Os conselheiros das Comunidades Portuguesas eleitos no Canadá subscrevem uma carta endereçada ao secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, pedindo-lhe para proceder a um melhor esclarecimento acerca da situação da pneumonia atípica. Pedem ajuda e cooperação para a solução dum problema que já é bastante grave e está a afectar as relações entre os Portugueses de cá e de lá.

Os conselheiros em causa dizem que os governantes deveriam fazer declarações públicas com o fim de tranquilizar a população portuguesa e informar "que os seus compatriotas do Canadá trazem com eles não o vírus do temível síndroma, mas o amor à Pátria que os viu nascer".

Cândida Dias, João Dias, Joe Eustáquio, Laurentino Esteves, Tomaz Ferreira, Francisco Salvador e Mário Gomes pedem, na carta a José Cesário, que o secretário de Estado das Comunidades reconheça existir uma "vida normal" em todos os domínios de Toronto, lembrando que o número de casos excede em pouco as três centenas, com cerca de 33 mortes, numa população de 31 milhões de habitantes. Como se tratava duma doença nova, o Síndroma Respiratório Agudo teve, mesmo assim, repercussões económicas e sociais sérias.

Nenhum português foi infectado

Depois de historiar um pouco a evolução da doença, refere que "nenhum dos 400.000 portugueses que vivem no Canadá foi infectado" e "a vida na cidade de Toronto, particularmente na comunidade portuguesa decorre normalmente".

A despeito da doença se ter restringido a casos hospitalares, "infelizmente, estimulada por o sensacionalismo de alguns meios de comunicação social (...) existe, hoje, em Portugal, uma fobia pela doença, que não é racional e não tem justificação em dados científicos".

Os conselheiros, na carta que enviaram à Comunicação Social, lembram que "luso-canadianos que visitam Portugal têm sido marginalizados, discriminados e até tratados duma forma hostil, como se todos eles trouxessem nas suas malas o vírus do síndroma, para usar as palavras alarmistas duma publicação portuguesa".

E acrescenta: "Pessoas idosas, que iam visitar as suas famílias e amigos, talvez pela última vez na sua vida, luso-canadianos que desejavam comparecer a casamentos, baptizados e até funerais de parentes e amigos têm sido afectados ou recebidos em tratamento quase equivalente ao dos leprosos do passado".

No momento presente — lembram os conselheiros, na nota que nos foi enviada pelo Dr. Tomaz Ferreira — "o luso-canadiano que depois de ter economizado durante dois ou três anos, vai a Portugal passar as suas férias é hostilizado e ignorado na pátria que o viu nascer, e muitas vezes os seus filhos e netos, a quem queria mostrar a terra dos seus antepassados, são rejeitados pelos seus congéneres portugueses".

Há medo de visitar Portugal?

Neste fio de pensamento, diz ainda a carta: "É trágico que os portugueses de Toronto e até de outras partes do Canadá, tenham medo de visitar a nação onde nasceram".

Os conselheiros acentuam não ser sua intenção "negar às autoridades de saúde pública portuguesas, o direito e o dever de proteger a nação contra infecções vindas do estrangeiro". Referem, no entanto, ser do seu conhecimento que tem havido em certas áreas "um excesso de zelo na aplicação de medidas de isolamento e investigação de possíveis casos de infecção pelo Síndroma Respiratório Agudo".

Recorda a carta dos conselheiros que "centenas de luso-canadianos estão a cancelar as suas viagens a Portugal, com implicações para a economia local e o que é pior às boas relações e entendimento entre os portugueses da diáspora e os que vivem no nosso país".

Pedem o apoio do Governo para esbater esta "onda de pânico", que chega a ser doentia.

"Comunicados, conferências de imprensa, visitas de jornalistas e peritos de saúde pública, contactos com as autoridades canadianas, poderiam ser medidas a tomar para ajudar a esclarecer e a elucidar a população portuguesa", acrescentam os conselheiros.

Terminam dizendo que gostariam que o secretário de Estado e o ministro dos Negócios Estrangeiros "que em Halifax, proferiu um discurso notável, em que se declarava solidário com os luso-canadianos e prometia que iria esclarecer os nossos compatriotas que vivem em Portugal sobre a situação em Toronto, fizessem declarações públicas com o fim de tranquilizar a população portuguesa e informá-la que os seus compatriotas do Canadá trazem com eles não o vírus do temível síndroma, mas o amor à pátria que os viu nascer".



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