O incêndio que deflagrou na sexta-feira na área do Douro Internacional deixou um forte impacto ambiental na colónia de abutre-preto ('Aegypius monachus') que está a ser consolidada nesta área protegida, disse hoje fonte ligada à conservação desta espécie.

“No que respeita à colónia de abutre-preto do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), esta sofreu um forte impacto ambiental. Este incêndio deflagrou com grande intensidade por toda a área de distribuição dos ninhos, destruindo dois deles”, explicou à agência Lusa o biólogo da Associação Palombar, José Pereira.

De acordo com este especialista em avifauna rupícola, acrescentou que dos oito ninhos ativos com outros tantos casais de abutre-preto, havia cinco crias nascidas com cerca de 120 dias de vida.

“Esta são crias que estão muito dependentes dos progenitores. O fogo atingiu de forma muito intensa metade deste ninhos, onde dois ficaram totalmente destruídos e outros dois muito danificados. Para além destes danos na colónia, arderam plataformas artificiais que estavam disponíveis para receber novos casais reprodutores”, indicou o biólogo.

No terreno, estão equipas ligadas ao programa ibérico “LIFE Aegypius Return” que tem por missão a consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha, a tentar perceber os danos causados e se há morte destas crias.

“Estamos no terreno a tentar perceber este acontecimento, mas receamos o pior, porque se trata de crias que ainda não têm a capacidade total de voo e assim se defenderem e procurar alimento, porque estão dependentes dos pais. Nós ainda não conseguimos identificar uma boa parte destas crias ”, indicou José Pereira.

Segundo o biólogo, há uma equipa no terreno a tentar perceber um sinal de GPS instalado numa cria, “mas com sinais estranhos, o que leva a perceber o pior".

“Para já não há a confirmação de aves mortas, para além dos estragos nas estruturas que são avultadas, mas tememos o pior”, disse.

Para além do forte impacto nesta colónia de abutre-preto situada nas áreas de Lagoaça e Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde o fogo foi mais violento, o fogo queimou também infraestruturas do projeto, incluindo o campo de alimentação e o contentor de apoio à estação de aclimatação, essenciais ao programa de conservação.

“Apesar de termos conseguido salvar os seis abutres que se encontravam, nesse momento, na estação de aclimatação, a perda de infraestrutura compromete gravemente os esforços de conservação”, vincou José Pereira.

Para já, os prejuízos causados rondam os 30 mil euros e foi lançada uma campanha de angariação de fundos para minimizar este impacto negativo na avifauna ameaçada da área protegida do Douro Internacional.

Segundo os especialistas em avifauna, a colónia do Douro Internacional é a mais pequena e isolada do país, mas tem valor estratégico para a recuperação da espécie.

“A perda de ninhos e de habitat reverte anos de esforços de conservação e pode levar ao abandono da área pelos casais reprodutores”, indicou o biólogo.

O abutre-preto é uma das aves de rapina mais raras da Europa e a pequena colónia no PNDI contava apenas com oito casais reprodutores antes do incêndio, dos quais dois ficaram com o ninho totalmente destruído e outros dois com o ninho severamente afetado pelas chamas.

Atualização:   


Cria Acer encontrada morta

Pelas 11h30 de 21/08/2025 confirmou-se a primeira cria morta (nome: Acer).

Havia sido marcada com emissor GPS/GSM a 26/06/2025.

Desde o incêndio o emissor não estava a conectar-se à rede e não sabíamos da sua localização. Hoje enviou dados, mostrando inatividade.

As equipas da Palombar acorreram à localização e confirmaram a morte da cria.

Não morreu no incêndio propriamente dito, mas provavelmente por intoxicação pelo fumo e cinzas, numa morte lenta e agónica. O cadáver foi recolhido para ser necropsiado no Hospital veterinário da UTAD. 



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