O presidente da Casa do Douro desafiou os partidos políticos concorrentes às legislativas a olhar com atenção para o Interior e para a viticultura, reclamando uma posição concreta sobre a crise no setor do vinho.
“O desafio de olharem para o Interior, perceberem que só estão a contribuir para as assimetrias e a perda de qualidade de vida no Litoral, que passou a ser um sorvedouro de dinheiro público e de todos os contribuintes”, afirmou Rui Paredes, que falava numa conferência de imprensa, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, que serviu para reclamar medidas concretas para ajudar o Douro enfrentar a crise de vendas de vinho e de uvas.
Nas véspera do arranque oficial da campanha eleitoral para as eleições antecipadas de 18 de maio, o presidente da Casa do Douro, recentemente restaurada como associação pública de inscrição obrigatória, defendeu uma especial atenção dos partidos para o Interior, e em concreto para o Douro, e defendeu que estes territórios também podem ser polos de desenvolvimento do país.
“E eu acho que é isso, que os senhores candidatos deverão olhar para o Interior e para o Douro, em específico, de uma outra forma”, realçou, reclamando uma posição concreta sobre os problemas da viticultura.
O responsável especificou que a viticultura no país representa mil milhões em exportações e considerou que se trata de um “complemento muito forte naquilo que é a capacidade de exportação do país”
“E acho que deveria ter aqui também uma especial atenção. Temos todos de fazer a nossa parte, de ser contribuintes no sentido de arranjar soluções, desde adegas a operadores, investir em investigação para arrancar soluções para não nos centrarmos apenas no vinho e no enoturismo”, frisou.
A Região Demarcada do Douro conta atualmente com cerca de 19 mil viticultores, na sua maioria pequenas explorações familiares.
A viticultura é o principal motor económico da região, responsável por cerca de 500 milhões de euros por ano em valor económico direto e indireto, com um peso estimado de mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) da região.
Os vinhos do Douro representam mais de 35% das exportações totais de vinho português em valor e estima-se que, nas contas anuais de algumas das maiores empresas exportadoras de vinho sediadas em Portugal, mais de 60% do volume de negócios esteja direta ou indiretamente ligada à produção duriense (vinhos do Porto e do Douro).
As eleições legislativas antecipadas acontecem no dia 18 de maio.
A Casa do Douro reclamou hoje medidas “fundamentais” para enfrentar a crise na viticultura como a incorporação de aguardente regional no vinho do Porto, destilação de crise, colheita em verde e a suspensão do VITIS.
“Há grandes operadores que estão com excessos de vinhos e que não querem ir à vindima [comprar uvas ou comprar menos quantitativo], e isto impacta muito naquilo que é o pequeno e médio viticultor, ou seja, o viticultor que faz desta vida o seu sustento e que depois não tem onde vender as suas uvas”, afirmou Rui Paredes, presidente da Casa do Douro.
O responsável falava numa conferência de imprensa, que decorreu na sede da instituição de defesa dos viticultores, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, e que serviu como “um grito de alerta” para a crise que poderá atingir, pelo terceiro ano consecutivo, a vindima no Douro.
Desde março que centenas de viticultores estão a receber cartas de empresas produtoras de vinho a avisar que este ano não lhes vão comprar as uvas ou que vão comprar em menos quantidade, o que poderá intensificar as dificuldades dos produtores que perderam, nos últimos três anos, 40% dos rendimentos, sofrendo, em simultâneo, um aumento exponencial dos custos de produção.
“É um grito de alerta para Lisboa, é um grito de alerta para o país (….) É importante olhar para o Interior como um foco de desenvolvimento do país”, frisou, salientando que se não for feito nada e se se continuar “neste marasmo”, os próximos meses “vão ser muito complicados”.
As soluções consideradas “fundamentais” e que são reclamadas pela Casa do Douro vão desde a destilação de crise dos excedentes vínicos acumulados, com o objetivo de libertar capacidade de armazenamento e gerar rendimento imediato para os produtores, bem como a incorporação de aguardente regional na produção de vinho do Porto e a suspensão do programa de apoio à reestruturação e reconversão da vinha (VITIS), canalizando essas verbas para medidas emergenciais e ajustadas à realidade atual.
Rui Paredes destacou a situação das adegas cooperativas que são obrigadas a ficar com todas as uvas dos seus associados e que estão sem capacidade de armazenamento.
“A própria questão da colheita em verde poderá estar aqui em cima da mesa e a compra, por parte do Estado, de vinho do Porto disponível, no sentido de podermos refrescar e equilibrar os vinhos [em stock] da Casa do Douro”, realçou.
Rui Paredes reclamou uma “dotação de verbas substanciais” para a colheita em verde, com critérios ajustados à realidade duriense, bem como a antecipação de apoios aos viticultores, nomeadamente subsídios diretos, para garantir liquidez em tempo útil antes do pico de operações agrícolas, e a definição de um plano plurianual para a reestruturação do setor vitivinícola do Douro, exemplificando com o benefício (quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto) com uma previsão de, por exemplo, três anos.
A colheita em verde é o corte antecipado da uva e, neste caso, o apoio é atribuído diretamente ao produtor.
“Estou muito preocupado com o que vai acontecer daqui para a frente porque as pessoas começam a ficar muito revoltadas e sem encontrar uma solução”, frisou.
Rui Paredes disse que a Casa do Douro estava em conversações com o ministro e secretário de Estado da Agricultura, com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), só que as eleições antecipadas vieram dificultar este processo porque, agora, este é um Governo de gestão.
Questionado sobre outros destinos e soluções para as uvas, vinhos e derivados, o responsável disse que a investigação e desenvolvimento fazem parte dos projetos da Casa do Douro, no entanto, realçou que é preciso “resolver a questão no imediato”.
Por fim, a Casa do Douro deixou um apelo “à união, sem agendas, por um único objetivo” que é “dar um novo rumo à viticultura duriense”.