Moradores contestam a instalação de postes e uma linha de alta tensão junto a habitações das aldeias de Senra, Fontes, Ruival e Friúme, em Ribeira de Pena, e apelam a uma alteração do traçado “imposto” pela empresa E-Redes.

“Não acho normal terem alternativas para meterem o poste e irem pô-lo atrás das minhas casas”, afirmou hoje à agência Lusa Fernando Vilela de Sousa, um ex-emigrante de 67 anos que regressou à terra natal.

Em Senra, já construiu quatro casas e tem mais duas projetadas: “Vou ficar com um poste a 27 metros das minhas casas e a 15 metros das que estou para construir. Mas, não é só o poste, as linhas vão continuar por cima do meu terreno. São cerca de 4.000 metros de terreno que vão ficar inúteis”, salientou.

A linha de alta tensão que atravessa as localidades no concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, foi projetada e está a ser executada pela E-Redes (antiga EDP-Distribuição), tratando-se de um serviço afetado do Complexo Hidroelétrico do Alto Tâmega.

Os moradores subscreveram dois abaixo-assinados, com cerca de 200 assinaturas, e pediram ajuda à Câmara de Ribeira de Pena, partidos políticos representados na Assembleia da República, à Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) e à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Na quarta-feira, vão ser ouvidos por videoconferência na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, após um requerimento apresentado pelo grupo parlamentar do PSD.

“Quando resolvi investir ninguém falava que iam expropriar terreno para meter lá um poste de eletricidade, sobretudo daquela dimensão”, frisou Fernando Vilela de Sousa, que se queixa da falta de informação em todo o processo.

O vizinho, José Lopes, de 65 anos, disse que um dos postes vai “ficar a 80 metros” da sua casa.

“Além disso, estamos numa zona histórica que tem várias casas brasonadas e vai também travar algum investimento turístico, porque ninguém vai investir com aqueles mamarrachos aqui”, salientou.

Do outro lado da albufeira de Daivões, incluída no Sistema Eletroprodutor do Tâmega, que está em fase de enchimento, Celeste Gonçalves, 48 anos, afirmou que a linha “vai ficar demasiado perto” da sua casa, em Fontes.

“Vou abrir a porta todos os dias de manhã para ir trabalhar e dar de caras com um poste de alta tensão e uma linha a passar por cima do meu terreno”, lamentou.

Celeste Gonçalves defendeu que “há outras alternativas” e vê “apenas má vontade” na “teimosia” da EDP em avançar com o projeto.

“Tem sido uma luta a tentar que nos oiçam. Venham ao terreno ver se afinal há ou não alternativas”, apelou.

Os moradores alegam que o projeto de reposição da linha de 60kv previsto causa uma “enorme desvalorização paisagística e ambiental das propriedades” e “prejuízos irreversíveis” nas suas vidas, bens, ambiente, paisagem e na socioeconomia local.

A Câmara de Ribeira de Pena, liderada por João Noronha, pronunciou-se desfavoravelmente quanto ao projeto e, num parecer a que a Lusa teve acesso, defendeu que a linha devia ser enterrada em alguns dos seus troços.

O município alertou ainda para os efeitos cumulativos entre os vários projetos de linhas áreas que atravessam o concelho, também decorrentes da construção das barragens do Alto Tâmega, tornando a albufeira de Daivões “num estendal” de linhas de energia.

A reposição da linha visa escoar a energia produzida pela central hidroelétrica de Bragadas, pertencente à empresa Empreendimentos Hidroelétricos do Alto Tâmega e Barroso (EHATB), a qual já disse não ver “qualquer inconveniente que a energia seja escoada para outra subestação”.

Contactada pela Lusa, a E-Redes referiu não ter informação a acrescentar à prestada em janeiro, altura em que disse que o projeto para o restabelecimento da linha de alta tensão envolveu os "estudos de viabilidade necessários".

A empresa referiu que "a melhor alternativa técnica foi a que foi submetida a licenciamento, dado ser necessário passar de uma margem para a outra da futura albufeira de Daivões".

A EDP sublinhou que "procedeu aos estudos de viabilidade necessários para levar a cabo a respetiva modificação [da localização da linha, devido à construção da barragem de Daivões], tendo consultado e prestado as informações requeridas para o efeito".

"Importa referir que o projeto foi licenciado junto da DGEG, e que seguiu os termos previstos pelo Regulamento de Licenças para Instalações Elétricas, designadamente no que respeita à consulta a diversas entidades envolvidas", assegurou.



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