A Manuel Correia Botelho, cidadão português radicado há 65 anos no Brasil, agraciado pelo Presidente da República com a ordem de Comendador por relevantes serviços prestados em nome de Portugal, pode-se com justiça aplicar a designação de Self-Mad-Man dada a panóplia de serviços que teve de fazer no País irmão, para onde emigrou quando tinha 18 anos.

No Brasil, o Comendador foi professor, banqueiro, gerente hoteleiro, encarregado de uma firma de limpezas (propriedade do seu pai), presidente do maior grupo de empresas de segurança de cadeias, bancos, transportes de valores, blindados, protecção personalizada e electrónica. Hoje, com 83 anos, diz-se em excelentes condições físicas e mentais que lhe permitem viajar por todo o mundo, dando conferências e seminários sobre segurança e procurando encontrar novas fórmulas para dar continuidade e evolução ao seu grupo de empresas.
Manuel Correia Botelho, nasceu a 17 de Fevereiro de 1921, na aldeia de Bujões, concelho de Vila Real, numa família de viticultores da Região do Douro. Aos doze anos entrou para o Seminário dos Salesianos de Poiares, Régua, para estudar e, se a vocação ajudasse, tornar-se-ia padre. Aos 18 anos, quando foi transferido para o Estoril para o noviciado, veio a constatar que o seu caminho não seguiria por ali.
“A minha gratidão aos seminários é enorme, pela forma como me acolheram e ensinaram, dado naquela altura não ser fácil estudar-se porque as posses das famílias eram muito poucas. Hoje, eu colaboro e coopero com várias destas instituições para pagar aquilo que outras pessoas pagaram por mim”, disse.

Brasil, imenso desconhecido
Em 1939 embarcou para o Brasil, onde o seu pai já se encontrava, “para tentar dar um jeito na vida dele (algo desordenada nos negócios) e despertar o amor pela família que deixara sozinha e endividada na região duriense”.
“Logo que cheguei ao Brasil, com a indicação dos padres salesianos, fui trabalhar no Liceu do Sagrado Coração de Jesus, em S. Paulo, leccionando francês, passando nos anos subsequentes a dar aulas de outras matérias, em especial línguas. Com a chegada da guerra os emigrantes passaram a ter dificuldades acrescidas para trabalharem em profissões liberais, o que passava pela obrigatoriedade de se naturalizar e fazer o serviço militar, o que a mim não me agradava nada e que acabei por não fazer”, explicou.
Para Manuel Correia Botelho, naturalizar-se nunca foi problema, porque o Brasil “era um imenso desconhecido, mas sempre senti que o português era muito estimado, muito embora aparecessem em todo o lugar anedotários que criam intriga mas, no global, toda a gente era boa”.
As aulas “do português” eram elogiadas em toda a cidade de S. Paulo, e devido ao facto de falar fluentemente francês, inglês, italiano e espanhol, levou a que fosse requisitado para trabalhar no Banco do Brasil e mais tarde tenha enveredado pela carreira na hotelaria onde exerceu a função de gerente de hotéis conceituados durante vinte anos.
“Ajudei meu pai, homem muito trabalhador e honesto, mas extremamente desorganizado, a criar uma firma “Limpezas Pires”, mas quando eu queria colocar alguma ordem na escrita da empresa ele dizia-me: ‘tu entendes de livros, mas de limpezas não entendes nada’, e não se deixava administrar”.
Limpezas e segurança privada
Em 1965, com o regresso do pai a Portugal, Manuel Botelho é “forçado” a tomar conta da empresa de limpezas, onde investiu uma boa parte do capital que tinha amealhado, passando a estar em part-time nas limpezas e full-time na hotelaria. Na altura a empresa do pai tinha vinte trabalhadores, mas com a revolução de métodos e o respeito granjeado, em 1965, o número de trabalhadores tinha passado para quatro mil pessoas, a trabalhar só em limpezas em grande escala em bancos, residências, ruas e fábricas.
“Em 1968, após um convite do Banco do Brasil, a quem já servíamos há 25 anos nas limpezas, entrámos na área da segurança privada, o que de princípio me apavorou porque nunca fui militarista (nem o serviço militar eu tinha feito). Participei em vários seminários sobre essa matéria em vários países, em especial na América, e constatei que a segurança privada tinha futuro. Nessa altura, fomos os únicos no Brasil que investimos nessa área”.
Hoje as empresas “Pires” são detentoras do maior Centro de Formação de Segurança privada das Américas, incluindo o Estados Unidos, com formação em aeronáutica, exército, marinha e aviação. “No nosso centro de formação seleccionamos o pessoal para cada área, psico-testar, pregressar, acompanhar, internar e dar-lhe cuidados até de higiene, o que equivale por dizer que os nossos formandos quando se apresentam num serviço estão preparados ao mais alto nível”, exemplificou o Comendador.



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