O setor dos vinhos no Douro revelou grandes preocupações com o encerramento dos mercados por causa da pandemia Covid-19, numa altura em que as empresas procuram soluções alternativas como reuniões online e amostras enviadas por correio.

“No setor, estamos todos obviamente preocupados porque, contrariamente a outras crises pelas quais passamos, que foram mais nacionais - mas tínhamos o mercado internacional e, portanto, o risco era muito menos concentrado - hoje em dia o risco está por todo o lado”, afirmou hoje à agência Lusa António Saraiva, da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP).

O responsável disse que as vendas “estão-se a ressentir e irão ressentir-se ainda mais porque está tudo a parar”.

O negócio dos vinhos é a base da economia na Região Demarcada do Douro e, em 2018, representou cerca de 555 milhões de euros.

Segundo dados do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), entre janeiro e outubro de 2019, a região vendeu cerca de 10 milhões de caixas de nove litros de vinho das várias categorias, com destaque para vinho do Porto e Denominação de Origem Protegida (DOP) Douro, que se traduziram num volume de negócio de 450 milhões de euros.

No mesmo período foram comercializadas 6,5 milhões de caixas de nove litros de vinho do Porto, que representaram um volume de negócios de cerca de 300 milhões de euros. Os principais mercados para o vinho do Porto são a França, Portugal e Reino Unido.

Na AEVP, uma associação de serviços, todos os funcionários estão em teletrabalho e as empresas do setor estão a implementar planos de contingência.

Um pouco por todo o Douro, quintas e adegas estão a cancelar provas de vinhos e visitas turísticas, o trabalho dos comerciais e as viagens.

Olga Martins, da Lavradores de Feitoria, empresa que resulta da associação de produtores durienses, salientou a “dificuldade de mobilidade pelo mundo fora”.

Um dos sinais de alerta para o setor chegou com o adiamento da Prowein, uma das maiores feiras de vinhos do mundo, que deveria realizar-se este mês em Dusseldorf, Alemanha.

“Cerca de 80% do nosso negócio é feito na Prowein”, salientou.

Olga Martins disse que “resta muito pouco mercado para visitar” e salientou também a “necessidade de proteger as equipas”.

“Não queremos expor ninguém a riscos desnecessários e temos que ser um bocadinho inventivos e arranjar soluções, mas que vão ficar muito aquém daquilo que nós gostaríamos de conseguir este ano”, referiu.

A alternativa tem passado por reuniões online e por enviar por correio as amostras de vinhos.

A Lavradores de Feitoria aumentou este ano a equipa para trabalhar o mercado asiático, no entanto, as negociações encetadas com novos clientes, ainda em 2019, estão paradas.

“Estou com muito receio até pelo momento, porque no primeiro semestre do ano é quando se faz o negócio e se planifica o ano todo. Ainda que as coisas se resolvam, o segundo semestre irá mitigar alguma coisa, mas não resolver uma grande crise que as empresas irão atravessar”, salientou.

Em 2019, as exportações representaram cerca de 55% do negócio da Lavradores de Feitoria tendo como principais mercados o Canadá, Noruega, Suíça, EUA e Brasil.

O plano da empresa era chegar, em cinco anos, aos 75% do peso da faturação, um valor que Olga Martins considerou que vai ter de ser revisto em baixa.

“O ano de 2020 vai mudar muito este paradigma. Temos que equacionar que vai ter que ser mais lento”, frisou.

Na Adega Cooperativa de Sabrosa foram tomadas medidas preventivas de desinfeção e higienização regulares que têm em vista proteger os funcionários, os sócios, que são maioritariamente idosos, e os clientes.

As saídas do comercial foram canceladas, tal como as viagens ao exterior para promoção dos vinhos e os produtos que chegam ficam sujeitos a uma quarentena num local reservado para o efeito.

Celeste Marques, da Adega de Sabrosa, no distrito de Vila Real, referiu que já se verificou uma quebra nas vendas na loja da cooperativa e salientou a incerteza que se vive porque “não se sabe até quando se vai manter a situação”.

A responsável referiu que as exportações valem cerca de 30% da venda de vinho da adega e lembrou o projeto de internacionalização que está em curso.

No entanto, apontou que se preveem “dificuldades em crescer porque também não se consegue promover os produtos”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na semana passada que o epicentro da pandemia do novo coronavírus passou da China, origem do surto, para a Europa, onde diversos países acionaram já o fecho das fronteiras.



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