A Casa do Douro (CD) vai alienar a maioria dos 40% do capital que detém na Real Companhia Velha. A venda vai servir para pagar as dívidas ao Estado, superiores a 40 milhões de euros, relativos a impostos e dívidas avalizadas. A este fim fica destinado 85% do total do capital conseguido com o negócio, conforme proposta apresentada unilateralmente pela instituição duriense, em Fevereiro de 2005.

Em simultâneo, a CD deverá participar no capital social de uma nova empresa a constituir, destinada à produção, elaboração e comercialização de vinhos com denominação de origem e indicação geográfica da Região Demarcada do Douro.

A intenção já foi apresentada ao Conselho Regional de Vitivinicultores da Casa do Douro, ontem, em Peso da Régua, tendo sido convocada nova reunião para o próximo dia 12, onde a proposta será discutida e aprovada.

O presidente da Casa do Douro, Manuel António Santos, ouvido pelo JN, recusou comentar o negócio. No entanto, apurámos junto de várias fontes que a CD tem já um parceiro definido para a operação, ainda por revelar.

A nova empresa a criar, em conjunto com a Real Companhia Velha, permitirá escoar parte significativa da produção de vinhos da região, a começar pelos vinhos dos cerca de 35 mil pequenos produtores inscritos na CD.

A Casa do Douro tem dívidas acumuladas ao Estado e à banca na ordem dos 125 milhões de euros e vive em situação aflitiva, em termos económicos, há quase duas décadas. A crise agravou-se na sequência da aquisição de excedentes para evitar a queda dos preços em anos de produção excepcional no final da década de 80; da perda de competências atribuídas pelo Estado; e da declaração de nulidade do negócio de compra de parte da Real Companhia Velha, por 50 milhões de euros, em 1990, onde a CD nunca assumiu verdadeiramente a gestão dos seus 40%. Até agora.

Recentemente, a CD vendeu nove mil pipas de vinho do Porto ao grupo Fladgate Partnership, e cinco mil pipas ao grupo Gran Cruz, encaixando 21 milhões de euros. Dois dias depois de conhecido o negócio, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, na tutela do Ministério da Agricultura, rescindiu o contrato que pagava pela utilização do cadastro (850 mil euros anuais em duas prestações). A verba representa metade das receitas normais da instituição e o suporte laboral de quase uma centena de trabalhadores. A CD já anunciou que vai agir judicialmente contra esta rescisão.



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