O Douro dispõe de um guia de construção de muros de pedra seca, uma iniciativa que quer ajudar a preservar os tradicionais muros de xisto que são um dos elementos mais identitários do Património Mundial.

O guia foi hoje apresentado, no Peso da Régua, e resulta de uma iniciativa conjunta da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) e da Liga dos Amigos do Douro Património Mundial, em colaboração com o Museu do Douro.

“Quer sobretudo ajudar os construtores da paisagem a manter este património e quem todos os dias tem que trabalhar nos muros, a construí-los, a reconstruí-los. Sobretudo pretende-se que seja prático, didático e que ajude quem está no campo a desempenhar bem esta muito importante função”, afirmou António Marquez Filipe, presidente da Liga dos Amigos.

Os muros em pedra posta de xisto são considerados dos elementos mais marcantes na paisagem duriense, Património Mundial da Humanidade desde 2001. São construções de pedra justaposta efetuadas pelo homem, sem recurso a quaisquer elementos de ligação, apenas a pedra local.

No caso do Douro Vinhateiro, os muros em pedra seca foram construídos com o objetivo de permitir o cultivo da vinha sobre as encostas íngremes.

“São absolutamente vitais não só como um atributo fundamental daquilo que é o Alto Douro Vinhateiro (ADV) Património Mundial, mas também enquanto forma de diminuir a erosão dos solos, de preservar e promover a biodiversidade. É um conjunto enorme de funções que os muros representam, pelo que merecem ser preservados e até aumentados”, acrescentou António Marquez Filipe.

Os muros de pedra seca são considerados “um dos sistemas mais sustentáveis do ponto de vista da conservação do solo, já que reduzem o risco de erosão, as perdas por escorrência superficial e deslizamentos, permitindo uma maior infiltração da água e o reabastecimento dos cursos de água”.

A diretora-geral da ADVID, Rosa Amador, destacou a importância dessas estruturas para a conservação da biodiversidade. Os muros de pedra são um abrigo e refúgio para várias espécies de plantas e animais.

No entanto, estas infraestruturas fundiárias encontram-se ameaçadas principalmente devido à escassez de mão-de-obra especializada na sua manutenção e reconstrução com elevados custos associados, dependendo da disponibilidade de pedra e da localização da parcela.

“Claramente existem muitos riscos. Eu diria que os apoios hoje existentes para a recuperação de muros não pagam o custo de os manter e sabemos bem que, com as questões demográficas, envelhecimento e a perda de populações, se torna muito mais difícil granjear o território. Temos que reencontrar formas de que os muros sejam amigo dos agricultores e não empecilhos, limitadores na sua produtividade e no seu rendimento”, salientou o presidente da Liga.

António Marquez Filipe defendeu ainda medidas de discriminação positivas para ajudar os produtores a manter estas “obras de engenharia”.

Também Rosa Amador apontou os “custos acrescidos” que estes muros representam para os agricultores e referiu que, no último quadro comunitário, “só houve um aviso” para apoio à sua reconstrução e que não abrangeu toda região do Douro, deixando de parte o Baixo Corgo.

“São um elemento de paisagem, logo os agricultores devem ser ajudados a manter esse elemento de paisagem”, frisou.

Segundo informações da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), em 20 anos foram recuperados cerca de 500 quilómetros dos tradicionais muros de xisto que sustentam os socalcos no Douro, em resultado de investimento dos privados e dos apoios públicos canalizados.

O ADV constitui o contínuo mais representativo e mais bem conservado da Região Demarcada do Douro (RDD), a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do mundo (1756).



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