que esteve em vigor até domingo durante sete dias.

Na última semana, o país enfrentou temperaturas elevadas e o dia mais quente foi 13 de julho, em que quase todos os distritos estiveram sob aviso vermelho, o mais grave emitido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Também foi em 13 de julho que a ANEPC registou o maior número de incêndios rurais este ano, num total de 193.

 

Incêndios: Residentes das aldeias de Murça recordam momentos assustores

Os residentes das aldeias de Murça atingidas pelo fogo recordaram hoje momentos assustadores, em que se uniram para ajudarem a salvar vidas, casas e animais das chamas que pintaram de negro todo o norte do concelho.

“O fogo atingiu dimensões nunca vistas, com projeções por todo o lado, mesmo no interior da aldeia, em alguns casebres abandonados, havia ignições. Esteve bastante complicado”, afirmou João Teixeira, residente em Mascanho e coordenador técnico da Associação Florestal do Vale do Douro Norte (Aflodounorte).

Foi na sede da associação, uma antiga casa florestal, que a agência Lusa encontrou João Teixeira. Localizada no parque florestal de Mascanho, a casa ardeu por completo.

“Felizmente tivemos os bombeiros que estavam sempre por perto, mais os populares que não saímos. Em situações destas as pessoas que têm capacidade devem ficar para ajudar e foi isso que também salvou a aldeia”, salientou, referindo-se ao incêndio que deflagrou no domingo, em Cortinhas, e que na segunda-feira atingiu grandes dimensões.

Residentes mais idosos de Mascanho foram retirados por precaução para a vila de Murça, tendo já regressado. Pouco antes do meio-dia estavam também a regressar a casa 63 populares de Serapicos e Ribeirinha, que permaneciam no pavilhão desportivo, faltando ainda 12 de Parede e Salgueiro.

“Nas habitações não houve danos, só na agricultura que é o que se vê. Tudo completamente destruído”, apontou João Teixeira.

O mesmo não aconteceu à sede da Aflodounorte “apesar de tudo limpo recentemente à volta”. “Foi fogo de copas, estas árvores adultas estão completamente desidratadas e com o calor, certamente, atingiu aqui a casa e ardeu”, contou.

João Teixeira referiu que o “fogo chegou muito rapidamente”. “Em poucos minutos estávamos rodeados de fogo. Nestas situações, com estes declives, com esta vegetação e com este combustível, estes fogos são incontroláveis. Ou se combatem logo numa fase inicial ou então é impossível, mesmo espécies que são mais resistentes ao fogo, temos aqui um campo de carvalhal e está completamente consumido pelas chamas”, frisou.

Para além de uma extensa área de pinhal, o fogo consumiu oliveiras, castanheiros e colmeias.

Paulo Augusto é operador florestal da Aflodounorte e descreveu “um dia muito complicado” que se viveu na segunda-feira.

“Foi um dia bastante duro. Foi tentar proteger aquilo que é nosso, mas infelizmente não tivemos a capacidade de resposta para defender”, disse, referindo que a sua equipa estava na casa florestal no momento em que o fogo chegou.

Foi, contou, “uma coisa tão rápida” e “chamas, línguas de fogo, com mais de 40 metros de altura”.

“Só tivemos tempo de meter a manga em cima do carro e fugir”, frisou, acrescentando que, de seguida, foram para as aldeias ajudar.

“Andámos em Valongo de Milhais, em Serapicos, a tentar proteger as habitações, os bens essenciais e a população”, sublinhou.

Pelas aldeias ameaçadas por fogo, esta equipa de sapadores florestais foi abrindo as portas aos animais domésticos.

Paulo Augusto disse que em poucas horas viu destruir tudo o que passava o ano a proteger.

A estrada que desce à aldeia de Penabeice é estreita e íngreme. Foi a sair da aldeia que um casal de idosos morreu, depois do carro onde seguiam ter caído numa ravina. Foram encontrados já mortos e as causas do acidente estão a ser investigadas pela GNR.

A área onde o carro ainda permanecia esta manhã estava completamente queimada.

Em Jou, Basílio Garcia disse que o dia de segunda-feira “foi assustador”.

“Foi complicado, tentámos ajudar-nos uns aos outros, com mangueiras, com as águas das casas, não havia luz, para combater estes perigos todos que entraram pelas casas”, lembrou, referindo que foram muitas as ignições que se iam vendo pela aldeia.

Não ardeu nenhuma casa. “Tentámos fazer tudo por tudo para salvaguardar as casas, a vida das pessoas, que era o mais importante, e os animais também”, frisou.

“A aldeia estava completamente rodeada pelas chamas. Não se conseguia ver nada, não se conseguia ver num raio de 150 metros, estava mesmo um caos. Só mesmo quem estava cá no meio é que percebe como isto estava. Foi muito assustador. Até me estou a arrepiar porque foi mesmo completamente fora do normal”, afirmou Basílio Garcia.

Pelas 12:00, de acordo com informação disponível no ‘site’ da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), encontravam-se no terreno 697 operacionais, 10 meios aéreos e 241 meios terrestres.

 

Cerca de 300 pessoas retiradas de várias aldeias de Murça - autarca

O presidente da Câmara de Murça, Mário Artur Lopes, adiantou que terão sido retirados cerca de 300 populares de várias aldeias do concelho por precaução devido ao incêndio que deflagrou no domingo, em Cortinhas.

Depois de num primeiro momento, o autarca não ter especificado um número de habitantes retirados por precaução, Mário Artur Lopes apontou, agora, para cerca de 300 pessoas envolvidas nesta operação.

As aldeias em causa são Valongo de Milhais, Ribeirinha, Penabeice, Mascanho, Paredes e Vale de Égua.

Os populares estão a ser transportados para o pavilhão desportivo de Murça e para a residência de estudantes, localizados naquela vila do distrito de Vila Real.

Junto ao pavilhão desportivo, onde está também instalado o posto de comando deste incêndio, a agência Lusa observou que os populares chegaram em viaturas da GNR, em ambulância da Cruz Vermelha, em carrinhas da escola profissional e ainda outras viaturas.

As pessoas foram retiradas das aldeias ameaçadas pelo incêndio que atingiu também o concelho vizinho de Vila Pouca de Aguiar e que lavra em zona de pinhal e mato desde domingo, rodeando várias aldeias.

Esta tarde, um casal de idosos foi encontrado morto, após um acidente que ocorreu numa zona ardida e que está a ser investigado pela GNR.

“O que ardeu neste momento é seguramente metade do concelho e a outra metade também nos preocupa”, referiu, apontando como dificuldades no combate a este fogo a orografia do terreno, de declives acentuados, e os ventos fortes.



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