Um grupo de pelo menos oito abutres-pretos foi registado por câmaras de fotoarmadilhagem a alimentar-se no Parque Natural Douro Internacional (PNDI), em Mogadouro, divulgou hoje a associação Palombar, considerando tratar-se de “um recorde” naquela zona.

"A presença de abutres-pretos é frequente nos campos de alimentação de aves necrófagas (CAAN) e, ao longo dos últimos anos, foram registadas pela Palombar sessões de alimentação com cinco a sete indivíduos ao mesmo tempo, e agora foi atingido um novo recorde”, com pelo menos oito aves, indicou à Lusa o biólogo da Palombar José Pereira.

Aquele especialista em avifauna não tem dúvidas de que se trata do maior número de indivíduos desta espécie ameaçada até agora observado num campo de alimentação para aves necrófagas gerido pela Palombar "num único dia".

Segundo o também presidente da Palombar, o abutre-preto tem um estatuto de "Criticamente em Perigo" de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, e só há três núcleos reprodutores da espécie no país.

"O registo foi realizado num CAAN gerido pela Palombar junto à aldeia de Bruçó”, no concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, no âmbito do projeto "LIFE Rupis" em território do PNDI, onde, até ao momento, estão identificados "apenas dois casais nidificantes desta espécie", indicou o especialista em avifauna.

Os oito abutres-pretos que frequentaram esse CAAN foram registados no dia 07 de maio de 2020 e, de acordo com José Pereira, o grupo pode, no entanto, ter sido superior, visto que há várias imagens com um número variado de indivíduos da espécie em que não é possível confirmar.

"Não temos a perceção se os indivíduos se repetem ou se são novos. Os exemplares registados estiveram cerca de duas horas a alimentar-se e a descansar no CAAN", vincou.

Segundo os estudos realizados pela Palombar e outros organismos ligados à avifauna ibérica, o abutre-preto extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70 do século XX.

"No entanto, a espécie manteve-se presente na faixa fronteiriça das regiões centro e sul, com indivíduos provenientes de Espanha", concretizam os estudos efetuados.

Só em 2010 o abutre-preto voltou a nidificar em Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional.

Em 2012, registou-se o primeiro casal nidificante no PNDI e, em 2019, o segundo.

"No território nacional há, atualmente, apenas três núcleos reprodutores de abutre-preto: um no PNDI, um no Alentejo e um no Tejo Internacional, onde se encontra a maior colónia", explicou José Pereira.

Apesar de não ser possível saber a proveniência dos exemplares registados, esse aumento observado no número de efetivos da espécie representa uma esperança de que possa nascer, a longo prazo, uma nova colónia no PNDI.

As principais ameaças à conservação do abutre-preto são a mortalidade por envenenamento ou por colisão ou eletrocussão, o abate ilegal, a redução da disponibilidade de alimento, a degradação do habitat de alimentação e de nidificação e a perturbação humana.

 

O abutre-preto é a maior rapina da Europa, podendo ter uma envergadura de asa de quase três metros.

"Mesmo à distância, o seu tamanho é notório", indica o biólogo.

O habitat preferencial do abutre-preto são regiões remotas de difícil acesso e pouco humanizadas.

Esta ave é quase exclusivamente necrófaga, pois alimenta-se principalmente de carcaças de médio e grande porte.

O abutre-preto encontra-se associado às zonas de aproveitamento silvopastoril, onde ocorre a criação extensiva de gado bovino e ovino.

Os abutres aproveitam as correntes de ar térmicas para voarem a grande altitude para procurar alimento.

 

 



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