A tecnologia blockchain surgiu em 2008 como suporte na criação e comércio de moedas digitais tais como a bitcoin, e desde então, a sua aplicação tem vindo a expandir-se a novas indústrias e sectores.

Blockchain é uma plataforma de software que permite a transferência e verificação de qualquer produto digital, seja este uma criptomoeda ou um documento, esse processo é feito através de uma grande rede de computadores. Uma das maiores vantagens desta tecnologia reside no facto de que qualquer registo criado na plataforma de blockchain é inalterável e a sua autenticidade pode ser verificada por qualquer entidade autorizada em vez de apenas uma única autoridade centralizada.

Espera-se que o blockchain possa ser aplicado em mais de 36 indústrias diferentes, desde serviços de segurança, imobiliário, registos públicos e governamentais, educação e serviços de saúde para além da sua principal indústria de trading online de criptomoedas. Com a atual situação do Reino Unido e a sua saída da União Europeia, blockchain tem sido sugerida como possível solução para as negociações do Brexit e o controlo de fronteiras da República da Irlanda, de modo a controlar a passagem de passageiros e bens sem infringir o acordo de Belfast. Visto que o blockchain já começa a ser direcionado para solucionar problemas político-económicos, prevê-se que também possa ser utilizado para ajudar a gerir e melhorar a atual situação dos refugiados.

Atualmente, uma grande facção dos refugiados ao redor do mundo procuram escapar de situações de guerra civil, como é o caso da Síria, ou de países cuja situação económica e política é extremamente precária, como a Venezuela. Solon Ardittis, diretor geral da Eurasylum, uma empresa internacional de consulta especializada em políticas de imigração e asilo, defende que o blockchain pode trazer a transparência e prestação de contas necessárias para os refugiados e programas de migração. Blockchain foi assim sugerido para solucionar diversos dos obstáculos que são apresentados aos indivíduos que procuram refúgio noutros países.

Uma situação exemplar é a dos passaportes e outros documentos de identificação. Quando os refugiados são forçados, em muitos casos, a abandonar as suas casas à pressa, muito deixam para trás documentos importantes como certificados de nascimento, passaportes e certidões de casamento. Este tipo de documentação é quase impossível de ser recuperada, assumindo que não tenha sido sido já destruída. Estatísticas indicam que cerca de 70% dos refugiados da Síria não possuem qualquer tipo de identificação básica, o que dificulta seriamente o processo de imigração e refúgio. É aqui que o blockchain pode ter um papel fundamental para ultrapassar esta barreira dada a sua capacidade de armazenar e transferir quantidades ilimitadas de informação. Visto que a informação disponibilizada em blockchain não pode ser modificada ou falsificada, informação sobre identificação pessoal poderia ser disponibilizada nesta plataforma para confirmação de identidade. Refugiados poderiam assim autenticar as suas identidades e a das suas famílias através de dados bancários, contratos assinados, candidaturas à universidade e outros, a partir do momento em que o governo utilizasse este método digital de autenticação de identidade. Também a Bitnation, uma empresa pioneira neste conceito, procura assistir refugiados com documentos de identificação digital a partir de blockchain.

O mesmo conceito pode ser utilizado para outros obstáculos como a falta de emprego e controlo do suporte monetário para refugiados. Com milhões de refugiados a necessitarem dos apoios fornecidos por organizações não governamentais, por vezes é difícil verificar todas as transações feitas em nome de tais organizações de modo a certificar o uso correto dos fundos atribuídos. Como tal, o Programa Mundial Alimentar das Nações Unidas direcionou os seus recursos para a implementação de um programa de Ethereum blockchain. Esta iniciativa viria a ajudar milhares de refugiados da Síria ao distribuir vouchers de criptomoedas que pudessem ser utilizados em mercados aderentes, permitindo assim um melhor controlo de gastos monetários e ainda detecção de possíveis fraudes.

Com a transparência e verificação de transações em tempo real que a tecnologia blockchain permite, o processo de gerar vistos de trabalho para que refugiados consigam lidar com empresas diretamente para pequenos trabalhos ou posições permanentes seria muito mais rápido, para além de também permitir fornecer apoio no pagamentos de impostos assim que o salário for pago.



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