Pacheco, 38 anos, trabalhou 20 anos no parque gráfico do Providence Journal e os colegas descrevem-no como bom trabalhador. Era solteiro e vivia com o pai e a mãe e outros familiares num duplex na Alabama Avenue, Providence.
Dia 8 de Junho de manhã, embora não estivesse de serviço, Carlos entrou na tipografia do jornal, 210 Kinsley Ave., e matou a tiro o encarregado da sua secção, Robert Benetti, 38 anos, de Pawtucket.
Os dois homens trabalharam juntos 20 anos e, segundo colegas, davam-se bem, embora tivessem temperamentos diferentes; Benetti era extrovertido e Pacheco o oposto.
Quando deixou o edifício, pelas traseiras, Pacheco cruzou-se com Charles Johnson, africano natural da Libéria, residente desde 1990 nos EUA e que trabalha há nove anos na distribuição do jornal.
Johnson entrava de serviço dentro de meia hora e, dentro da carrinha, ligara pelo telemóvel para um amigo a combinar um fim-de-semana em Filadélfia.
Segundo Johnson, Pacheco aproximou-se do carro e perguntou:
“Com quem estás a falar?”
“Com um amigo”, respondeu Johnson.
Pacheco parecia impaciente, mãos nos bolsos, esperando que o outro desligasse o telefone.
“Alguma vez te fiz alguma coisa?” perguntou Pacheco quando o outro desligou.
“Não”, respondeu Johnson.
“E tu algumas vezes fizeste alguma coisa a mim?”, insistiu Pacheco.
“Não que eu me lembre”, retorquiu Johnson.
“Bem, tudo acabou hoje”, disse Pacheco. Em seguida empunhou a pistola e disparou.
Johnson foi atingido na face, mas já teve alta do hospital.
Pacheco entrou no carro e, pelo telemóvel, fez a primeira chamada para o 911 às 9:28. Calmamente, admitiu ter morto duas pessoas (ignorava que Johnson sobrevivera) e insistiu em falar com “um certo detective, porque quero fazer-lhe certas perguntas para as quais apenas ele tem respostas”.
Trata-se do detective James Dougherty, da Polícia Estadual de Rhode Island, que no dia 28 de Maio tinha parado o carro de Pacheco na estrada 95, numa operação de rotina, alegadamente por excesso de velocidade, mas não chegou a autuá-lo.
Segundo o relatório da ocorrência, Pacheco estava emocionado, disse que vinha sendo perseguido e chorava. Dougherty limitou-se a adverti-lo e deixou-o seguir.
Às 9:40, Pacheco voltou a ligar para o 911, pediu novamente para falar com Dougherty, foi-lhe dito que o detective voltaria dentro de cinco minutos.
Às 9:45 novo telefone, Pacheco identificou-se, mas pouco depois desligou e os investigadores admitem ter sido quando entrou em casa de Matthew J. Fandetti, 29 anos, na Adrian Street.
Fandetti trabalhava há nove anos no departamento de circulação do Providence Journal, foi morto a tiro em casa, mas antes do seu corpo ter sido encontrado, a polícia foi chamada ao parque de estacionamento da Keeney Manufacturing, Jefferson Blvd., em Warwick, onde estava um carro a arder.
Dentro estava Carlos Pacheco, cujo funeral teve lugar sexta-feira em Providence, tal como Fandetti, que foi sepultado em Warwick. Benetti foi sepultado quinta-feira, em Pawtucket.
Cerca de 200 familiares e amigos assistiram à missa de corpo presente na igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Providence, da qual Pacheco era paroquiano.
Carlos nasceu em São Miguel, Açores, mas contava apenas dois anos quando os pais, António J. e Alda Maria Medeiros Lima Pacheco vieram para os EUA. Além dos pais, deixa três irmãs, Maria Lemieux, em Warwick, Goreti Arruda, em Providence e Ariana Fonseca, em East Providence; dois irmãos, Tony Pcheco, em Warwick e Gilbert Pcheco, em Cranston; 11 sobrinhos e sobrinhas.
Na sua homilia, o celebrante, padre Joseph Escobar, resumiu os sentimentos da família angustiada com os trágicos contecimentos: “Algumas perguntas não têm
resposta e talvez essas perguntas fiquem connosco o resto das nossas vidas (...) Estes acontecimentos não devem separar-nos, devem unir-nos. Partilhamos as emoções, partilhamos as perguntas e devemos suportarmo-nos uns aos outros.”
As causas do tresloucado acto continuam um enigma. Pacheco adquiriu a arma num armeiro de Warwick e foi levantá-la dia 6 de Junho, depois de ter aguardado uma semana pela respectiva licença. Segundo familiares, confidenciara que há cerca de um ano que vinha sendo pressionado por colegas para se filiar nos Teamster, mas fontes sindicais desmentiram quaisquer pressões. Mesmo não pertencendo ao sindicato, Pacheco tinha que pagar 92 por cento das contribuições a que estavam sujeitos os membros.
Na sua edição de domingo, o Providence Journal revelou que a polícia investigava a possibilidade de Pacheco gostar de Lisa DeCiantis, namorada de Matt Fandetti, que também trabalha no jornal e que se terá queixado a colegas das insistências dele.
Outro colega, Eric Reynolds, disse que o comportamento de Pacheco tinha mudado em Abril, comprara um Nissan Maxima preto, passara a usar óculos escuros, perdeu peso e saia à noite. Segundo Reynolds, as causas fundamentais da transformação teria sido o facto de Pacheco ter sido preterido num aumento salarial, adiantou Reynolds.
Fossem quais fossem, as causas da tragédia talvez nunca venham a ser esclarecidas.



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