Os adeptos da apelidada aldeia mais sportinguista de Portugal, Parambos, no concelho de Carrazeda de Ansiães, fizeram a festa do bicampeonato mal soou o apito final, mas "aqueceram" durante o jogo com o Vitória de Guimarães.

Entre cânticos, palmas, vivas e até lágrimas de emoção, que rebentaram quando o Sporting carimbou o 2-0, em Alvalade, altura em que a filial 87, dos 'leões' foi 'invadida por cânticos de "Sporting! Sporting! Sporting!” e “Campeões, campeões, nós somos campeões!”, que não mais pararam nos derradeiros minutos do jogo.

Logo na entrada da localidade, da aldeia do distrito de Bragança, era visível a primeira de muitas faixas afixadas: ”Parambos quer o Sporting campeão”.

No trajeto até à filial, viam-se murais e estátuas de leões, um até com uma capa verde vestida.

Um dos maiores e mais recentes leões está à porta da filial. Cá fora, cerca de 20 minutos antes do jogo, havia algumas pessoas no exterior, mas a grande maioria já estava no interior, a guardar lugar o mais junto possível da televisão e de um ecrã de projeção.

A receção à reportagem da agência Lusa foi feita pela presidente Marina Trigo, que se apressou a explicar: "Temos aqui cerca de 100 pessoas", número que, segundo contabilizou, é mais ou menos em igual número dos residentes em dias normais.

As duas salas que compõem a filial estavam repletas de gente vestida de verde. A decoração é igualmente a rigor, com muitos cachecóis de vários pontos do país pendurados. Até o equipamento de aquecimento a pellets é verde.

Entretanto, começou, entre aplausos e vivas, o jogo com o Vitória de Guimarães.

“Todos estão vestidos a rigor, porque estamos convencidos de que hoje é dia de festa”, afirmou Marina, a primeira mulher a presidir a esta filial , oferecendo depois da entrevista bifanas e caldo verde, que prepararam para forrar o estômago.

Miguel Silva é de Braga, adepto do Sporting e casado na região. Veio testar o ambiente em Parambos, para ver o jogo: "É espetacular. Parece Alvalade 2”, descreveu.

A filial de Parambos tinha 320 sócios durante a semana, muitos de outras terras distante na geografia de Portugal. Tinha, porque hoje já são mais. Um deles é João Ribeiro. Fez 120 quilómetros de propósito do distrito de Viseu, sem sequer nunca aqui ter estado.

“Venho de Lamas de Moledo, Castro D’Aire. Vim vir esta tradição, esta aldeia tão famosa. (…) É gente muito acolhedora, que são simpáticos. Cheguei ontem [sábado] e sinto-me em família”, partilhou com a Lusa.

Carlos Batista até já fez mais quilómetros pelo Sporting, o que resultou numa “grande aventura” e uma estreia a solo, ao volante até à capital.

De Parambos a Alvalade, em Lisboa, são à volta de 450 quilómetros: ”O meu filho, o Daniel, veio de Luxemburgo para Lisboa para ver o Manchester City. Comprou bilhetes e reservou um hotel. Eu fui ter com ele. Nunca tinha ido a Lisboa de carro. Foi uma grande aventura para mim”, relembrou Carlos.

Na memória ficou também o resultado desse jogo - o Sporting perdeu por 5-0. Mesmo assim, garantiu, “valeu a pena”. E ainda foi mostrar ao filho onde fez a tropa.

Carlos é o responsável pela maior empreitada maior dos festejos. Adiantou que com um trator vai pegar no tal leão da porta da filial, que estima pesar meia tonelada, para o colocar em cima de uma carrinha de caixa aberta. Depois, segue-se arruada até à vila de Carrazeda de Ansiães.

Aos 40 minutos da primeira parte, e depois de se festejar o golo do Sporting de Braga, na Pedreira, frente ao Benfica, acreditou-se ainda mais, depois de um lance de perigo: ”É agora! É agora!”. Só que não foi golo.

Por que é que Parambos é assim? António Pinto, habitante e natural da aldeia, explicou: ”Houve um ano em que os nossos pais e avós pecaram”.

Isto porque era costume fazer festas populares, em homenagem ao São João e ao São Pedro. O dinheiro era entregue, também costume, à Igreja. Até ao dia. Estávamos no tempo do Estado Novo.

“Houve um ano em que pecaram e compraram uma grafonola, para fazer bailaricos. Andava de casa em casa, o que não tinha jeito nenhum”, continuou António.

Assim, resolveram alugar um espaço. Para tal, escreveram para Alvalade, que lhes deu luz verde. Ficaram com a filial número 87, que inauguraram em 1 de outubro de 1937.

Aos 55 minutos de jogo, a casa encheu-se de gritos: ”Goloooo!”. Cantou-se o “Só eu sei” e o ambiente entre a assistência aqueceu. Na rua, estoiram os primeiros foguetes.

Carlos foi logo ligar carrinha, para adiantar os festejos e carregou a estátua do leão, tal como prometido. Três azulejos da entrada ficaram danificados, mas ninguém ficou preocupado.

“Eu sou um eterno apaixonado. É contigo que eu quero estar casado (…)”, ecoava, já com o leão na parte de trás da carrinha de caixa aberta.

O apito final ditou a explosão que já se adivinhava, e tudo pronto para saírem em caravana.

O resto da noite, fica na história da aldeia.



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