O filão de Espanha esgotou-se. Milhares de trabalhadores da construção civil rumam a outras paragens ou regressam a Portugal, onde se continua a ganhar pouco. Tão pouco que já se perspectiva um dia de paralisação geral nas obras.

É preciso lutar pela dignificação do trabalho, sublinha Albano Ribeiro. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Norte e Viseu recorda que um operário qualificado, em Portugal, ganha 530 euros. \"Os trabalhadores são forçados a sair do país e, muitas vezes, a morrer nas estradas\", acrescenta. A luta dos operários deverá centrar-se no estabelecimento de um salário mínimo de 800 euros.

\"Há casas de luxo construídas com salários de 530 euros. Os trabalhadores são obrigados a fazer muitas horas. Morrem a trabalhar\", denuncia Albano Ribeiro. Factos: em 2006, 11 operários morreram em obras ao fim-de-semana. O cansaço potencia acidentes.

\"Os salários são negociados em sede de contratação colectiva de trabalho\", explica Reis Campos, presidente da AICCOPN - Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, lembrando que desde 1979 houve sempre acordo com pelo menos uma frente sindical, à excepção de 2004. O dirigente admite, ainda assim, que o sector \"vive a mais profunda crise de que há memória\" e alerta que será preciso um \"novo ciclo de investimento\" para impedir o aumento do desemprego, com o regresso de muitos operários que estavam em Espanha.

\"Dificilmente regressam a Portugal\", diz, contudo, Albano Ribeiro. Dos 90 mil operários que rumaram a Espanha, restam 60 mil. O êxodo intensificou-se nos últimos meses, com a saída de mais 20 mil. A maioria dos trabalhadores portugueses que se viram forçados a deixar Espanha por falta de obras rumou a outros países, como França, Inglaterra Suíça ou Noruega.

Albano Ribeiro teme mesmo que a falta de mão-de-obra qualificada se faça sentir nas grandes empreitadas que se avizinham, como o TGV ou o novo aeroporto.

O sindicalista estima que, a prazo, serão precisos cerca de 80 mil trabalhadores . \"Não temos essa gente\", admite. Aliás, Albano Ribeiro indica que nas obras nacionais já se recorre ao trabalho de emigrantes sem qualificação e em regime precário. \"Há milhares a pagar para trabalhar. Recebem 400 ou 500 euros e são obrigados a pagar os meios de protecção pessoal, como botas, capacetes e auriculares\", denuncia.

\"Não é pelo simples facto de alguns trabalhadores serem oriundos de outros países que nos permite concluir pela sua maior ou menor preparação. No nosso sector, como em qualquer outro, é do interesse das empresas assegurar a formação necessária e adequada\" contrapõe Reis Campos.



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