Governo helvético decidiu restringir a entrada de imigrantes de países da União Europeia. Entre Janeiro e Agosto de 2012 emigraram para a Suíça mais de 12.300 portugueses.

Deolindo Moreira reconhece que todos têm direito a procurar trabalho na Suíça, tal como ele fez há dez anos, mas admite que \"a fartura de portugueses\" está a \"complicar a vida\" a todos os que já lá estão.

\"Para quem cá está [na Suíça], até certo ponto era bom que não entrassem muitos. Agora é claro que para quem vem, era bom entrar, tal como nos fizemos\", afirma à Lusa o emigrante português de 43 anos, numa altura em que o Governo suíço deve decider se vai ou não limitar os títulos de residência, de curta e longa duração, a atribuir para efeitos de trabalho aos cidadãos dos 17 países da Zona Euro, incluindo Portugal.

Natural da Póvoa de Varzim, Porto, onde trabalhava como pintor de automóveis, Deolindo Santos Moreira emigrou em 2003 depois de o seu patrão ter sido \"obrigado a fechar o negócio, porque os clientes não pagavam. “Como tinha 33 anos, decidi arriscar e inscrevi-me numa agência de trabalho (...) Nem sabia para onde ia nem para que lado era a Suíça\", lembra. Arranjou um emprego numa exploração agrícola no cantão bilingue de Friburgo, onde uma década depois continua a trabalhar, já como efectivo.

Um trabalhador sazonal novato começa por receber um salário líquido de aproximadamente 2.500 francos (cerca de dois mil euros), aquém do que receberia um suíço, mas \"suficiente para viver uma vida tranquila\", explica.

\"É um bom dinheiro, mas começamos todos os dias às seis da manha. Trabalhamos 11 horas por dia, também ao sábado. E chegamos a fazer semanas de 65 - 70 horas\", conta.

Não falta pessoal. “Sai um aparecem 20”
Quando chegou à Suíça, conta, os patrões ainda tinham dificuldade em arranjar mão-de-obra para os campos. \"Agora não falta aqui pessoal a bater à porta a pedir trabalho. Com a fartura de portugueses que vem cá para cima, a situação está mais complicada\", alerta. É sobretudo da zona Norte, Felgueiras, do lado da Guarda, Lamego, mas também de Viseu que mais pessoas chegam, diz.

\"Muitos arriscam vir com a mulher e com os filhos, sem terem absolutamente nada. Nenhum emprego em concreto. Quando dá para o torto, ficam a dormir nos carros até arranjarem trabalho. Está mesmo mau\", lamenta.

Também para \"os emigrantes que já lá vivem\", porque \"havendo tanta mão-de-obra disponível a pressão dos patrões aumenta\".

O emigrante refere que quando uma pessoa não agrada ou não trabalha à maneira do patrão é logo afastado. \"Sai um, aparecem 20\", explica Deolindo, que na semana passada viu o seu visto ser renovado por mais cinco anos.

O Governo suíço decidiu manter durante mais um ano as restrições à entrada de imigrantes da Europa central e oriental, alargando-as a partir de Maio a todos os cidadãos de países da União Europeia. O Conselho Federal decidiu activar uma cláusula de salvaguarda prevista no acordo sobre livre circulação de pessoas assinado com a União Europeia em 2002.

Entre Janeiro e Agosto de 2012 emigraram para a Suíça mais de 12.300 portugueses. A comunidade no país está estimada em 240.000 pessoas.



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