«A sociedade moderna tem de usar a sua inteligência para encontrar formas de reutilizar as velhas memórias». A convicção do investigador Alexandre Parafita assenta numa base de receio as gerações mais velhas vão desaparecer e poderão levar consigo este acervo oral, caso não sejam encontrados mecanismos que garantam a sua preservação.
Este é um problema que será discutido, hoje, em Tabuaço, no primeiro Fórum do Património Imaterial do Douro. Vários especialistas na matéria vão tentar encontrar novos desafios para as velhas memórias.
A iniciativa é do Museu do Douro e da Autarquia local e está integrado no projecto-piloto iniciado este ano e que visa fazer o levantamento, salvaguarda e estudo do Património Imaterial da Região Demarcada do Douro. O concelho de Tabuaço é muito rico nesta área, daí ser o primeiro inventariado.
O responsável pelo trabalho de campo, Alexandre Parafita, tem dedicado grande parte da vida académica à recolha em livro deste tipo de património. \"Testemunhos do passado que continuam a fazer sentido nos dias de hoje\".
Os romanceiros e os cancioneiros estão a desaparecer porque se extinguiram as segadas, desfolhadas, espadeladas, malhadas, rogas, pastoreio, entre outras actividades ligadas ao mundo rural. As lendas e os contos também levam o mesmo caminho, bem como muitas práticas e rituais ligados à medicina popular rezas, mezinhas, superstições, agouros e orações populares.
\"Este património imaterial é o que distingue o Douro de qualquer outra região, em termos de identidade\", entende Parafita, avivando que por trás das paisagens únicas estão as pessoas.
O investigador tem escrito vários livros sobre a temática, mas concede que este é o \"último recurso. O importante é preservar a memória através de museus, em que existam réplicas de situações em que essa memória fazia sentido\". Refere-se, nomeadamente, a actividades agrícolas que já não existem.
O fórum vai também homenagear e diplomar nove personagens de Tabuaço, com idades entre 57 e 82 anos, autênticos \"narradores de memória\".
