Nunca sentiu dificuldade em se adaptar onde quer que fosse. Mesmo tendo vivido em locais tão diferentes como Gaia, Lisboa, Rio de Janeiro, S. Paulo, Nova Iorque, Paris e Amesterdão - cidade que é «sua» há meio século e onde nasceu como escritor. \"A minha curiosidade sempre foi grande e fascina-me ainda a variedade de seres e lugares\" - assim justifica uma certa vocação para a errância.

Hoje com dupla nacionalidade, não acha que lhe assente o rótulo de emigrante. \"Nem fugitivo ou refugiado\", se bem que foram razões políticas que inicialmente o levaram a deixar Portugal, em Novembro de 1950, e só em 1964 o deixaram voltar a entrar. Foi antes \"uma bola que o destino chutou para vários lados, com intenções que ainda não descobri\".

Na dupla qualidade de alguém que vive entre culturas e abraçou a criação literária, recorre a uma definição clássica do escritor centenas de personagens tentando desesperadamente ser um só. Acrescentando a isso várias famílias (a da mulher e filhas) com tradições, hábitos e línguas diferentes, o resultado \"é um bocado desnorteante\". Um tanto esquizofrénico, chega até a considerar.

Não consegue avaliar até onde chega a influência das raízes no conjunto da sua obra. Salienta que, retiradas duas ou três excepções, escreve em português. Com a particularidade de os seus livros serem primeiro publicados em holandês. Aliás, são escassas as obras que entraram no mercado nacional, apesar do reconhecimento que a Holanda lhe dedica.

Não que entidades oficiais lhe tenham negado condecorações. Em 1991, Mário Soares distinguiu-o como comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pela sua contribuição para a cultura portuguesa. No ano seguinte, foi a vez da Câmara de Vila Nova de Gaia lhe conceder a medalha de ouro da cidade.

Ainda assim, afirma com naturalidade que medalhas e comendas lhe dizem pouco. \"Tive um avô sapateiro e outro guarda-fiscal. A mim e à gente de onde venho, nada disso faz impressão\". Verdadeiras condecorações são as que lhe dirigem a crítica e os leitores. Se bem que acha \"graça\" à recordação de quando, há dois anos, \"com capa, cartola e insígnias\", o fizeram grão-louvado da Confraria Queiroziana.

Distantes vão os anos em que fez um pouco de tudo para viver. Chegou a Amesterdão como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil, mas depois disso experimentou tempos difíceis, como vendedor de revestimentos de telhados e negociante de café. Para satisfazer a paixão pelo jornalismo, colaborou durante largos anos com vários jornais portugueses e brasileiros.

Hoje, divide o tempo entre Amesterdão e Trás-os-Montes. Geralmente temporadas de três meses em cada lado. A Internet assegura o contacto permanente aos dois países, assim como à Imprensa do Mundo.

Amanhã Rui Reis, director regional de cadeia de hotéis na Polinésia

BI

Nome
J. Rentes de Carvalho

Idade

77 anos

Naturalidade

Nasceu em Vila Nova de Gaia, mas as raízes são transmontanas - Estevais, Mogadouro.

Residência
Amesterdão

Bibliografia

Escrita quase na totalidade em português, mas publicada primeiro (e quase só) em neerlandês. Incorporada desde a 9.ª edição na \"Grote Winkler Prins Encyclopedie\", a mais antiga (1870) enciclopédia holandesa.

Vida docente

Ensinou Literatura Portuguesa durante mais de duas décadas, entre 1964 e 1988.



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Natural dos Estevais, Mogadouro

Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Mirandela