Na aldeia de S. Jumil, a cerca de 29 quilómetros de Vinhais, estão aquelas que são, provavelmente, as adegas mais antigas do País.
As adegas de S. Jumil, assim são conhecidas em todo o concelho, datam do século XVIII, mas não é por isso que deixam de estar esquecidas e degradadas.
Não fosse a perseverança daqueles que, mesmo com poucas forças, teimam em cuidar destas relíquias da arquitectura popular, e já todas estariam no chão.
As adegas saltam à vista de quem visita S. Jumil, freguesia do extremo sul do Planalto de Lomba, dado que, numa aldeia onde não moram mais de 70 pessoas, existem 48 depósitos do precioso néctar.
Para quem não souber do que se trata, julgará que as adegas são um simples amontoado de casas velhas, um pouco mais afastado da aldeia. Puro engano! O povoado está concentrado em dois núcleos de construções: o povoado e, na costa ocidental, a "Travessa" ou "Bairro das Adegas", conjunto singular de grande beleza e valor arquitectónico.
Datado dos princípios do século XVIII, é composto por várias dezenas de construções geralmente rectangulares, dispostas em banda. Mais propriamente 48 adegas. Vinte ainda estão activas, informa o presidente da Junta de Freguesia, José Barreira, que imediatamente abre as portas das suas duas adegas e nos oferece "uma pinga".

Saudade e tristeza
José Barreira fala das adegas com ar de tristeza e misto de saudade. Saudade porque aquele local foi palco de muita actividade. "Havia alturas em que se vivia mais aqui nas adegas do que na aldeia", recorda o autarca. Tristeza porque as adegas já quase não têm vida. "Temos tanto orgulho nas nossas adegas e ninguém quer tomar conta delas, pois não há quem lhe deite as mãos" explica o autarca.
Prova disso é que algumas já estão em avançado estado de degradação, mas ainda se podem ver as prensas de madeira que serviam para esmagar o bagaço e produzir a aguardente. Agora já quase todas têm a prensa de ferro. Os telhados, por seu lado, eram todos cobertos com colmo mas, com o passar dos anos, a telha ganhou terreno, sem que isso prejudicasse a qualidade do vinho de S. Jumil.
Pouco tempo depois do Jornal NORDESTE ter chegado às adegas, logo começaram a aparecer mais pessoas. As histórias não se fizeram esperar, pela voz dos mais velhos. "Quando vínhamos para aqui e comia-mos uns salpicões assados e presunto na brasa é que era bom tempo, pois juntava-se aqui muita gente", comenta o Ti Zé em tom saudosista.
A Câmara Municipal de Vinhais, por seu lado, está interessada em restaurar duas adegas, tendo em vista a criação de um Eco Museu e de uma Adega de Provas.
O Bairro das Adegas já foi, inclusive, alvo de várias candidaturas a fundos europeus mas, até agora, os projectos não saíram do papel.
A reabilitação do principal núcleo adegas está, agora, a ser analisada pela CoraNE, já que os fundos do programa Leader podem vir a viabilizar um projecto avaliado em 500 mil euros, que prevê a requalificação da Travessa das Adegas e respectivos acessos.
Espera-se que os fundos comunitários cheguem a tempo, para que este valioso património não se perca para sempre.



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