O artista digital de ascendência portuguesa Michel Serviteur foi buscar à sua infância e às raízes transmontanas as «cores emocionais» com que preencheu o tempo no seu relógio para o iPhone, a que chamou «Hora a Cores».

A “Hora a Cores” (“Heure en Couleurs”), interceção da arte digital com a programação informática, é uma das criações de Michel Serviteur em torno do conceito de uma experiência emocional do tempo, da distância e da velocidade.

“Eu tive sempre uma relação particular com o tempo, de muita ansiedade. Um dia escrevi aqui, por cima da lareira: «Putain, tu n est pas à l heure’», explicou o artista à Agência Lusa na sua casa-estúdio de Enghien-les-Bains, na periferia norte de Paris.

“Foi então que comecei a desenhar na parede e a fazer estes redondos com cores. Vi que era a forma do relógio e que havia cores no sítio das horas mas isso não era suficiente. A minha vontade era mesmo de deixar as agulhas, para ficar com as cores de cada dia, a luz, as sombras”, acrescenta o artista.

As “agulhas”, isto é, os ponteiros, ficaram de fora neste relógio virtual para o iPhone, que mantém a orientação cartesiana do mostrador redondo mas onde cada fração de cinco minutos foi substituída por um segmento colorido e pulsante.

Assim como não há “agulhas”, também não há números. O avanço da hora vai sendo dado pela coloração do interior do círculo, seguindo a ordem das cores de cada fração de cinco minutos.

Na “Hora a Cores”, explica Michel Serviteur, “não há urgência. Segundos e minutos apenas servem para criar stress e este relógio é feito para nos libertar disso. Urgência é só quando temos a vida de alguém para salvar,”, conta o artista digital.

Michel Serviteur sublinha que “o segundo é a base da nossa economia e constitui uma relação com a cadência, a contabilidade e a rentabilidade. O que é triste nesta relação mecânica, económica, é que o ser humano tem tendência a associar-se ao tempo da máquina”.

A hora a cores “transmite uma vontade de escapar ao segundo e ao minuto, espécie de escravidão à mecânica iniciada na Revolução Industrial”.

Foi na mesma linha que Michel Serviteur desenvolveu o “Equilíbrio-Velocidade”, espécie de conta-quilómetros emocional para o BB1, o protótipo do carro elétrico da Peugeot, onde “o ritmo, e não o algarismo, é que modela a noção de maior ou menor velocidade”.

Michel Serviteur consegue localizar exatamente o ponto de nascimento da “Hora a Cores” e do “Equilíbrio-Velocidade”, situando-se na “região de Ribeira de Pena”, onde nasceu toda a sua família, onde ele viajou de férias em criança e de que recorda as cores diferentes do dia, feito de sucessivas temperaturas.

“A metrificação do tempo vai ser ultrapassada. Amanhã, quando o Homem for a Marte, o tempo será medido pelas emoções de quem viajar. Eu é que tenho razão”, conclui o artista.



PARTILHAR:

Três homens, de 21, 25 e 39 anos

Escolas centenárias à beira do fim