Até ao final de 2006 deverá estar concluída a primeira fase da recuperação do milenar castelo e vila amuralhada de Ansiães. Nessa altura será possível a realização de visitas guiadas, de modo a que os turistas possam sair esclarecidos sobre a história do monumento.

A garantia foi dada pelo coordenador científico do projecto arqueológico, Luís Pereira, durante um colóquio sobre património histórico realizado em Carrazeda de Ansiães. O projecto de recuperação, desenvolvido sob a tutela do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), está orçado em cerca de 800 mil euros e tem uma comparticipação comunitária de 75%.

Actualmente, está a ser construído o centro de recepção, junto à igreja extra-muros (S. João Baptista), aproveitando-se para tapar uma cratera ali existente no granito. Dentro das muralhas está a ser testada a consistência do levantamento dos derrubes - muros desmoronados das antigas casas de Ansiães - efectuado no início da requalificação. Dada a sua debilidade, Luís Pereira preferiu submeter os derrubes à acção da meteorologia durante, pelo menos dois anos, antes de proceder ao seu capeamento com argamassa, de modo a evitar a infiltração da chuva. Serão ainda instalados sistemas de drenagem para evitar que a água se acumule dentro dos compartimentos.

Segundo o arqueólogo, este é o primeiro teste a ultrapassar antes de prosseguir com a intervenção, admitindo que possa demorar \"vários anos\". Na sua opinião, \"não é sensato recuperar património num curto espaço de tempo\", dado que há teorias que vão surgindo sucessivamente e \"o que hoje é recuperado de uma maneira, poderá sê-lo de forma diferente no futuro\". Daí que defenda uma recuperação gradual e ao longo dos tempos.

Conhecer o passado

Entretanto, está a ser feito o estudo dos materiais e de toda a informação científica resultante das escavações nas Igrejas de S. Salvador e de S. João Baptista, que levaram à recolha de um vasto e diversificado conjunto de ossadas humanas, que ajudarão à reconstituição da história demográfica de Ansiães. \"A partir desses ossos, poderemos conhecer o género de pessoas que vivam ali, as doenças mais frequentes, a alimentação e o tipo de actividades que desempenhavam\", explicou.

Todo o espólio retirado das escavações irá integrar um Centro Interpretativo que será edificado pela câmara municipal de Carrazeda na zona histórica da vila. No entanto, este é um projecto que ficará dependente de uma nova candidatura aos dinheiros do IV Quadro Comunitário de Apoio.

Recessão demográfica afectou vila

O burgo medieval de Ansiães foi dos primeiros a receber Carta de Foral em Portugal, pela mão de Fernando Magno, em 1057. A sua ocupação começou no Calcolítico, por volta do ano 2.500 a.C., e prolongou-se até ao século IX, época em que o povoado foi abandonado totalmente. Durante toda a Idade Média, Ansiães assumiu-se como uma das principais vilas de Trás-os-Montes, mas viria a perder importância devido à recessão demográfica. A maior parte dos habitantes começou a deslocar-se para a actual sede de concelho e para localidades como Linhares, Lavandeira ou Marzagão. A igreja românica de S. Salvador, rotulada pelo Abade de Baçal como \"Jóia de arquitectura do Românico Transmontano\", é um dos quatro templos portugueses mais interessantes do estilo. Uma importância que fica a dever-se, sobretudo, a uma parte semi-circular que constitui o portal frontal, do tipo Pantocrator.



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Sendim, junto às arribas do Douro

Espaços estão sujos e a degradar-se