O deputado Miguel Tiago vai trocar, durante dois dias, o assento na bancada parlamentar do PCP pelo banco de uma potente mota. Ao lado do ex-deputado Rodrigo Ribeiro (PSD), o comunista vai percorrer mais de 1.000 quilómetros numa prova que atravessa o país «de lés-a-lés».

A constituição da equipa não é, no entanto, uma \"aliança política\", afirmou à Lusa Miguel Tiago, de 29 anos. O deputado comunista e o ex-eleito pelo PSD têm em comum a paixão pelas motos e o facto de terem sido autores de projectos de lei envolvendo motociclos.

O diploma do PCP está actualmente em discussão na especialidade e, se for aprovado ainda na actual legislatura, como esperam os comunistas, vai permitir aos condutores com carta de automóvel conduzir motociclos até 125 centímetros cúbicos sem necessitarem de mais exames ou aulas de condução.

No dia da discussão do projecto de lei comunista na Assembleia da República, no mês passado, as galerias destinadas ao público estavam cheias de coletes de cabedal e lenços coloridos, \"fardas\" típicas de \"motards\" que apoiaram a proposta e desafiaram Miguel Tiago e Rodrigo Ribeiro a participar na prova \"Portugal de Lés-a-Lés\".

A prova decorre na sexta-feira e no sábado, partindo de Boticas (Trás-os-Montes) com destino a Olhão (Algarve).

Trata-se de um desafio para o recém-motociclista, que só há cinco anos comprou a sua primeira mota. A viver em Setúbal e cansado das filas de trânsito, o deputado decidiu investir num veículo de duas rodas e percebeu logo que dificilmente voltaria \"a pegar num carro\".

A prova vai levar os dois políticos, que constituem a equipa número 114, a percorrer mais de mil quilómetros, \"sempre por estradas secundárias, de maneira a que os participantes tenham a possibilidade de conhecer pequenas localidades, monumentos e paisagens naturais\", alguns em locais ermos, onde de outra forma dificilmente iriam.

Apesar de não ser uma prova para profissionais, Miguel Tiago fez questão de se preparar.

\"Já fui experimentar uns caminhos mais difíceis, numa mota todo-o-terreno, para ver como reajo\", descreveu. De resto, o treino faz-se \"no dia-a-dia\". Além dos cerca de mil quilómetros semanais que faz, o deputado está habituado a realizar \"viagens muito longas pelo grupo parlamentar do PCP, sempre de mota\".

Sem GPS, a equipa de políticos-motards vai guiar-se por \"mapas, muitos mapas\", e pelo \"road-book\" cedido pela organização aos participantes ou, no pior dos casos, fia-se nos outros concorrentes.

Se na equipa de Miguel Tiago e Rodrigo Ribeiro as diferenças políticas não contam, também a proposta do PCP, que pretende ser um estímulo à utilização dos motociclos, reuniu a unanimidade de todas as bancadas parlamentares.

\"Há uma directiva europeia que aponta nesse sentido, aprovada desde 1991. Em Portugal nunca foi aplicada, contrariamente ao que acontece a outras directivas que rapidamente são implementadas. Praticamente todos os países da União Europeia já a aplicaram\", explicou Miguel Tiago, destacando as vantagens do uso de motos: maior qualidade de vida das pessoas, menos tempo perdido nos transportes, estacionamento mais barato, poupança energética e de combustíveis.

\"Esta proposta é para facilitar a vida às pessoas e não para impor mais burocracia e condicionantes\", afirma. \"A ideia é que possa ser dado um estímulo. Ao ficar mais barato, mais fácil, mais acessível, a pessoa possa, se entender, adquirir um pequeno motociclo, para as suas deslocações diárias.\"

São argumentos que há muito convenceram o deputado.

\"Hoje só pego num carro mesmo em último recurso, e é se estiver a chover granizo\", brinca Miguel Tiago, que garante que ganhou duas horas úteis por dia desde que encurtou os tempos de trajecto para 35 minutos.



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