Um “caturro”, ave rara em Portugal, foi avistado pela primeira vez no Parque Natural Regional do Vale do Tua e a descoberta foi comunicada à entidade competente para confirmação oficial da observação, informaram hoje os responsáveis pela área protegida.

Trata-se de um “caturro” ou zarro-de-colar, de nome científico Aythya collaris, uma espécie de pato mergulhador oriundo da América do Norte, “nunca antes visto na zona Norte” de Portugal, como garante o Parque do Tua.

Segundo esta entidade, a identificação da espécie foi confirmada pelos técnicos da Palombar, uma associação de conservação da natureza e património rural, e especialistas nacionais.

O registo foi reportado ao Comité Português de Raridades da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves para homologação oficial da observação, como informa o parque, que abrange os concelhos transmontanos de Alijo, Mirandela, Murça, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães.

A ave foi avistada, em 31 de janeiro, nas águas do rio Tua, na zona da Brunheda, em Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança, por Rui Pereira e Nélson Domingos, este último formando do Curso de Observação de Aves que o Parque Natural Regional do Vale do Tua tem em curso.

O parque dá conta, em comunicado, que, “em Portugal, a observação desta espécie, um pato mergulhador, é uma raridade, sendo este o primeiro registo de um caturro no distrito de Bragança e um dos poucos no interior de Portugal a norte do rio Tejo”.

“A presença desta espécie no território nacional deve-se à realização de movimentos migratórios durante o inverno, quando muitos indivíduos migram para escapar ao frio extremo, à queda de neve, ao congelamento de lagos e outras condições adversas, e terminam por chegar a Portugal e outros países europeus, devido à influência de diversos fatores meteorológicos e de movimentação de outras espécies”, explica.

O nome comum de zarro-de-colar “foi-lhe atribuído por ter uma mancha similar a um colar à volta do pescoço, nem sempre fácil de observar”, sendo que “as fêmeas têm uma risca branca evidente na parte distal do bico, cabeça grande e angulosa, com o topo castanho contrastante com a face mais acinzentada, anel ocular branco e uma risca branca bem visível atrás dos olhos”. O padrão de cores do corpo também é, segundo a descrição, “distinto dos zarros europeus, apresentando castanhos vibrantes nos flancos, no caso das fêmeas”, enquanto “os machos possuem cabeça preta com reflexos roxos, dorso preto, flancos cinzentos e uma cor mais esbranquiçada na zona do peito”.

Esta espécie alimenta-se, sobretudo, de sementes, caules e raízes de plantas aquáticas, mas também de insetos e moluscos.

O habitat de eleição desta ave são os pântanos e lagoas de água doce, estuários costeiros, mas também rios de caudal lento, como é o caso do troço do rio Tua, onde foi avistada.

O turismo de observação de aves (‘birdwatching’) é uma das apostas do Parque do Tua, que está a criar percursos e a formar guias para este fim, em parceria com a associação Palombar.

De acordo com os responsáveis, “este curso tem estimulado todos os participantes a terem um olhar mais atento e foi essa atenção e o conhecimento já adquirido que permitiu a um formando perceber a raridade da espécie que observava”.

A formação decorre em vários concelhos abrangidos pelo parque e tem como objetivo capacitar agentes locais das áreas do turismo, hotelaria, ecoturismo e conservação da natureza, para a identificação da avifauna da região, de forma a promover um maior conhecimento e valorização da biodiversidade do Vale do Tua e potenciar o desenvolvimento do território e a conservação do património natural regional.

A formação, que teve início em setembro de 2021 e termina em junho de 2022, vai contribuir para promover o estudo e a monitorização de aves na região do Vale do Tua, aumentando a recolha de dados sobre a avifauna presente e a raridade de algumas espécies.



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