As populações de quatro aldeias de Boticas e Vila Pouca de Aguiar reclamam a reposição das pequenas pontes que atualmente utilizam para atravessar o rio e que vão perder por causa da barragem do Alto Tâmega.

Entre Sobradelo (Boticas) e Capeludos (Vila Pouca de Aguiar) existe um pontão de cimento para passagem de carros e peões, e entre Veral (Boticas) e Monteiros (Vila Pouca de Aguiar) o atravessamento do rio Tâmega é feito por uma ponte pedonal de arame.

Com a construção da barragem do Alto Tâmega, uma das três que constitui o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET), concessionado à espanhola Iberdrola, as passagens podem deixar de existir.

“Este pontão faz-nos falta como de pão para a boca”, afirmou Maria da Conceição Silva, de 75 anos e residente na aldeia de Sobradelo.

Vive na aldeia do concelho de Boticas, mas tem duas filhas casadas e terrenos a pouco mais de dois quilómetros, do outro lado do rio, já em Vila Pouca de Aguiar.

A vida destas populações cruza-se e completa-se. Vão a festas, a funerais, trabalham de um e do outro lado, convivem. Ali existiam umas poldras de pedra que atravessavam o rio e depois, há cerca de 20 anos, as autarquias dos dois lados construíram aquela estrutura onde passam veículos.

Mário Muta Granja, 66 anos, ajudou na construção do pontão e garantiu que este “é muito importante”. “Se estamos atrasados e se nós tirarem isto, mais atrasados ficamos”, salientou.

O presidente da Junta de Capeludos, António José Machado, salientou que, sem esta passagem, será preciso percorrer cerca de 60 quilómetros para ir e voltar de uma aldeia à outra.

“A nossa sobrevivência é praticamente da agricultura. Muitas pessoas não têm carro para irem dar a volta e para os tratores fazerem esta distância fica dispendioso e cansativo”, salientou.

O presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado, disse que “houve um lapso” porque esta passagem não está expressa na Declaração de Impacto Ambiental (DIA) do Sistema Eletroprodutor do Tâmega e, em consequência, “não surgiu daí a obrigação de reposição”.

O autarca defendeu que “ainda há tempo para corrigir o lapso” e referiu que foi pedida a revisão da avaliação e exposta a questão à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) e à Agência Portuguesa do Ambiente.

Sara Hoya, da concessionária, referiu que foi pedido à Iberdrola um novo estudo sobre a “real utilização dos acessos” e que terá de ser, agora, a APA, a pronunciar-se sobre esse assunto.

A responsável disse que, por sua vez, a ponte de arame entre Veral e Monteiros estava contemplada na DIA, mas como um “elemento patrimonial”, pelo que a Iberdrola terá que a recolocar num outro local, sem que tenha que servir de ligação entre as duas margens.

As populações não aceitam ficar sem a passagem pelo Tâmega e exigem a sua substituição.

Iria da Silva tem 70 anos e é de Veral, mas tem família e terrenos em Monteiros, pelo que garante que utiliza a ponte de arame “muitas vezes”.

“Esta travessia arranja toda a gente. Faz muito jeito para tudo”, defendeu.

A viver em Monteiros, Maria de Fátima Silva, 73 anos, disse que “a coisa que as pessoas daqui mais querem é uma ponte”. O ideal seria, na sua opinião, uma “travessia que desse também para carros”.

Afirmou ainda que, sem a ponte, as aldeias ficam separadas por “70 quilómetros”.

O presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado, referiu que os autarcas dos dois concelhos estão a lutar por soluções que “possam repor a mobilidade” entre os territórios através de uma nova ponte ou, por exemplo, uma alternativa rodoviária até Parada de Monteiros, onde o atravessamento do Tâmega poderá ser feito pelo paredão da barragem.

O Sistema Eletroprodutor do Tâmega é um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, contemplando a construção de três barragens (Daivões, Gouvães e Alto Tâmega), 1.500 milhões de euros de investimento e a criação de 13.500 empregos diretos e indireto durante o período de maior volume dos trabalhos (2018-2020).



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